Apertei minha bolsa com força contra o meu peito e olhei para frente, com os olhos arregalados. Eu estava dura que nem uma pedra e o instinto de sobrevivência gritava para que eu fugisse daquele lugar imediatamente antes que fosse tarde demais. — Você está bem, Daphne? – Haiden fez essa pergunta quando parou o veículo. Ele tirou o cinto, mas fui incapaz de olhar nos olhos dele. Por que eu agia como ele fosse um animal prestes a me devorar? — Você está pálida – ele inclinou o corpo e virou para trás, ficando perto demais de mim. Pegou uma garrafa com água e a colocou em minha frente. Fechei os olhos com força. Eu agia como uma idiota por um pensamento mais idiota ainda de que poderia ser eu a mulher com quem Haiden havia se casado. — Isso é loucura – balancei a cabeça como se quisesse tirar esse pensamento de lá – eu não posso almoçar com o senhor, eu preciso voltar para casa. O ar fugindo dos meus pulmões lentamente. Coloquei a mão na porta para abri-la. — Tudo bem, se você es
Nada foi registrado depois disso. Não me lembrava de como havia chegado ao hospital, como se minha mente estivesse perdida em minhas memórias. Quando eu era criança, fui emocionalmente negligenciada pela minha mãe. Rosália sempre havia deixado claro sua filha preferida, e ela não era eu. Meu pai sempre dava um jeito de preencher esse vazio, mas todo o afeto e carinho que eu recebia dele eram raros e encobertos por debaixo dos panos para que minha mãe não desconfiasse. Mas Ember também era a favorita dele. Ele costumava chamá-la de sua princesa. Já eu não era a favorita de ninguém. Eu só era a filha indesejada. Ela não era amorosa comigo e não permitia que ninguém mais fosse. Não importava o quanto eu fosse boa ou me esforçasse para agradá-la. Eu sempre era deixada de lado, sempre era vista como um peso. Agora eu estava aqui, entorpecida, sabendo que o meu pai não estava mais vivo e que não poderia mais me dizer o que queria quando fui embora. Todo o caminho até o hospital foi refl
Eu estava tão tensa que me esquece de quem era Haiden e, segurando pela mão, o arrastei de volta para o veículo. Coloquei minhas mãos tremulas em seu peito. Nos últimos dois minutos, eu havia tocado em meu chefe mais do que poderia tocar em toda a minha vida. Eu precisava me certificar de que Ember não nos veria. Mas eu não contava com um fator surpresa, a presença de Vincent e, como se tivesse um olhar de águia, seus olhos alcançaram o meu, mesmo a metros de distância, ele foi capaz de me ver e me reconhecer. — Droga, droga – fechei os olhos contra a onda de calor, tentando afastar o medo e pensar em uma saída – por favor, senhor Haiden, precisamos sair daqui. Seus olhos cinzentos se desviaram até o Vincent. Com uma calma que poucos homens teriam em uma situação assim, Haiden destravou o carro e ordenou que eu entrasse imediatamente. — Alguém já te falou ser falta de educação expulsar as pessoas que vêm te visitar? – a voz profunda dele interrompeu meus pensamentos quando coloqu
Evangelina me acompanhou até na casa e não parava de falar nem mesmo por um segundo. Eu queria chegar em casa, deitar e dormir para esquecer o dia horrível que eu havia passado, mas ela não estava disposta a me deixar em paz. — Por que você veio no veículo com o senhor Haiden? – Colocou a mão no meu peito e me obrigou a parar? – Estava fugindo do hospital por quê? — Eu não vou te contar nada – afastei as intenções dela para longe e comecei a entrar na casa – eu não posso perder esse emprego, então sem a menor chance. Ela bufou e depois gritou como uma histérica. Eu imaginava o quanto isso estava deixando Evangelina ao ponto de arrancar os cabelos, mas se eu contasse a ela a verdade, eu arriscaria perder o meu emprego. — O Vincent saiu como um louco atrás de você – ela continuou, enquanto eu estava ao ponto de tampar os ouvidos – ele já sabe que você está na minha casa e disse que viria aqui tomar alguma satisfação. Vincent, o quê? Ele ainda acreditava que tinha direito sobre mim
Era inacreditável que aquele homem estivesse fazendo um show no velório do meu pai. Vincent parecia viver uma realidade oposto, daquele considerava, talvez, ser meu marido. Olhei para os lados, os olhares da minha família estavam atentos aos nossos movimentos, como se eu fosse a atração principal. Eu só queria entrar na capela e olhar para o rosto do meu pai pela última vez. — Saia do meu caminho – eu o empurrei, mas não com força o suficiente para que ele pudesse se afastar. — Estão dizendo por aí que você é a amante dele, já que você mesma disse que Haiden é um homem casado. Chocada, como se eu tivesse sido atingido por um raio, eu olhei para Vincent como se ele estivesse ficando louco. — Talvez eu esteja mesmo tendo um caso com ele – dei de ombros com desprezo – o que faço da minha vida hoje não é mais do seu interesse. O olhar dele continuou frio e cheio de aversão, como se ele estivesse olhando não para mim, para a mulher que o esperou por oito longos anos, mas para o seu in
Haiden O celular vibrou no meu bolso insistentemente. Quando olhei na tela, era um número desconhecido. Ignorei a ligação. Seja lá quem fosse que estivesse atrás de mim, parecia bem desesperado. Eu não tinha pressa, então desliguei o aparelho e me preparei para encarar o meu pai mais uma vez. Ele sempre festejava seu aniversário na cidade natal. Ele havia viajado para cá no dia seguinte à nossa briga e ficou surpreso quando disse haver me casado. Eu sabia que assim que ele me visse chegando sozinho, todas as suas dúvidas se concretizariam. Meu pai me acusaria de mentiroso. Jeffrey estava comigo, mas ele não se parecia com uma bela mulher a qual eu pudesse apresentar como minha esposa. Eu não inventaria nenhuma desculpa, eu só diria que minha esposa não estava pronta para ser apresentada. — Essa é a desculpa mais ridícula que você já inventou em toda a sua vida – Jeffrey zombou de mim quando estávamos no hotel onde aconteceria a festa – seu pai não vai acreditar, ninguém vai. — E
Haiden Jeffrey limpou a garganta antes de me oferecer um sorriso amarelo. Deveríamos estar aproveitando a festa e eu deveria me manter longe de problemas. Deixar de lado essa história de esposa secreta por essa noite, mas Jeffrey me revisitava a realidade, e eu não gostava da ideia de vê-lo tão envolvido com minha assistente. — Conversamos bastante quando você foi conhecer a irmã dela – referiu-se a Daphne de forma tão natural que me incomodou – ela me contou o quanto achava absurdo imaginar você casado com Ember. Ele achou engraçado o comentário e certamente as lembranças daquela conversa eram agradáveis para Jeffrey. — Está interessado nela? – perguntei, enquanto levava o copo de champanhe até os lábios e tomava um longo gole da bebida. Jeffrey se conteve durante longos segundos, demorou demais para responder uma pergunta tão simples. — Não estou interessado, embora a Daphne seja bem interessante – ele disse, isso causando um sentimento estranho em mim. Eu não queria ver o me
Antes Daphne Liguei insistentemente para o senhor Haiden, mas ele não atendeu. Percebendo a insistência de Ember em falar com ele, sentia que eu precisava intervir. Liguei para Jeffrey, mas ele me disse que Haiden estava bêbado, e que seria mais sensato eu deixar aquela conversa para depois. Naquela manhã, assim que cheguei na empresa, avistei Ember sentada confortavelmente no sofá da recepção. Havia menos de quarenta e oito horas que o nosso pai havia sido enterrado e eu entendia seu desespero. A única renda que poderia mantê-la de pé estava morta. A verdade era que Ember se orgulhava de ser dona do próprio negócio, ter sua casa própria, seu veículo, mas o que ninguém sabia era que foi o nosso pai que manteve os negócios dela vivos por todos esses anos. Quando os olhos dela se encontraram com os meus, ela desdenhou, dando de ombros. Se levantou e veio em minha direção apressadamente, elevando sua voz exigente. — Exija que o seu chefe venha falar comigo – ela sempre adorou ter a