— Como conseguiu fazer isso? – O rugido furioso de Henrico fez Antonela se encolher.
Ela mal havia colocado os pés em casa e o seu pai já descontava toda a sua frustração.
— Olhe para você – os olhos furiosos dele, passeou por cada centímetro do corpo dela – está uma maltrapilha, desfilando pela cidade com esse vestido de noiva rejeitada. Você é uma vergonha para nossa família.
Francesca se aproximou com rosto vermelho de vergonha, mas Antonela não se deixou abater. Deveria estar acostumada com o modo arrogante que o próprio pai a tratava, mas ela ainda tinha esperança de amolecer aquele coração tão duro, isso se esvaziou quando ela foi abandonada no altar.
— Não fale uma coisa dessa Henrico – Francesca recriminou o marido, com um olhar severo e depois se virou para olhar para Antonela – que culpa a menina tem de ter sido abandonada?
Do outro lado da sala, Alessia, a irmã mais nova, ria baixinho, mas não o suficiente para que todos ouvissem. No fundo, ela vibrava por Antonela não ter se casado com o bilionário da cidade. Antonela, sabendo o quanto a irmã a detestava, abriu finalmente a boca para se defender.
— Você não deveria estar bravo comigo pai – Antonela ficou tão decepcionada que a raiva foi a sua única defesa – eu fui obrigada a me casar com um homem que eu não conhecia e abandonada por ele logo em seguida. Por que não experimenta ir perguntar a ele os motivos de ter te envergonhado?
Henrico ficou sem palavras por alguns segundos, quando se aproximou de Antonela e desferiu um tapa em seu rosto. Aquela era a primeira vez que ele batia nela, embora as palavras que ele dissesse constantemente desse a Antonela a mesma sensação que ela sentia agora. Com o rosto queimando, ela se virou lentamente para olhá-lo e só encontrou ódio no rosto do pai.
— Não deve se esquecer de que ainda mora na minha casa – apontou o dedo tremulo em direção a ela – e esse casamento era a nossa salvação. Se não consegue conquistar um bom marido, a partir de hoje vai trabalhar e ajudar a sustentar a casa.
Aquilo parecia inacreditável. Henrico só visava o dinheiro e conseguia magoar a própria filha para conseguir o que tanto almejava. Antonela sentiu um nó sufocando sua garganta quando se lembrou de que a sua família estava falindo aos poucos, e que se casar com Benjamim Dylon era a única esperança de seu pai.
Ela não via nenhum problema em trabalhar, mas estava cansada do seu pai determinar os seus passos.
— Não é justo! – gritou desconfortavelmente – por que eu tenho que trabalhar e a Alessia não?
— Está querendo me comparar a você, Antonela? – resmungou, dando risos satisfatórios.
— Não sei que diabos você está rindo – instalou os lábios, ficando cada vez mais aborrecida – você acha que tudo o que estou passando é engraçado? Enquanto eu tenho que carregar a família nas costas, você faz o quê? Pinta as unhas?
Alessia deu de ombros, mas o sorriso provocador não saiu dos seus lábios em momento nenhuma.
— Já chega dessa conversa frívola – Henrico interrompeu as duas – Eu não preciso explicar que a Alessia estuda em tempo integral, não pode trabalhar. Por favor, Antonela suba para o seu quarto, antes que eu cometa uma loucura com você.
Antonela apertou a boca em uma linha tênue, porque ela também não foi criada para responder ao seu pai, mas havia coisas pelas quais ela não podia ficar quieta. Ainda assim, se calou porque sabia que aquela conversa não a levaria para outro lugar a não ser o olho da rua.
Girou os calcanhares e começou a subir as escadas quando ouviu Alessia mais uma vez.
— Aproveite e jogue esse vestido de noiva fora – riu mais uma vez – duvido que alguém nessa cidade queira se casar com você, depois de ter sido abandonada no altar.
Antonela engoliu a seco e correu para o quarto. Chorou silenciosamente.
No dia seguinte acreditou que o clima na casa estaria mais tranquilo, mas assim que se sentou para tomar o seu café foi bombardeada com as exigências do pai. Ele jogou um papel na mesa e disse sem pestanejar.
— Você tem uma entrevista de emprego na mesma empresa em que seu tio trabalha – arrancou das mãos dela a xícara de café – se apresse porque você já está atrasada.
Antonela assentiu um pouco perdida, enquanto Francesca parecia inconsolável. Apenas para não deixar a mãe mais aflita, ela decidiu não desobedecer ao pai.
— Posso saber ao menos para qual cargo estou me candidatando? – ela indagou com um tom irônico.
— Vai ser a secretaria particular do dono da empresa – disse ele, já puxando pelo braço dela e a obrigando se levantar.
Antonela estava se esforçando para não desmoronar ali mesmo, mas as palavras de Henrico simplesmente a irritavam. Caminhou até Francesca e a beijou, tentando acalmá-la. Voltou para o quarto e trocou de roupa. Em seguida, ligou para Dominique, para que ela pudesse ajudá-la a ir à entrevista de emprego.
O caminho foi silencioso, como se ela estivesse de luto. Era difícil até pensar naquilo: não poder tomar suas próprias decisões e viver a vida que desejou um dia. Quando o carro parou em frente a empresa, Dominique prontamente se ofereceu a ficar ali com ela.
— Não quero atrapalhar o seu dia – disse demasiadamente desanimada.
— Eu não tenho nada de importante para fazer pela manhã – disse, tentando consolá-la – ter um apoio é importante nesse momento.
Dominique era uma excelente amiga, mas não conseguiria evitar o impacto que as decisões de Henrico estavam causando em sua vida. Ela sorriu, engolindo toda a vontade de chorar. Entraram no elevador e assim que chegaram na recepção, as pernas de Antonela travaram imediatamente. Dominique até achou que ela estava passando mal.
O rosto pálido e os olhos arregalados davam a impressão de que Antonela estava vendo um fantasma.
Ela se agachou e se escondeu por detrás do balcão. O rosto de Dominique ficou vermelho de vergonha.
— O que você está fazendo, Antonela? – se esgueirou para junto dela, segurando em seu braço e tentando colocá-la de pé novamente – parece que viu um fantasma.
— Pior do que isso, amiga – disse e olhou para o homem que estava parando alguns metros de distância – aquele homem é o mesmo que eu encontrei no bar ontem à noite.
Dominique olhou para onde Antonela apontava e ficou imediatamente paralisada com a beleza do homem. Em seguida, se ergueu, olhando nos olhos da secretaria, perguntando.
— Pode me informar como é o nome daquele homem?
— Ah, claro! – ela olhou para o rapaz que Dominique indicava e sorriu, respondendo – é o senhor Benjamim Dylon, o futuro dono dessa empresa.
Antonela fechou os olhos com força ao ouvir essas palavras. Aquilo não podia ser verdade.
Benjamim Dylon, o noivo que a abandonou no altar, era o mesmo homem com quem ela havia ficado na noite passada.
— Precisamos sair daqui – Antonela se rastejou agachada, enquanto agarrava na mão de Dominique e ia pela escada de emergência. — O que você está fazendo amiga? – ela interceptou Antonela no meio do percurso, olhando em seus olhos assustados – você tem uma entrevista de emprego. — Eu não posso trabalhar aqui – disse e, quando sentiu que o coração iria explodir, parou, encostando na parede atrás dela e deslizou o corpo até os degraus – eu sei que o meu pai vai querer me matar quando souber que eu não fiz a entrevista, mas eu não posso trabalhar para o Benjamim. Para o homem que me abandonou no altar e depois, fingindo que não me conhecia, me levou para a cama. — Você não é tão inocente assim, Antonela – Dominique se agachou e, percebendo o desespero da amiga, tentou ser solidária – mas ele é um deus grego, quem resistiria a tanta beleza? Seus olhos se estreitaram em reprovação ao comentário de Dominique. Percebeu que, no fundo, ela só tentava ajudar. Mas naquele caso, não havia mu
Dominique a abraçou quando percebeu Antonela desmoronar em um choro interminável. A vida dela já estava difícil de suportar, agora, descobrindo que estava grávida, se tornaria um inferno. — Precisa contar ao Benjamim a verdade – a sugestão de Dominique fez Antonela recuar, como uma ameaça de vida – ele tem a obrigação de cuidar desse filho depois de tudo o que fez você passar. — Você está louca se acha que eu vou fazer uma coisa dessa – disse, enquanto pegava o copo com a urina e descartava no lixo – aquele homem nem sequer se desculpou com a minha família pela vergonha que nos fez passar. Acha que ele vai aceitar ter um filho comigo? Dominique percebeu que as argumentações de Antonela faziam todo o sentido. — E o que vai fazer então? – parecia impaciente, sem perceber que seus questionamentos só pioravam as coisas – porque a única solução depois dessa, é abortar essa criança. Antonela se assustou com as palavras. Jamais pensaria naquela possibilidade. Um aborto estava fora de qu
— Tem cliente esperando há mais de vinte minutos – Claus, dono da lanchonete, cerrou os dentes para Antonela. Ele estava sempre mal-humorado – se não quiser ser demitida, se apresse. Antonela sentiu um frio percorrer a espinha só de imaginar perdendo aquele emprego. Três anos já havia se passado e ela se recordava de quando havia chegado naquela cidade, apenas com uma pequena bagagem nas costas e um filho sendo gerado em seu ventre. O futuro que a aguardava não era nada promissor, mas ela conseguiu o emprego. Claus acreditou que Antonela era a garçonete perfeita que ele precisava, jovem, bonita e atraente e essas qualidades atrairia muitos clientes para o seu estabelecimento. De certo modo ele estava certo, mas a beleza de Antonela também lhe causou muitas dores de cabeça. Os homens passaram a disputar a atenção da bela ruiva e as brigas ficaram cada vez mais frequentes. Quando Claus soube que Antonela estava gravida, pensou em demiti-la imediatamente, mas ela prontamente lhe prome
Benjamim continuava com a mão estendida esperando que Antonela a segurasse, mas se frustrou quando observou ela se levantar se colocando de frente a ele, enquanto com a cabeça baixa, tentava limpar a sujeira da roupa. Depois de tudo o que havia acontecido entre eles, Benjamim esperava uma recepção melhor. Mas Antonela o ignorou como se ele não existisse. Assim que terminou de se ajeitar, ergueu a cabeça, o olhou pela última vez e girou os calcanhares para partir. Ele não pretendia deixá-la ir, não depois de tudo o que havia acontecido entre eles três anos antes. — Está atrasada para o velório da sua mãe – disse, enfiando as mãos nos bolsos da caça e olhando para ela. Imediatamente, os pés de Antonela se prenderam no chão, como se criassem raízes. Ela travou o maxilar e então se virou, oferecendo a ele um olhar afiado. — Não finja que sabe alguma coisa sobre mim – ela esperou tanto por aquele momento, que mal conseguia se segurar – eu não o conheço e não costumo falar com estranh
Antonela esperava impacientemente que Dominique viesse buscá-la. Em um lugar seguro, onde ninguém da família dela pudesse a ver, ela chorava. Francesca se foi sem saber que tinha um neto. Henrico jamais a perdoaria por ela ir embora e agora Alessia era noiva do pai do seu filho. Quando lembrava dessas coisas, considerava que trabalhar para Claus era um paraíso comparado ao inferno daquela cidade. Observou Dominique estacionar o carro, ainda com o motor ligado. Entrou no veículo silenciosamente, percebendo que Adam não estava com ela. O coração de Antonela congelou no peito. — Não se preocupe, o Adam está seguro – ela disse, ainda assim Antonela não se acalmou – está na companhia da minha mãe. Ela já é uma senhora de idade, mas ainda tem o juízo perfeito. Ela suspirou aliviada, mas permaneceu em silêncio. Era como se ela não soubesse o que dizer sobre tudo o que vinha acontecendo naquele dia. Naquele exato momento, Dominique já sabia que algo não estava certo. Ela conhecia muito be
— Você já pensou em buscar emprego na cidade? – Dominique perguntou abruptamente após ouvir o relato de Antonela sobre perder o emprego de garçonete. Antonela piscou surpresa antes de balançar a cabeça em discordância e responder. — Não – a verdade é que ela não ousou pensar em trabalhar ali, afinal ela não tinha ideia de como manter Adam longe de Benjamim, permanecendo na cidade. Percebendo que Antonela não estava pensando direito nisso, a próxima frase ficou presa na garganta de Dominique. De fato, houve várias ocasiões em que ela se questionou qual a necessidade que havia para que Antonela mantivesse a existência de Adam em segredo, tendo um pai Bilionário que poderia oferecer uma vida digna ao filho. Dominique não entendia por que Antonela não explorava essa possibilidade e tirava proveito da situação. Adam merecia saber que tinha um pai e merecia ser o herdeiro de Benjamim Dylon. — O Adam estará seguro na fazenda – ela resolveu concordar com a loucura de Antonela, para talvez
Um dia inteiro andando pela cidade não foi suficiente para Antonela conseguir um emprego. Ela entregava os currículos, conversava com os donos da loja, mas as portas se fechavam em seguida. Tentou entender por que parecia tão difícil conseguir um emprego naquela cidade, mas não encontrou as respostas. Antonela estava cansada demais para pensar e a fome a deixava estressada. Ligou para Dominique pedindo para vir buscá-la. Embora ela quisesse saber tudo o que havia acontecido naquele dia caótico, Antonela não abriu a boca até finalmente entrar no veículo. — Como está o Adam? - A pergunta, embora normal para uma mãe, deixou Dominique um pouco inquieta. — Ele está ótimo! – olhou para ela, antes de ligar o carro e partir – por favor, diga que tem boas notícias. — Não tenho boas notícias – instalou os lábios com irritação – todas as portas nessa cidade parecem fechadas para mim. Os meus pés estão cheios de calos de tanto andar e não conseguir nenhuma oportunidade. Dominique achou aqui
No luxuoso escritório no centro da cidade, Benjamim Dylon continuava com o celular em mãos enquanto o olhar perdido indicava que, embora ele estivesse presente, sua mente vagava para lugares completamente desconhecidos. Não percebeu quando a secretaria entrou trazendo os lembretes do seu compromisso para aquele dia. Caroline cuidava também da sua agenda pessoal e quando ela informou sobre o evento daquela noite, Benjamim voltou a realidade como se alguém o puxasse de volta. — O que você disse? – ele perguntou, soltando o celular e desviando o olhar até a moça. — O senhor tem um jantar na casa da Alessia essa noite – ela confirmou, fazendo Benjamim coçar a cabeça com preocupação - sei que o senhor pediu para cancelar devido ao funeral da Francesca, mas Henrico não permitiu. Ele ligou essa manhã para confirmar a sua presença. Benjamim se levantou, ajeitando o paletó, pensando em uma maneira de adiar aquele problema. Era o jantar do seu noivado. Ele pediria a mão de Alessia oficialm