Morando com o Inimigo
Morando com o Inimigo
Por: LuadMel
Um

            Naquela manhã de quarta-feira, a chuva parecia querer descer do céu com toda força do mundo, mas para a sorte da garota sorridente que terminava de colocar o último casaco dentro da mala e fechá-la, aquela seria talvez a última chuva que pegaria na cidade onde nasceu e cresceu ao lado de seus pais e seu irmão mais velho que provavelmente chegaria atrasado para sua despedida, o que não era nada assustador.

Encarou o quarto agora vazio, já tinha ouvido que sua mãe transformaria aquele espaço num glorioso closet. Do seu pai que montaria uma academia para não ter que sair de casa, e do seu irmão que transformaria em uma sala de jogos. O importante de tudo isso é que ela não estaria aqui quando os três descobrissem que fizeram planos para o mesmo espaço.

Colocou seu top dos sonhos se olhando no espelho. Gostou do viu. Os seios medianos ficavam mais expostos, além da tatuagem que fez no último dia de aula com seus amigos realçava bem entre os seios apenas para lembrar o quanto foi corajosa em escolher uma parte tão dolorosa para colocar uma linda coroa. A coroa de uma linda rainha que lutou todo o ensino fundamental e médio para se preparar justamente para aquele dia, e finalmente triunfar com grandeza.

Poderia dizer mais sobre o quanto estava ansiando para aquele dia?

Colocou seu short verde claro assim como seus olhos, mostrando a todos que não estava naquela cidade para brincar. As botas pequenas eram seu maior charme, lhe acompanharam na maior parte de sua caminhada e claro que não iria deixa-las para trás. E depois de soltar os cabelos que mal chegavam aos ombros, estava pronta para brilhar.

— Ivy! - A moça encarou os olhos de sua mãe no espelho e sorriu animada se virando para vê-la melhor. Colocou as mãos na cintura mostrando seu look perfeito mais animada. — Aqui ainda faz frio. Se acha que consegue chegar ao aeroporto com essa roupa, boa sorte. - Entrou no quarto apenas para abraçar novamente a filha que lhe deixaria em breve — Já estou morrendo de saudades suas, tem mesmo que ir?

— Ah quem você quer enganar? - Se afastou para vê-la enxugar as lágrimas falsas no canto de seus olhos — Você está apenas esperando eu sair por aquela porta para começar a preparar esse quarto. E está há anos esperançando meu irmão sair para também se ver livre dele. Como você consegue fingir tão bem?

— Estou tentando ser uma boa mãe para depois não sair por ai dizendo que foi expulsa de casa e com uma semana sua mãe transformou seu quarto num closet charmoso com tudo que o dinheiro pode comprar. - Contou indo até a janela para procurar qualquer sinal do filho que novamente estaria atrasado. — Eu estou feliz que esteja indo seguir seus sonhos e melhor, para a faculdade que sempre quis, mas não posso deixar de sentir que está indo para muito longe e passarei muito tempo sem te ver.

— Ah mamãe - Se aproximou da mulher lhe abraçando por trás. Uma das coisas que nunca esqueceria seria o cheiro de lavanda que a mulher possuía, era como se fosse o cheiro de casa, e se pudesse levava consigo. Mas a ideia de sair de casa, de crescer longe, fazer uma faculdade, um estagio ganhar seu próprio dinheiro, conhecer novas pessoas era tão mais intensa que mal conseguia esconder o sorriso de felicidade. — Eu vou sentir sua falta também, e podemos nos falar todos os dias.

— Claro que vamos nos falar todos os dias porque é logico que eu preciso reclamar do seu pai todos os dias. E quem mais precisa ouvir isso além de você? - Sorriu de lado ouvindo a risada de sua filha. — E também quero que você conte tudo o que lhe acontecer. Desde o momento em que acordar até a hora de dormir. Eu não quero que você passe o tempo todo chorando como fazia no ensino médio. Lembre-se que agora você é uma mulher adulta e eu te criei para erguer a cabeça e seguir em frente.

— Ah, isso eu vou fazer. E claro que não vou sair por aí chorando porque estou livre. Livre do Apollo Kade e do seu bullying. - Voltou para suas malas, deu uma última olhada no espelho arrumando seu cabelo para trás da orelha — Mas nesta manhã, não vamos lembrar desse filho de uma mãe, que me fez raiva tanto tempo. Não vejo a hora de ir embora e nunca mais ter que olhá-lo, finalmente.

— Ah minha filha. Você também precisa superar o Apollo. - Ivy revirou os olhos — Você já devia ter reparado melhor, talvez ele faça isso apenas para chamar sua atenção. Toda garota iria querer se aproximar daqueles braços cheios de músculos, e tocar naquele cabelo que b**e no meio das costas, cada fio mais negro que o outro. - A mais nova revirou os olhos buscando sua mochila — E sem contar que quando ele subia naquela moto, ficava um charme. Você sabe quantas garotas eu vi aqui no jardim o pedindo para ir ao baile com elas?

— Eu não sei. E na verdade ninguém sabe por que ele também destruiu a noite do baile. - Parou no meio do quarto puxando todo o ar para dentro dos pulmões, queria se acalmar e não lembrar que na noite em que achou um par perfeito, que estava linda dentro de um vestido rosa, a sua música preferida tocando no fundo, e sem nenhum sinal do Apollo para tirar alguma graça com ela, daria o seu primeiro beijo. Sim, o seu primeiro beijo porque nenhum garoto se aproximava dela depois de tanta palhaçada do seu inimigo. E bem naquela hora, onde seu sangue gelou, o coração disparou… Tudo se apaga, o desespero no peito de todo mundo ali dentro daquele salão ataca.

Ele tinha acabado com tudo.

— Enfim, vamos descer, se o Adam não chegar a tempo, tudo bem. - Pegou o resto de suas coisas com sua mãe ajudando e saíram do quarto. Puderam ouvir algumas risadas vindas da sala e logo encontraram o pai sentado no sofá assistindo outra de suas séries preferidas. Quem via assim, nem parecia que estava preocupado com sua única filha tomando o rumo pra fora DA CIDADE.

Adam não chegou a tempo de pegá-la em casa, mas lhe encontrou ainda no aeroporto. Apesar de já ter avisado que não sairia de casa tão cedo, ele era um garoto responsável, trabalhava em qualquer lugar além de pagar sua faculdade com as tripas e o coração. Tinha ajuda dos pais? Claro que sim, mas quase nunca corria para o colo deles. O abraço apertado naquele momento significou muitas coisas. Era uma despedida, uma forma de mostrar que mesmo distante eles estaria juntos, porque irmãos eram isso; poderiam está a quilômetros de distância, mas eles sempre estariam juntos, seja numa mensagem rápida ou uma ligação de ajuda.

— Boa sorte, e se alguém te irritar, espera ao menos para saber se você conseguira ganhar numa briga - murmurou ao desfazer o abraço fazendo Ivy sorrir. Tá certo que ela sempre foi uma garota estressada, mas as pessoas tinham que entender que ela só se estressava quando Apollo aprontava consigo. Revirou os olhos.

— Não se preocupe. Não vou arrumar briga. Sou uma nova mulher. - Avisou contente, porque de fato estava indo para sua nova vida, e uma nova mulher pousaria em Valcolink onde todos os dias o sol fazia questão de brilhar e dar luz a todas as pessoas boas e quando a noite chegava a lua vinha trazendo um frio incomum.

— Imagino bem, o total desastre que vai chegar naquela cidade. - O irmão se despediu e depois de outros abraços em sua família, ela finalmente deu as costas para ir embora sem nenhuma lágrima no rosto.

Alguém em algum lugar a julgaria por querer, querer muito, desesperadamente sair da sua cidade e de perto da sua família, mas muitos outros iriam entender a sua felicidade de sentar naquela poltrona sem arrependimento nenhum. Seus amigos entendiam a necessidade de conhecer o mundo, sua família também, então não tinha porque se arrepender ou se sentir culpada.

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