Fiquei olhando para Hainden por tanto tempo que perdi a noção de onde eu estava e das pessoas que me cercavam. Foi o arrepio da proximidade dele que me fez perder a noção do tempo. — Normalmente, não preciso dizer às pessoas duas vezes o que fazer – eu ouvi sua voz quebrando tudo dentro de mim – vá até o meu escritório imediatamente. Hainden me lançou outro olhar de advertência antes de virar as costas e partir. O que havia acontecido aqui, afinal? Por que ele estava causando em mim esse efeito, como se meu estomago estivesse estremecendo? E como ele ficou sabendo sobre Ember? Quando girei o pescoço, vi toda aquela gente olhando para mim e rindo, sussurrando. Todos haviam visto o que Hainden fez e os boatos agora se tornariam insuportáveis ao ponto de eu não aguentar mais. Mas eu tinha um problema maior para resolver, eu precisava inventar qualquer mentira para que Haiden não se aproximasse de Ember e acreditasse que havia sido com ele que ele se casou. Eu deveria ter corrido atr
Haiden A manhã se arrastava enquanto eu ficava sentado atrás da minha mesa, aguardando Daphne retornar e me dizendo que tudo estava pronto para o encontro com a sua irmã Ember. Eu não fazia ideia de quais chances haveria dela ser minha esposa perdida, mas eu precisava me arriscar e descobrir de uma vez por todas. O tempo estava se esgotando. No fundo, para mim, não fazia a menor diferença quem seria a Ember ou com qual o tipo de mulher eu havia selado um acordo. Eu só precisava que essa mulher estivesse ao meu lado, sendo minha esposa, mesmo que seus sentimentos ou ações fossem uma completa farsa. Eu ainda tentava puxar em minhas lembranças qualquer traço do seu rosto, lembro-me somente da sua maquiagem borrada e seus cabelos despenteados enquanto ela sorria para mim e dizia seu nome, Ember. Eu me chamo Ember. Eu havia ido ao bar depois de uma discussão com o meu pai, quando ele jogou sobre mim suas verdadeiras intenções. Colocaria um desconhecido para ocupar o lugar que era meu
Eu estava do lado de fora da loja de Ember que tinha um nome nada tradicional e de difícil pronunciamento, além da fachada ser exagerada e o movimento de clientes ser bastante pouco para uma loja daquele tamanho. Ajeitei o meu paletó, dei uma conferida no meu reflexo na porta de vidro preta e finalmente entrei no lugar. Havia uma recepcionista mexendo no celular e mascando chiclete. Ela fazia uma bola enorme que estourou, grudando em sua boca, quando eu me aproximei. O barulho que vinha de seus lábios era insuportável e ela não percebeu ou não deu atenção quando me encostei no balcão. Passei os olhos pelo local, nenhum sinal de Ember. Será que Daphne não havia se confundido e me passado a informação incorreta? Eu realmente queria acreditar que esse era o motivo pelo mal-entendido. — Estou aqui para falar com a senhorita Ember – eu disse, me direcionando à jovem parada à minha frente. Ela continuou mascando seu chiclete e com os olhos vidrados no celular. — Precisa marcar horário
Daphne Mas o que diabos eu havia acabado de dizer? Olhei para Haiden e havia um sorriso repuxando seus lábios com o meu comentário. Como eu havia elogiado o meu chefe logo após pedir desculpas? Eu não deveria pedir desculpas pelas atitudes mesquinhas de Ember. Era ela daquele jeito e, a meu ver, não havia nada que pudesse mudá-la. Haiden foi avisado do que encontraria pela frente e, se ela o humilhou, eu o considerava justo. Voltamos para a empresa enquanto eu desejava ardentemente que aquele silêncio fosse nossa melhor companhia. Eu não queria responder mais nenhuma pergunta de Haiden, nem sequer me direcionar a ele. Assim que ele estacionou o veículo, eu desci, me apressando para sair dali o mais rápido possível. — Espere, Daphne – ele fez meus pés travarem no chão como se estivessem criando raízes – você vai almoçar comigo hoje. Temos muito o que conversar. Balancei a cabeça com a ordem dele. O que mais aquele homem queria de mim, além de me levar até a loja da minha irmã, sup
Apertei minha bolsa com força contra o meu peito e olhei para frente, com os olhos arregalados. Eu estava dura que nem uma pedra e o instinto de sobrevivência gritava para que eu fugisse daquele lugar imediatamente antes que fosse tarde demais. — Você está bem, Daphne? – Haiden fez essa pergunta quando parou o veículo. Ele tirou o cinto, mas fui incapaz de olhar nos olhos dele. Por que eu agia como ele fosse um animal prestes a me devorar? — Você está pálida – ele inclinou o corpo e virou para trás, ficando perto demais de mim. Pegou uma garrafa com água e a colocou em minha frente. Fechei os olhos com força. Eu agia como uma idiota por um pensamento mais idiota ainda de que poderia ser eu a mulher com quem Haiden havia se casado. — Isso é loucura – balancei a cabeça como se quisesse tirar esse pensamento de lá – eu não posso almoçar com o senhor, eu preciso voltar para casa. O ar fugindo dos meus pulmões lentamente. Coloquei a mão na porta para abri-la. — Tudo bem, se você es
Nada foi registrado depois disso. Não me lembrava de como havia chegado ao hospital, como se minha mente estivesse perdida em minhas memórias. Quando eu era criança, fui emocionalmente negligenciada pela minha mãe. Rosália sempre havia deixado claro sua filha preferida, e ela não era eu. Meu pai sempre dava um jeito de preencher esse vazio, mas todo o afeto e carinho que eu recebia dele eram raros e encobertos por debaixo dos panos para que minha mãe não desconfiasse. Mas Ember também era a favorita dele. Ele costumava chamá-la de sua princesa. Já eu não era a favorita de ninguém. Eu só era a filha indesejada. Ela não era amorosa comigo e não permitia que ninguém mais fosse. Não importava o quanto eu fosse boa ou me esforçasse para agradá-la. Eu sempre era deixada de lado, sempre era vista como um peso. Agora eu estava aqui, entorpecida, sabendo que o meu pai não estava mais vivo e que não poderia mais me dizer o que queria quando fui embora. Todo o caminho até o hospital foi refl
Eu estava tão tensa que me esquece de quem era Haiden e, segurando pela mão, o arrastei de volta para o veículo. Coloquei minhas mãos tremulas em seu peito. Nos últimos dois minutos, eu havia tocado em meu chefe mais do que poderia tocar em toda a minha vida. Eu precisava me certificar de que Ember não nos veria. Mas eu não contava com um fator surpresa, a presença de Vincent e, como se tivesse um olhar de águia, seus olhos alcançaram o meu, mesmo a metros de distância, ele foi capaz de me ver e me reconhecer. — Droga, droga – fechei os olhos contra a onda de calor, tentando afastar o medo e pensar em uma saída – por favor, senhor Haiden, precisamos sair daqui. Seus olhos cinzentos se desviaram até o Vincent. Com uma calma que poucos homens teriam em uma situação assim, Haiden destravou o carro e ordenou que eu entrasse imediatamente. — Alguém já te falou ser falta de educação expulsar as pessoas que vêm te visitar? – a voz profunda dele interrompeu meus pensamentos quando coloqu
Evangelina me acompanhou até na casa e não parava de falar nem mesmo por um segundo. Eu queria chegar em casa, deitar e dormir para esquecer o dia horrível que eu havia passado, mas ela não estava disposta a me deixar em paz. — Por que você veio no veículo com o senhor Haiden? – Colocou a mão no meu peito e me obrigou a parar? – Estava fugindo do hospital por quê? — Eu não vou te contar nada – afastei as intenções dela para longe e comecei a entrar na casa – eu não posso perder esse emprego, então sem a menor chance. Ela bufou e depois gritou como uma histérica. Eu imaginava o quanto isso estava deixando Evangelina ao ponto de arrancar os cabelos, mas se eu contasse a ela a verdade, eu arriscaria perder o meu emprego. — O Vincent saiu como um louco atrás de você – ela continuou, enquanto eu estava ao ponto de tampar os ouvidos – ele já sabe que você está na minha casa e disse que viria aqui tomar alguma satisfação. Vincent, o quê? Ele ainda acreditava que tinha direito sobre mim