CAPÍTULO 4

A tarde daquele dia foi chegando rápido e o incomodo começou em meu corpo, hoje seria lua cheia e meu lobo estava louco para sair. Terminei o serviço mais rápido esperando ser liberado mais cedo, eu precisava ir em casa e depois seguir para um lugar afastado da floresta. O medo dessa noite era tão doloroso quanto a possível transformação, ela esteve aqui. A floresta estava em silêncio desde a chacina, nem as folhas balançavam, não tinha vento, não tinha vida. Ela arrancou a vida de tudo apenas com sua presença.

Era difícil acreditar que em meio aquele caos sobrevuvesse alguma coisa, sua sombra era a morte. A lembrança do frio daquela noite sempre me fazia tremer, era como se estivesse vivendo tudo novamente. E se estiver a minha procura? Quinze anos não são nada para ela, o demônio da capa continua perseguindo alcatéias pelo mundo e está aqui, tão perto que eu sinto aquela brisa gélida sombria no ar.

- Pode ir, Alan! - não esperei que falasse novamente. Assim que o senhor Johnson me liberou peguei uma moto velha que vivia parada la na oficina, o dono já tinha desistido de concerta-la e por isso ficou a mercê dos funcionários. Minha casa não era tão distante, mas eu precisava voltar logo. O sol já começava a dança para se por.

Ent,rei naquele pequeno buraco que eu carinhosamente chamo de casa e coloquei roupas limpas em uma mochila, água e comida. Deixei uma mensagem para Billy avisando que eu não estava me sentindo bem e provavelmente chegaria atrasado amanhã no trabalho. Sem mais nada há fazer tranquei a porta e montei na moto velha. As ruas paralelas eram m eus alvos por conter praticamente nenhum policial a vista, eu tinha carteira mas esqueci totalmente do capacete, estava apressado.

Embora as ruas paralelas fossem mais distantes da floresta eu consegui chegar antes que a lua nacesse, normalmente eu espero até que ela chegue em seu ápice para começar a transformação. Estacionei a moto atrás de umas plantas altas afim de que ninguém saia me caçando mata a dentro mais tarde, junto dela deixei a mochila para me trocar pela manhã. A lua já começava a mostrar seus efeitos sobre mim, o suor acumulava no pescoço e os cachos dourados estavam lisos e presos a testa como se eu tivesse tomado banho.

Com passos largos comecei a andar para dentro da floresta procurando um lugar afastado o suficiente para que ninguém me escute. Os sentimentos começaram a chacoalhar dentro de mim como um enjôo e acabei vomitando perto de uma árvore, o medo e o nervosismo faziam isso comigo. Eu só não queria que o demônio estivesse aqui, seria tão mais fácil, tão menos doloroso. Tragicamente me lembro da minha primeira transformação, eu estava sozinho e assustado, queria parar o que estava acontecendo mas era impossível ninguém consegue parar uma transformação.

A coluna revirou e eu acabei cuspindo sangue e urrando de dor, a lua estava mais próxima. Me sentei na raiz de uma árvore grande que parecia as árvores dos mitos da vida. Minha árvore preferida em toda a floresta, toda a noite de lua cheia eu sentava aqui e esperava a dor vir. Os cortes começaram a aparecer dolorosamente em minha pele mostrando os pelos dourados por baixo dela, uma bênção? Uma terrivel maldição. Não existem princesas ou herói lobo, não existe fantasia ou um mito romântico por trás da dor, é apenas a dor. A terrivel dor.

Ele forçou a saída e os cortes foram almentando de tamanho, imagine o desespero de ver sua pele rasgando bem diante dos seus olhos, de ver pedaços seus caindo em sua frente, o que tem de romântico nisso? Não consigo ver. Os ossos revirando para se tornar idêntico ao de um lobo, uma fenda rasgando sua visão para que ojtroa olhos nascam no lugar, olhos vermelhos e intensos tanto quanto a capa do demônio. Eu comecei a retirar as minhas roupas o mais rápido que pude, embora as unhas fizessem questão de rasga-las sem querer.

Os ossos das pernas começaram a quebrar e uma dor rasgou por dentro de mim, tudo estava tomando seu lugar. Aprendi com o tempo que aceitar a dor é necessário para a transformação ser tranquila, mas era difícil aceitar isso. Lágrimas rasgavam a minha alma enquanto o lobo dourado forçava saída de dentro de mim, evitava gritar mas os urros da dor dilacerante era quase impossível de segurar. Não era bonito.

Senti a pele do meu rosto ser esticada e rasgada a um ponto que um humano comum morreria de dor, gritei até que o grito se transformou em uivo alto e estrindente de um lobo solitário. O resto de mim caia ao meu redor, toda a pele que antes me cobria agora estava no chão, não sou eu, sou ele agora. Para o ritual ser completo eu tinha que comer a minha própria carne e assim o fiz, devorando o que antes era eu e agora é só resto de algo que fui. Era uma transição, uma renovação talvez. Era a minha vida embora eu não quisesse aceitar na maioria das vezes. Só me restavam alguns minutos de consciência, logo ele tomaria tudo de mim e iria atrás do que quer. E foi nesses minutos restantes que eu senti sua presença, seu olhar sobre mim e o frio da morte que o cerca. O demônio estava aqui tão próximo de mim que aparentava ser palpável.

- Alan?


Leia este capítulo gratuitamente no aplicativo >

Capítulos relacionados

Último capítulo