Dante SalvatoreEra difícil ir embora, mesmo depois que a enfermeira sugeriu que ela descansasse. Mesmo depois de eu já ter dito tudo que precisava. Mesmo depois de Olivia me olhar daquele jeito — como se quisesse confiar, mas ainda estivesse com medo.Mas eu fui. Dei o espaço que ela merecia. Fechei a porta devagar. Encostei as costas na parede do corredor e respirei fundo.Só que algo não deixava meu corpo sair dali.Eu conheço essa mulher.Conheço cada uma das expressões que ela tenta esconder, cada respiro que ela solta como se ninguém fosse notar. Eu conheço aquele olhar vago e o modo como ela hesita quando vai falar alguma coisa. E conheço, também, o jeito que ela tem de esconder o que sente quando tá com medo de ser fraca.Voltei.Simples assim.Voltei e entrei de novo no quarto.— Achei que já tinha ido — ela disse, sem levantar os olhos.— Eu tentei — falei, me aproximando devagar. — Mas tem uma coisa que eu preciso perguntar.Ela franziu a testa, e notei como o corpo dela fi
Dante SalvatoreEu nunca fui bom com palavras bonitas fora da escrita, fora do momento onde eu fazia meus rascunhos que deixava escondidos a sete chaves, só pra eu mesmo me surpreender com a inspiração que surgia vez ou outra ao reencontrar aqueles documentos abandonados. Sempre achei mais fácil mostrar o que sinto com gestos. Mas, naquele quarto de hospital, vendo os olhos de Olivia arregalados diante do meu pedido, eu soube que precisava falar. Tinha que falar tudo que um dia achei não ter chance, quando achei que o tempo já havia passado e era tarde demais. Porque não era, ela estava aqui, seus olhos brilhantes pairando sobre mim enquanto eu me sentia tolo, mas muito feliz ao fazer aquele pedido. Eu nunca tive tanta certeza na vida.— Eu quero casar com você, Olivia.Ela me olhava como se não estivesse entendendo. Ou talvez entendesse bem demais, e fosse justamente isso que a assustava. Ainda assim, havia um brilho nos olhos dela que me fez sorrir.— Dante… você enlouqueceu.— Eu
[Durante o Dia]Olivia Dante tinha saído há pouco tempo para resolver pendências com a babá e ver Leo. Ele disse que voltaria rápido, mas cada minuto parecia mais longo desde que ele fechou a porta. Ficar sozinha ali, com as cortinas semifechadas e a televisão desligada, me deixava frente a frente com tudo que eu não queria pensar.Eu estava no sofá, as pernas cobertas pela manta que ele cuidadosamente ajeitou antes de sair, e o celular ao lado, sem notificações.O anel em meu dedo chamava mais atenção do que qualquer coisa. Refletindo o brilho discreto da luz amarelada da sala, e por alguns segundos eu fiquei só olhando.Aquilo tudo estava mesmo acontecendo?Um mês atrás, eu evitava até responder mensagens. Agora, estava grávida. Noiva.Olhei para minha barriga de sempre, gordinha, mas sem mudanças visíveis. E ainda assim… tão cheia. Estranhamente cheia.A campainha tocou pouco depois que Dante saiu, nem deu tempo de eu levantar pra abrir.— Tô entrando, se estiver indecente eu tô d
OliviaO cheiro de café preencheu o apartamento antes mesmo de eu conseguir abrir os olhos por completo. Algo mais suave do que o normal, como se até o aroma soubesse que eu estava em um modo diferente. Tudo em mim parecia mais sensível ultimamente. E eu não falo só dos enjoos.— Bom dia, dorminhoca — ouvi a voz de Dante da cozinha, seguida por um barulho de pratos se encostando.Demorei uns segundos para me sentar no sofá, ainda enrolada na manta. O corpo mais mole que o habitual, a cabeça levemente pesada. Mas os olhos… estavam fixos nele.Dante usava uma camiseta cinza clara, a mesma que marcava os braços definidos e peitoral me fazendo pensar em coisas que eu não podía fazer em repouso. O cabelo bagunçado, barba começando a crescer. E mesmo assim, ali, preparando um café com calma, era a imagem mais bonita da minha manhã.— Você acordou antes de mim de novo — murmurei.— Eu acordo antes do sol se eu souber que posso cuidar de você — respondeu, sorrindo de canto, e foi até a mesa c
OliviaO apartamento estava silencioso demais. Era engraçado como o tempo parecia desacelerar quando Dante não estava por perto — como se tudo entrasse em modo de espera. Eu sabia que ele voltaria logo, mas mesmo assim, a ansiedade estava ali, grudada na pele.Dante tinha saído para buscar Leo e trazer algumas das coisas dele. A ideia era que ficassem aqui por uns dias, só o suficiente para eu me acostumar com a nova rotina. Ele parecia entusiasmado com isso, cheio de planos, cuidando de tudo com um zelo que fazia meu coração apertar.Eu me levantei devagar do sofá e olhei em volta. Tudo parecia em ordem, mas parte de mim queria checar tudo de novo. Era como se eu precisasse garantir que o ambiente estivesse perfeito para o bebê. Peguei uma manta limpa, dobrei com cuidado, ajeitei sobre o encosto do sofá. Depois, fui até a cozinha e arrumei um espaço na prateleira de baixo para guardar algumas mamadeiras que Dante prometeu trazer.Quando decidi que ia tomar um banho, com cuidado por e
OliviaNa primeira manhã com Leo aqui, eu acordei com um silêncio diferente.Não era o tipo de silêncio que pesa. Era um silêncio novo. Quase doce. O tipo que precede algo importante.Dante já estava de pé, andando pela sala com o bebê nos braços como se tivesse feito isso a vida toda. A cabeça dele tombada levemente pra frente, murmurando qualquer coisa sobre “futuros jogadores de tênis que ainda babam na fralda”.Fiquei alguns minutos só observando, com o rosto meio afundado no travesseiro. A luz suave da manhã entrava pela fresta da cortina, e o mundo parecia suspenso naquele instante. Era estranho — bonito, mas estranho — ver meu espaço invadido por outra rotina que não era só minha. Pela primeira vez em muito tempo, não era o som do despertador ou do meu celular que me fazia abrir os olhos. Era um bebê. E Dante.E, de alguma forma, aquilo parecia certo.— Bom dia — falei baixinho, me sentando.Dante virou na hora, com um sorriso leve, os olhos cansados, mas cheios de alguma coisa
OliviaO sol da tarde entrava pelas frestas da cortina como se quisesse me convencer de que tudo ainda estava no lugar. Que nada fugiria do controle. Eu tentava acreditar nisso. Mas havia algo dentro de mim, vindo do âmago, que arrepiava a espinha e dizia que aquilo era bom demais. Os dias eram calmos, mesmo com um bebê junto. O cansaço da rotina habitual ao ter noites de sono mal dormidas não se comparava ao caos que eu prefiro evitar – adultos maldosos, fofocas, intrigas. Isso era melhor, não fácil, mas melhor.Essa bolha era confortável, me trazia um ar fresco. Leo estava acordado, mas tranquilo. Deitado no tapetinho, resmungava umas sílabas desconexas que só ele entendia. Sorri sem pensar, estendendo a mão até ele, que logo segurou meu dedo com força.Era quase engraçado o quanto aquele bebê já fazia parte da minha rotina, mesmo que houvesse chegado há tão pouco tempo. Eu ainda não sabia exatamente o que sentia. Mas sentia. Algo novo, frágil e vivo. Um cuidado silencioso, mas me
Dante SalvatoreOlivia estava no banco de trás, deitada, com a cabeça apoiada sobre uma das almofadas do sofá que peguei às pressas. Ela não dizia nada, mas também não dormia. Respirava fundo, os olhos fixos em algum ponto do teto do carro, como se quisesse se convencer de que aquilo era só um susto. Como se quisesse me convencer também.Mas eu vi o sangue e a dor. E vi o terror em seus olhos no instante em que ela o viu também. Ela parecia perdida, como se estivesse que estar fazendo algo pra impedir aquilo. Eu não sabia que dava pra dirigir e tentar rezar ao mesmo tempo, mas foi o que fiz. As mãos no volante, o coração na garganta. Mesmo correndo todos os sinais, com o pisca-alerta ligado e as mãos cerradas no volante, parecia que o mundo inteiro estava se movendo devagar — menos o medo. Esse, andava rápido. Corria pelas minhas veias, sufocava meu peito. Eu não rezei. Não sou bom com isso, na verdade. Mas fechei os olhos entre um sinal e outro pensei em tudo que eu queria que ela