Um CEO em minha vida
Um CEO em minha vida
Por: L. S. Santos
01. Onda de dor

Chelsea

Respire Chelsea, você pode fazer isso.

Você consegue. Foco nessas palavras e observo o rostinho da bebê em meus braços e mordo a parte de dentro da boca, me forçando a manter as lágrimas rolando para o lado oposto. Preciso ser forte, não somente por mim, mas por eles.

Ignoro os olhares das pessoas em torno de mim, porque sei que devo estar parecendo louca, não preciso que ninguém me diga isso, entretanto, tive que sair correndo e quem não pensaria que é estranho que uma grávida aja de maneira absurda carregando um bebê e com uma barriga imensa?

Seria mais esquisito se me ignorassem.

Contudo, se eu continuasse lá dentro, sabia que conter as lágrimas seria impossível.

— Sinto muito, meu brotinho, mas eu não sou tão forte quanto pensei que seria — digo, com o gosto ferroso inundando a minha boca enquanto minhas pernas fraquejam sem que eu possa controlar.

O café da manhã não deve ter sido o bastante quando estou comendo por três.

Respire, respire, profiro as palavras, obrigando-as a correrem por minha mente.

— Porra! Caralho! — xingo, sentindo as lágrimas quentes descerem por meu rosto antes que eu consiga forçá-las para dentro. Devo estar enlouquecendo. Tem que ser. — Merda.

Viro-me rápido demais para conseguir fugir da sensação pesada que atinge o meu coração. Não pude ficar mais do que cinco minutos na frente do túmulo dela antes de tudo começar a desmoronar.

A rapidez do meu movimento fez com que minhas pernas bambas amolecessem ainda mais e com a visão embaçada por conta das lágrimas é difícil considerar o melhor meio de cair sem machucar a criança em meus braços ou aquelas na minha barriga.

Os pensamentos rápidos correndo pela minha mente são cessados quando sinto um calor abrasador em minhas costas, passando através das minhas roupas enquanto mexem com meu coração.

— Você está bem? — o tom rouco da voz do homem passa por meus ouvidos como um choque elétrico. Eu sei que deveria buscar uma maneira de me livrar dele, mas meu corpo está anestesiado pela dor comendo o meu coração.

— Acho que preciso me sentar — digo, vendo-o o seu rosto distorcido, já que as lágrimas continuam impedindo o foco da minha visão.

Mudando a posição que me amparava nas costas, ele circunda minha cintura, encaminhando-me devagar até o lugar mais próximo onde possa me sentar. Apoiada no banco frio, movo minha mão para cobrir a cabeça do bebê em meus braços, uso a outra para esfregar meus olhos, afastando o quanto posso delas.

— Merda — xingo mais uma vez esperando que esse sentimento se vá antes que me deixe ainda mais louca. Eu não posso fraquejar. Eles dependem de mim, preciso ser forte. Mesmo que não seja por mim, essas crianças merecem alguém forte para cuidar delas.

— Quer que eu consiga algo para você beber? — me pergunta o estranho e por alguns momentos esqueci que estava do meu lado, que não estou sozinha.

— Tá tudo bem, já me ajudou bastante — digo, sentindo um breve tremor correndo por meu corpo quando os olhos escuros me encaram. O tom amadeirado vivo carregado em suas íris é intenso.

Talvez eu esteja muito sensível devido à gravidez.

— Obrigada — falo após me acostumar minimamente à intensidade de seus olhos. O jeito como continua me encarando é estranho, diferente do que se espera de uma pessoa que ajuda alguém somente pela coincidência de a encontrar surtando na frente de um cemitério.

— É minha boa ação do dia — responde, com um tom terno demais para que eu considere uma brincadeira. É provável que também tenha vindo a este lugar para se despedir ou visitar alguém que perdeu, ainda assim, tirou um momento para me ajudar.

— Que bom homem — replico, e quem sabe por permanecer sendo atingida pelas ondas de dor, minhas palavras saem carregadas de sarcasmo. Daquele do pior tipo, que deixa o gosto amargo na ponta da língua depois.

— Nem tanto — profere, parece disposto a ignorar o meu tom. Deve se sentir comovido depois de ver o meu estado lamentável tão de perto. — Consegui o que eu queria vindo aqui.

— Devo te parabenizar? — pergunto e o olhar em seu rosto é indecifrável. Posso mesmo estar louca, já que mantenho uma conversa com um estranho como se fossemos amigos há muito tempo.

— Ainda não, no futuro seria bom — professa as palavras com muita certeza para que a sensação confusa me deixe. Suas intenções são bem mascaradas, mas duvido que tenha a ver comigo. Me lembraria se tivesse encontrado alguém como ele antes.

Levando em conta as roupas caras que veste, somos de mundos bem diferentes.

Ele cheira a dinheiro. Como se quisesse me permitir saber o quanto esse é um odor agradável, o estranho se aproxima e o cheiro amadeirado escapando de sua pele me lembra dos dias em que acampava com minha irmã.

O cheiro de terra depois de uma chuva forte sempre evidencia o quanto a natureza é primorosa. Passamos tantos momentos agradáveis em uma tenda de qualidade duvidosa que é estranho pensar que esses dias se foram para sempre.

Balanço o bebê em meus braços no segundo em que percebo que sente o quanto estou emocionalmente instável. Não sente só a falta da sua mãe, mas vê o quanto eu sou incompetente para cuidar dela.

Antes que eu pense em morder minha língua para impedir as lágrimas, elas já estão rolando para fora de mim sem controle. O que eu deveria fazer com esses sentimentos? Preciso enterrá-los ainda mais fundo? Se eu conseguir, poderei cuidar bem deles?

Meu corpo recua automaticamente quando o polegar do homem desliza embaixo do meu olho, arrastando as lágrimas descontroladas escapando de mim. Com a visão embaçada, não consigo ver a expressão que faz, e apenas choro mais, como se seu toque me permitisse expressar todas as partes escondidas dentro de mim.

Merda! Eu preciso me controlar.

Mas a única coisa que consegui foi nadar na corrente de dor se espalhando pelo meu corpo sem que eu desse permissão. Talvez eu não devesse ter vindo aqui hoje. Ainda não estou pronta para enfrentá-la.

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