06. Segurando a minha chance

Archie

O som da porta quando passo por ela traz certa calmaria para mim.

Talvez pelo lugar me lembrar dela. Apenas entrar nele mostra que tem um dedo seu nele. Também tem os quadros. Suas assinaturas estão em cada um deles, mas a expressão em seu rosto é muito diferente do que está exposto neles.

Caminho na direção da recepção e me surpreendo por ver um homem segurando Melissa com um único braço enquanto ela parece curiosa devido à mudança de expressão dele.

— Bem-vindo a Belas Flores — fala, mudando o seu semblante para algo mais agradável. Está ativando o seu modo de vendedor depois de ter deixado a sua surpresa clara.

— É um funcionário novo? — pergunto, já que não sabia que havia uma pessoa como ele em torno dela. Deixaram as informações dele de fora?

— Um amigo — responde, deixando a sua desconfiança à vista. Tudo bem que seja desconfiado, já que também não confio nele. — Conhece a Sea?

Demoro alguns segundos para processar que fala da Chelsea. Nunca ouvi ninguém a chamando desse modo antes. Porém, ele fala com muita familiaridade. Quem é esse cara?

— Sim, um pouco — digo, e seus olhos continuam me avaliando.

Ele está prestes a falar alguma coisa, sendo interrompido pela presença dela vindo da parte de trás do lugar, falando sem parar sobre um pedido e, no instante em que coloco os meus olhos nela, é perceptível o quanto está cansada. Tem bolsões fundos e escuros embaixo dos seus olhos.

— Terminei o pedido, só preciso fazer a entrega agora e... — É difícil dizer o que ela sente pela sua expressão. Se sente desconfortável por meu retorno, mesmo eu avisando que viria? — Bem-vindo. Procurando uma nova flor para sua casa?

O homem estranho se aproxima dela, baixa seu corpo e aproxima seu rosto do dela, sussurra algo em seu ouvido e ela força um sorriso depois de sibilar algo. Talvez eu devesse aprender a ler lábios.

— Se for o caso, o Yahya pode te ajudar, tenho uma entrega a fazer — profere as palavras rapidamente.

— Vai sair desse jeito? — pergunto e o olhar de ambos expressa sentimentos diferentes, visto que sou um estranho me metendo no assunto, mas não fazer nada me levou até onde? — Parece que não dormiu, pelo menos comeu?

— Comprei café da manhã para você, comeu pouco ontem à noite — fala Yahya e sinto meu estomago queimar. Estou ouvindo corretamente, certo? Ele quer que eu saiba que passou a noite aqui. — Precisa comer, está grávida.

— Eu sei, de verdade eu sei, mas preciso fazer essa entrega — discorre e obviamente o homem tem muito a dizer. — Prometo que comerei o que quiser depois que eu voltar.

— Sea, isso não é uma brincadeira, sair por aí sem comer sozinha é uma loucura — reclama o homem e a familiaridade da bebê com ele faz com que me sinta um pouco incomodado, ainda que saiba que é difícil para crianças discernir o que pode estar errado.

— Eu posso acompanhá-la — digo e Yahya vira-se para mim. Está me acusando com olhos inflamados de desconfianças. — Na verdade, a pessoa que fez o pedido é uma conhecida minha. É por isso que vim aqui, ela me pediu ajuda.

Uma mentira simples não causará problemas, certo?

— Faço ela comer alguma coisa no caminho e a trago inteira — profiro, mas nenhuma palavra deve ser o bastante para fazer com que ele se sinta mais calmo. Seu nervosismo é bem óbvio, se preocupa de verdade com ela.

Eu cheguei atrasado outra vez?

— Não, você não precisa — replica Chelsea, movendo os braços ligeiro.

Sua recusa foi tão rápida quanto o esperado.

— Deve ser um pedido muito importante para você. Não seria ruim se algo acontecesse? — pergunto, e sim, talvez eu esteja forçando um pouco demais, mas deixá-la sair nesse estado me impediria de me concentrar em qualquer coisa. — Já deve saber que não sou uma pessoa estranha.

— Nós nos encontramos duas vezes — fala ela, o que alarma Yahya.

Teria sido melhor se não tivesse exposto essa informação.

— Mas fui bem legal neles — profiro. Sua expressão enquanto me encara é muito dúbia. Seus pensamentos devem estar fervendo, mas o maior problema aqui com certeza é esse sujeito. Posso sentir o quanto quer fazer com que eu saia correndo daqui.

No entanto, ainda que esse seja o seu grande desejo, deixa que Chelsea escolha o que quer fazer. Confia muito nela. Me faz querer saber que tipo de relação os dois possuem.

Antes que esse seja outro motivo para que me preocupe com ela.

— Perder tempo brigando aqui é inútil — articula, apoiando uma mão na sua cintura. Ela parece um pouco mais magra do que a última vez em que nos vimos. — Vou aceitar sua ajuda dessa vez.

— Ótimo, fico feliz em ajudar — garanto a ela, mesmo que os resquícios de sua desconfiança continuem me atacando sem parar. Posso entender que me veja desse modo, mas caso permita que me aproxime, mais vezes me compreenderá.

— Vou voltar logo, Yahya — assegura para ele.

Novamente, o sujeito se aproxima, sussurra algo e, enquanto escuta, Chelsea me encara. Força um sorriso que não combina em nada com a expressão cansada que tem no rosto. É claro que tem trabalhado demais.

— Cuide bem do meu brotinho — pede Chelsea caminhando para a entrada da floricultura. Acho que agora entendo porque tem um veículo com a logo da floricultura na frente dela. Vasculha os bolsos do seu macacão jeans e me olha de soslaio após ter as chaves em mãos.

Parece indecisa sobre o que fazer. Os cabelos escuros estão enrolados de um modo engraçado. Vários fios escapam do penteado descuidado. Ela está repensando o que escolheu?

— Quer dirigir?

— Achou que te deixaria dirigir? — pergunto estendendo a mão. Ela coloca as chaves na minha palma rapidamente. Quase como se não quisesse tocar em mim.

— Bom, você tem um segurança, deve ter um motorista também — profere suas conclusões rapidamente. — Dirigir para uma estranha é esquisito.

— Você não é uma estranha Chelsea — asseguro a ela.

Só não sabe o que eu sei, mas quando estiver pronta te direi.

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