CAPITULO 4

Perola Campbell

A terça-feira não foi diferente da segunda.

A manhã tinha começado como um trem desgovernado, saindo dos trilhos e pronto para derrubar tudo, principalmente aqueles que não saíssem de sua frente. Era quase hora do almoço, mas eu ainda precisava de café.

Deus amado, como eu precisava de café.

Corri para cozinha do meu andar e peguei um copo descartável grande, usar a xícara minúscula do local só iria me irritar. Enchi até em cima com o liquido puro e fervente.

Equilibro o copo, segurando-o pelas bordas, já que estava muito quente e acelero meus passos de volta. No meio do caminho ouvi meu celular corporativo e o telefone de mesa tocar. Várias maldiçoes saíram dos meus lábios e depois de colocar o copo na mesa me sentei apressada.

Atendi o celular, já que era a secretária do Alfa que eu aguardava o retorno, para agendar uma nova reunião, meu chefe está empenhando em comprar essa empresa. Fiz algumas anotações enquanto a ouvia e assim que desligou, fui atender o telefone.

— Senhorita Campbell

A voz dele me assustou, não tinha percebido sua presença. Acabei batendo a mão no copo de café e, em menos de um segundo, todo aquele líquido quente que tanto desejei despejou sobre mim. Gritei aflita com o susto quando o liquido queimou minha barriga e escorreu para minha coxa.

— Puta que pariu! — Apolo exclama.

Uma onda de xingamentos passou pela minha mente, mas não me ousei falar nenhum em voz alta, mas a ardência da queimadura faz tremer até a minha alma.

— Caramba, se queimou! — meu chefe reclama — Venha comigo.

Penso em protestar e xingá-lo por me assustar. Afinal, ele não morreria por fazer um maldito barulho, ao contrário de mim que morreria de susto e com a pele queimada.

Mas, ao invés disso aceito sua mão, não querendo parecer infantil, e me deixo ser guiada para sua sala. Me conduz rapidamente para o seu banheiro.

— Tire seu vestido — ordena sério.

— Como assim?

— Tire seu vestido, precisa lavar a pele e passar uma pomada — explica tranquilo como se não fosse nada demais eu ficar quase pelada em sua presença.

Ele caminha para um canto do banheiro e abre uma porta que percebo ser um closet, está explicado porque o homem está sempre cheiroso e limpo. Pega uma camisa branca e me olhou franzindo a testa.

— Porque não tirou ainda? — questiona mostrando uma certa impaciência.

— Só pode estar brincando comigo senhor.

— Não estou brincando senhorita, precisa se tirar esse vestido para cuidar da pele que queimou, não vai conseguir fazer isso vestida.

— Não chegaria a isto se não me assustasse, senhor— reclamo sem pensar e quando percebo o que tinha acabado de falar — Desculpe.

— Tudo bem — entrega a camisa — Me perdoe senhorita Campbell, não foi minha intenção assustá-la e muito menos lhe machucar.

— Tudo bem — falo respirando fundo.

— Vista minha camisa enquanto eu procuro alguém que encontre outro vestido para você. — Murmura. — Vou procurar também pelo kit de primeiros socorros do andar, deve ter algo para queimadura lá.

Acenei incapaz de formar palavras coerentes, ele sai rapidamente. Suspiro soltando o ar devagar. Abro o zíper lateral do meu vestido e o puxo.

— Ah, caramba.

O tecido roça na pele machucada e é terrivelmente doloroso. Deixo o vestido no chão e pego uma toalha no armário, molho e passo na pele. Precisava limpar o café e esfriar. Doí a cada vez que encosto e eu imploro forças aos céus, peço também para que não seja nada além de irritação.

Pulo de susto quando a porta se abre novamente e meu chefe entra.

— Eu não achei nada de primeiros socorros — Ele se cala quando me vê

Poderia cair um meteoro bem agora e exterminar toda a vida na terra que eu não iria me importar, estou apenas de lingerie e saltos altos na frente do meu chefe. Nenhum homem nunca me viu sem roupa, me sinto envergonhada.

Não poderia piorar, poderia?

Vejo um músculo saltar em sua mandíbula e me apresso para vestir a camisa que tinha me dado. Agradeço pelos botões não estarem nas casas ou seria muito difícil consigo vestir sem me constranger ainda mais.

— Desculpe! — Apolo diz engolindo em seco.

— Tudo bem — falo baixo

— Não consegui falar com alguém do almoxarifado para lhe arrumar outro vestido — informa tenso. — Inferno, sua pele está bem vermelha.

— Esqueça isso — peço mortificada.

— Pelo menos consegui uma pomada para queimaduras. — Mostra o pequeno frasco na mão. — E descobri que tem uma bela tatuagem — brinca.

— Agradeço pela pomada, mas vou ter que vesti meus jeans e jaqueta para continuar o trabalho — decido ignorar seu comentário sobre a minha tatuagem.

— Me dê as chaves do seu armário que busco suas roupas, mais uma vez sinto muito pelo incidente — diz me entregando a pomada.

— A chave está na segunda gaveta da mesa.

Uma batida na porta me deixa tensa.

— Apolo?

A voz de Filipo ecoa, e antes que eu possa me esconder a porta é aberta.

— Uau! — exclama ao me ver usando uma camisa de meu chefe — Você é rápido — brinca com o amigo.

— Não é nada disso que você e sua mente poluída está pensando Filipo — Apolo fala firme — Abrir portas sem autorização geralmente é considerado falta de educação, ainda mais a porta de um banheiro — diz em tom de repreensão.

Minhas bochechas aqueceram tanto que pensei estar com febre, febre de vergonha e humilhação!

— Desculpe, não quis interromper. — dá de ombros.

— Não interrompeu nada. — Apolo diz com raiva — Acabei derrubando um copo de café quente na senhorita Campbell e estava tentando ajudá-la.

— Ah, se queimou? — pergunta entrando no banheiro.

— Hm, um pouco — respondo sem graça.

— E não encontrei outro uniforme para ela — minha chefe completa — Por isso emprestei a minha camisa.

— Queimou muito? — pergunta franzindo a testa.

— Sim, eu estava naqueles dias que só café ajuda. — suspiro — Peguei um grande copo e seu amigo me assustou.

— Posso ver?

— Claro que não Filipo — Apolo responde antes de mim.

— Calma grandão, só queria ajudar — responde ofendido — Vou pedir pessoalmente buscar um vestido parta você — ele fala e sai rapidamente.

— Ignora ele — Apolo pede e eu sorrio.

Assim que termino de passar a pomada na minha barriga ouço batidas na porta e meu chefe entra segurando um vestido rosa soltinho,

Fico agradecida e uso sem reclamar. Por sorte meus sapatos escaparam das manchas de café.

Saio do banheiro e encontro Apolo sentado atrás de sua mesa e Filipo no sofá de couro no canto da sala. O olhar do meu chefe se ergue e me olha com uma intensidade que faz meu estômago dar varias cambalhotas.

— Está se sentindo melhor, senhorita Campbell? — pergunta interessado.

— Sim, obrigada — falo olhando para os dois.

— Qual é seu nome mesmo, senhorita Campbell? — Filipo questiona.

— Pérola.

— Lindo nome, igual a dona — ele graceja, fico vermelha e Apolo respira fundo.

— Filipo, você pode voltar ao trabalho — ordena ao amigo.

— Estou bem aqui — Filipo responde esticando as pernas e recebe um olhar raivoso, essa é a minha deixa.

— Com licença — falo e saio apressada daquela sala, preciso respirar e pensar nos últimos acontecimentos enquanto enfio a cara no trabalho.

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