Horas depois, ambos saíram do quarto para beber água. Caminhavam pelo corredor, os corpos ainda sensíveis, quando viram Alinna sentada no meio da cozinha.Ela estava imóvel, os olhos abertos, mas marejados, com lágrimas escorrendo silenciosas pelo rosto.— Alinna? — Yoran chamou, franzindo a testa.Ela não respondeu.— O que diabos…? — Yoran se aproximou, mas hesitou ao ver que ela nem sequer piscava.Eles trocaram um olhar, e, sem perder tempo, Boldar foi chamar Ágata.Quando ela chegou, olhou para Alinna e suspirou.— Ela está dormindo — disse simplesmente.— Isso parece qualquer coisa, menos sono — resmungou Yoran.— Confia em mim.Ágata se ajoelhou ao lado da fada e murmurou:— Adductus somno.Poucos segundos depois, Alinna desabou no chão, agora dormindo de verdade.Yoran passou a mão pelo rosto, exausto.— Se isso é o que nos espera no futuro, eu prefiro me aposentar.— Vai sonhando — retrucou Boldar.Na manhã seguinte, Alinna ainda dormia. Seu rosto estava pálido, e seu corpo s
Kael foi o primeiro a voltar para casa. Ordam carregava Alinna nos braços com tanto cuidado que, às vezes, parecia que ela ia se quebrar. O silêncio acabou quando ele a colocou na cama da varanda. — E aí? Vai contar por que mentiu? — disse Kaito, escorado no batente da porta. — Eu não menti. Meu nome é Ordam de Mortraz. — Eles se entreolharam sérios. — Então, a fada é sua amiga? — Ordam olhou para Alinna, deitada na cama, com um semblante alegre. — Pra mim, ela é muito mais que isso. A porta bateu, e Ágata entrou junto com Boldar e Yoran, trazendo suprimentos. — Vai ter que explicar mesmo por que fez a minha Nina chorar. — O rosto de Ágata estava carregado de crítica e dúvida. — Pensei que fossem demorar — disse Kael, olhando para os três. — Ah, a gente ia, mas o Yoran usou a super velocidade pra terminar logo e ouvir a fofoca. — Todos riram da naturalidade com que Boldar falava. — Uau, sua cara, né, Yoran? — disse Kael, com os olhos semi-serrados. — É...
— Nakim? Esse é seu nome? — Sim, mas já me acostumei a ser chamado de Boldar. Prefiro que continue assim — respondeu Boldar, sentando-se confortavelmente no criado-mudo enquanto Yoran beijava seu pescoço sensualmente. — Aram, aram — Kael interrompeu. — Não quero atrapalhar, mas Ágata pediu para chamá-los. — Capitão, o quarto tem porta — respondeu Yoran, assustado. — Sim, eu vi. Da próxima vez, certifique-se de usá-la. — Boldar riu baixinho. Ele sabia que Yoran odiava ser visto assim. — Está com vergonha de mim? — perguntou Boldar, com a sobrancelha erguida. — Se você mandasse, eu usaria uma coleira com meu nome, meu amor — disse Yoran, dando um beijinho no nariz de Boldar e saindo logo em seguida. — "Amor"? — repetiu Boldar, surpreso descendo as escadas. — Bem, já que estamos todos aqui, tenho que falar sobre o próximo Pecado. De acordo com a princesa Temeria, ele já é um soldado do reino, mas está com problemas agora. — Que tipo de problemas? — perguntou Kai
Vinte e três longos dias se passaram até que chegaram a Moltrap, a aldeia onde os vampiros tinham sua “fábrica”. — E aí, capitão, o que vamos fazer? — perguntou Kaito, girando uma adaga entre os dedos. — Amigos, não sei vocês, mas eu quero tomar uma cerveja — disse Yoran. — Eu também — completou Kaito. — Segura a onda aí, senão você não vai pra lugar nenhum — resmungou Boldar por cima do ombro. — Ih, capitão, tu vai sozinho, então — Yoran sacudiu a cabeça, em negação. — Pau-mandado — sussurraram Kael, Kaito e Ordan em uníssono. — Em minha defesa, não estou indo me embebedar. Vou buscar informações. Embebedar é só um brinde — retrucou o capitão, com um sorriso. — Bem, ele está certo — disse Ágata, entrando na cozinha e se jogando na cadeira. — Vocês três vão ao bordel. Precisamos de informações. — Nós três? Eu não posso, Agui… — Yoran olhou para Boldar. — Pode sim. Boldar também vai. Tenho um trabalho a mais pra ele. — Ah, qual é? Tudo de ruim sobra pra
A tarde passou rápido com todo o alvoroço pelo despertar de Kael. Todos na casa se prepararam para aquilo, mas ver acontecendo de fato o que poderia ser considerado um milagre era algo impressionante. — Cerveja e carne... Eu poderia viver feliz se tivesse só isso a vida inteira — disse Kaito, com as bochechas vermelhas e os olhos semicerrados, antes de olhar para Ágata e parecer repensar o que disse. Nos últimos anos, nada havia mudado entre eles. Continuavam com as mesmas brincadeiras de “amigos” de sempre. Talvez fosse o álcool, mas ele pensou que nada mudaria. Suspirou cansado, bebendo o resto da cerveja em sua caneca. — É, nisso eu concordo — respondeu Ordan, um pouco atrasado na conversa. — Você concorda? — disse Alinna, carregando uma bandeja com carne de porco, a preferida de Ordan. — Claro que não, amor. Eu sentiria sua falta — respondeu ele, em tom bajulador. — ALGUÉM TIRA O ÁLCOOL DESSES BÊBADOS! — gritou Yoran, cambaleando em direção a Kael e passando o bra
Era para ser só um exercício, mas a raiva explosiva de Kaito tornou tudo um treinamento físico ofensivo.— Como vou ter coragem de falar para ela tudo isso? Como se fosse algo tão fácil... — Ele disse, atirando uma pedra na direção de Kael.— É simples, diga o que sente. — Kael respondeu, cortando a pedra ao meio com a mão, como se fosse papel.— Não é tão fácil, capitão.— É sim, você que está complicando tudo. — A voz calma de Kael deixou Kaito ainda mais bravo, fazendo-o avançar sobre ele com um golpe.— Está agindo como uma criança. — Kael disse, bloqueando o golpe e segurando o pescoço do amigo. O impacto deles no chão foi sentido até em casa.Kaito ficou no chão enquanto Kael se levantou.— Ser humano é algo difícil quando você não sabe nomear o que sente e não entende de onde esse sentimento vem. Então simplifica. Diga a ela: "Eu amo você". Se ela perguntar "o quê?" ou "desde quando?", aí você explica. Dê datas, fale do cheiro que sentiu na primeira vez que a viu, de como o cli
Sem tempo para excitação, Kael seguiu o que Yoran disse: uma mente cheia não tem espaço para manipulação. Para sua sorte ou azar, na sua mente só havia Andrômeda, e eles nunca poderiam usá-la para manipulá-lo. Enquanto entrava no covil, Kael percebeu que o silêncio ecoava por todos os lados e sentiu algo estranho, como se algo estivesse errado. O cheiro de sangue impregnava o ar, misturando-se à umidade das paredes de pedra. Tochas fracas iluminavam o longo corredor, lançando sombras distorcidas que pareciam ganhar vida. Kael inspirou profundamente, o odor metálico e denso lhe trazendo uma sensação estranha. Ele caminhava à frente, seus passos ecoando no silêncio perturbador daquele covil imundo. Atrás dele, Yoran segurava a lâmina com força, seus olhos atentos. Boldar caminhava calmo e seguro de que nada aconteceria. Ordan protegia Alinna, que batia as asas devagar, como se elas acompanhassem os batimentos cardíacos dele. Kaito mantinha-se em silêncio, concentrado, os músculos
Houve um tempo em que os gigantes esculpiam montanhas com as mãos nuas, as fadas dançavam em florestas de cristal, e os demônios brindavam com vinho sob a luz de duas luas. A Terra era uma tapeçaria de raças, tecida com magia e sangue. Mas o equilíbrio é frágil, e a ganância dos deuses, ainda mais.Nas ruínas de um mundo outrora grandioso, Andrômeda observava o céu, o olhar perdido entre as estrelas. O eco da voz de Kael era longínquo, mas presente. Ela sentia o sangue escorrer entre os dedos que freneticamente pressionavam o ferimento profundo em seu ventre.— Não, não, não… mil vezes eu, mas minha Deusa, não. — A voz de Kael era um lamento desesperado. O peso da culpa apertava seu peito enquanto ele segurava Andrômeda contra si, tentando aquecer o corpo que esmorecia.— Abre os olhos, por favor… fica comigo. Não me deixa. Eu não quero… eu não consigo ficar aqui sem você.O pranto dele se misturava ao cheiro de ferro no ar.— Ela está morta, demônio. Você já destruiu a vida dela