Dom Santoro: O herdeiro Italiano
Dom Santoro: O herdeiro Italiano
Por: Janny Santos
Bombolonis de chocolate

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O dia já estava amanhecendo quando Louise retirou o jaleco branco e se jogou na cama. Apesar de estar cansada por ter ficado em um plantão de treze horas que sugou sua energia, ela reuniu todas as forças que lhe sobraram para sair do macio do colchão e ir ao banheiro.

Estava exausta, indisposta e mal-humorada. Um banho longo era tudo o que ela precisava. Podemos dizer que este estava sendo seu estado de espírito ultimamente.

A médica se arrastou até a lavanderia de sua casa, carregando consigo apenas os dois jalecos brancos que usara durante todo o plantão. Pegou um recipiente transparente, despejou uma solução de água e hipoclorito antes de afundar os jalecos ali. Iria deixá-los mergulhados naquela solução por volta de uma hora antes de colocá-los na máquina de lavar. Era quase um processo diário e automático fazer isso.

Assim que saiu do banheiro, enrolando uma toalha em seus cabelos longos e ruivos, seu celular começou a tocar.

Era Nicholas Bianchi, seu ex marido.

Louise retirou o roupão e vestiu uma calcinha vermelha, junto com uma regata branca antes de pegar o celular, sem pressa nenhuma.

Atender as ligações ou responder as mensagens de Nicholas já nem eram tão importantes, desde o divórcio. De fato que hoje poderia ser, já que a filha do casal havia ficado com o pai no último dia.

— Pode falar.

— Louise, oi - ela não esperava por aquela voz feminina.

— Thalita, olá! Tudo bem? Cadê o Nicholas? Está tudo bem com a Ayla? - já iniciou a conversa com aquelas preocupações de mãe.

— Está tudo bem com ela sim. Nico pediu para ligar e perguntar se a Ayla poderia dormir aqui hoje, de novo - Louise respirou fundo.

— Olha, Thalita. Hoje não é o dia dela dormir aí. Ontem também não era, mas eu precisei deixá-la com o pai dela por causa do meu plantão. Devo buscá-la em uns vinte minutos, ok?

— Eu sei disso, mas é que eu não vou passar à noite aqui e eu não queria deixar o Nico sozinho. Ele não está bem.

— Aconteceu algo? - perguntou apenas por educação mesmo. Nicholas poderia até ser seu ex-marido, mas ainda era pai de Ayla.

— Sim - Thalita respondeu do outro lado da linha —Mas é que...

— O que foi? - Se preocupou. Será que havia acontecido algo com sua filha?

— É que hoje, pela madrugada, o pai do Nico faleceu. Ele teve um AVC.

— Oh - foi tudo o que saiu da boca de Louise naquele momento. Fernando, seu ex-sogro, sempre foi um amor de pessoa consigo. Louise o adorava tanto e sabia que tal apreço era recíproco.

— Nico está triste, e eu queria muito ficar aqui com ele, mas tenho umas coisas para resolver em casa, meus pais querem ir para o funeral e eu preciso ajudá-los. Poderia, por favor, deixar a Ayla dormir aqui com ele? - Louise poderia jurar que Thalita estava até de mãos juntas.

— É claro que sim - a respiração de alívio do outro lado da linha foi bem audível — Só não sei se ela levou roupa o suficiente para mais um dia.

— A gente se vira, relaxa! Posso passar em uma loja e trazer algumas roupas pra ela.

— Certo - a médica se sentou na cama e olhou para os próprios pés. Sabia o quanto seu ex-marido amava o pai, e não poderia imaginar a dor que ele estava sentindo - Como...ele está? - Era só curiosidade, claro.

— Mau. O enterro vai ser amanhã, eu vou ficar com Ayla em casa para ele ir.

— Tudo bem se quiserem levar ela.

— Mesmo? Nico estava em dúvidas se levava ela ou não.

— Ayla tem oito anos, Nicholas e eu sempre explicamos tudo para ela. Se ele não conseguir, explique você ou me ligue e eu converso com ela.

— Tudo bem, obrigada pelo consentimento.

— Não precisa agradecer. Diga ao Nicholas que eu mandei os meus pêsames e sentimentos à toda a família.

— Obrigada!

— Ayla está sem aula amanhã. É reunião escolar e eu irei esse mês. Então...

— Iremos deixá-la amanhã aí. Pode ficar tranquila. Iremos, provavelmente, por volta das cinco da tarde.

— Certo.

— Vou desligar. Obrigada novamente.

— Não precisa agradecer. Bom dia.

Quando a ligação foi encerrada, Louise abaixou o celular e o colocou em cima do carregador de indução, que ficava na mesa de canto do quarto.

Ela respirou fundo e colocou a mão esquerda no pescoço, massageando o local. Talvez devesse aproveitar que Ayla estaria fora de casa e deveria ir a um SPA? Ou passaria o dia todo dormindo? Bom, isso ela ainda não saberia, mas por hora iria dormir. Aquele plantão tinha acabado com suas forças.

Quando voltou para o quarto e apagou as luzes, Louise ligou o ar-condicionado, deixando-o no 22° e se aconchegou embaixo das cobertas quentes. Talvez ela desse uma passadinha no SPA mais tarde.

Eram mais de três horas da tarde quando Louise acordou com o celular tocando. Nem iria atender, mas aquele toque era diferente dos outros. Então, com um sorriso no rosto e ainda sem abrir os olhos, ela tateou a mesa até alcançar o aparelho, logo deslizando o dedo pela tela, atendendo a dona daquele toque especial.

- Mamãe, eu te acordei?

- Não! Mamãe já estava acordada - a médica respirou fundo, esticou todo o corpo e abriu os olhos.

- Liguei porque estava com saudades. Tatá disse que você já estava em casa, aí eu quis ligar para saber se eu poderia comer docinhos antes do jantar.

- Não, não pode - Louise sorriu ao ouvir o resmungo baixo da filha - Seu pai te deu doce hoje?

- Sim. Papai me deu um bomboloni depois do almoço.

- Comeu só um?

- Sim. Ele é igualzinho à você, mamãe. Me deixa longe dos doces - Louise riu - Mas eu gosto de doce, e bomboloni de chocolate é o meu preferido.

- Eu sei, meu amor - sua voz saiu junto com um bochecho - Mas já comeu um no almoço, certo?

- Mamãe, por favor! Papai está triste - Louise, se lembrando do motivo de seu ex-marido estar abalado, respirou fundo e se sentou na cama, pegando o celular nas mãos.

- E o que isso tem a ver com os seus doces?

- Papai ficou feliz quando eu comi um bomboloni depois do almoço. Ele disse que fez hoje pensando em mim. Então se eu comer um agora, ele com certeza vai ficar feliz, de novo.

A médica sorriu com a nova forma de persuasão da filha. Ayla só tinha oito anos de idade, mas era tão inteligente. Era o seu orgulho e sabia que Nicholas sentia o mesmo. Nicholas era um bom pai, isso ela não poderia negar.

- Tá, me convenceu - Louise riu com o grito que Ayla deu. Aquela garota parecia ser uma bateria cheia de energia, e sempre que Louise estava precisando de motivação ou tinha que fazer uma escolha difícil, bastava apenas olhar para a filha que sua mente parecia clarear - Mas é apenas um, ok?

- Pode ser dois? Talvez três? Estão tão gostosos, mamãe.

- Ayla...

- Tá bom, desculpa! Vou comer apenas um - Ayla nem tentou muito convencer a mãe, sabia que se não fosse um, seria nenhum, então pra que correr o risco de perder aquilo que já estava ganho?

- Cadê o seu pai?

- Tia Tatá está lá fora com ele - a menina respondeu com a boca cheia e a médica riu. Era claro que o doce já estava com ela - Mamãe, você é médica. Então eu queria perguntar uma coisa.

- O que foi, meu bem? Pode perguntar para a mamãe.

- Vovó Dulce veio e me disse que o Vovô Nando virou uma estrelinha. Eu não sou mais um bebê, sei que ele morreu - Louise abaixou a cabeça - Eu já ouvi a tia Malia dizendo que você salva a vida de pessoas desconhecidas no seu trabalho - Louise fechou os olhos e os apertou. Talvez ela soubesse onde a filha queria chegar.

- Filha...

- Tem como você salvar o vovô também, mamãe?

- Filha, eu não posso fazer isso.

- Por que não? Sei que você não gosta muito do papai, mas ele está tão triste, mamãe. Eu não gosto de ver ele assim.

- Ei, ei! Quem disse que eu não gosto do seu pai? - Ayla ficou quieta, então Louise prosseguiu - Filha, seu pai e eu gostamos sim um do outro, só que...

- Então por que não estão juntos? Se gostam um do outro deveriam estar juntos.

- Ayla, não é assim - a médica respirou fundo, de novo - Filha, seu pai e eu viramos apenas bons amigos. A tia Tatá iria ficar triste se ouvisse você falando isso - a menina colocou um biquinho fofo nos lábios carnudos, iguais aos da mãe - Em relação ao seu avô, eu não posso fazer nada, filha.

- Por que não? Você é médica, não é?

- Sou sim, mas a mamãe não consegue alcançar as pessoas que já viraram estrelinhas, você entende?

Ayla não disse nada. Pedir para a sua mãe salvar o seu avô só para não ver mais o pai chorando, foi a única coisa que passou pela sua cabeçinha. Mas o que faria agora? Seu avô estava tão longe assim que nem um médico poderia salvá-lo?

- Quer voltar para casa? Eu posso ir te buscar.

- Não, eu vou dormir com o papai hoje. Tia Tatá disse que vai sair e pediu para eu cuidar dele - Louise estava tão orgulhosa de sua filha. Com apenas oito anos, Ayla demonstrava sentir tanto amor pelos pais, e ela era sim uma menina amorosa com Louise e Nicholas, e ainda aceitou bem o novo namoro do pai com Thalita.

- Faça isso. Cuide bem do papai, diga pra ele que a mamãe mandou um beijo. Então dê um beijão bem gostoso nele e o abrace bem forte por mim, tá bom?

- Tá bom, mamãe.

Assim que encerrou a ligação com a filha, Louise criou coragem para levantar da cama e ir tomar um banho. Iria sim para um spa, seu pescoço estava doendo demais. E no caminho ligaria para Malia, sua melhor amiga e enfermeira-chefe.

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