Amanhecer

- Já estamos no horário de ir para o dormitório, nunca saia sozinha do quarto, à não ser se for muito urgente, como é seu primeiro dia é melhor não aprontar, a senhora Elisabeth sempre mantém duas pessoas vigiando os dormitórios masculinos e femininos, se você for pega dorme por três dias em um quarto separado, acredite, nunca vai querer ser pega.

- Minha nossa, parece mais uma prisão aqui, vamos dormir então.

Olhei no relógio e eram duas da manhã, acordei com fome, não ia conseguir dormir desse jeito, levantei devagar para ninguém me escutar e fui em direção à porta, sai pelo corredor e fui em busca de algo para comer, até que olhei pela janela e vi alguém saindo...

Era Simon, mas o que ele estava fazendo perto do campo à essa hora, sabia que era perigoso, mas corri para ir atrás dele e descobrir o que ele estava aprontando...

Estava uma noite bem escura e fria, e normalmente eu não sentiria medo, mas me deu um arrepio de medo, onde será que Simon estava, entrei no campo e quanto mais eu andava mais me afastava do internato, e mais ficava escuro, até que eu percebi que estava completamente perdida e não podia pedir ajuda, comecei a correr e comecei a ouvir passos perto de mim, se aproximavam cada vez mais conforme eu ia correndo, estava apavorada, sem saber se era Simon ou outra pessoa, talvez até um animal, respirei fundo e corri o mais rápido que consegui, até que cai em um buraco...

- Onde eu estou ?

- Não tente se levantar...

- Minha perna, droga que dor, o que aconteceu, onde eu estou?

- Você estava correndo feito uma louca pelo campo e acabou caindo em uma armadilha e cortou a perna, no que estava pensando ?

- No que você estava pensando, eu te vi entrando no campo, para onde estava indo à essa hora ?

- Eu não me lembro de ter pedido pra me seguir, e não me lembro de ter que te dar satisfações, você foi uma tola em me seguir, poderia ter acontecido algo pior, menina intrometida.

- Não me importa mais, quero voltar para o internato, me ajude a me levantar por favor.

- Eu não vou te carregar até lá agora, logo irá amanhecer, descanse mais um pouco, quando amanhecer voltamos.

- Não acha que irei dormir aqui com você não é?

- E o que você queria me seguindo então? Você é mais uma maluca que tenta me conquistar é?

- Seu idiota, porque eu iria querer te conquistar, só fiquei curiosa de saber o que estava aprontando.

- Ah, e acabou com uma perna machucada, que ótimo. A propósito o que faz acordada tão tarde assim, crianças não deveriam estar dormindo ?

- Eu só fiquei com fome e olhei pela janela e vi você.

- Nunca mais me siga, é perigoso.

- Que barulho foi esse ? É um lobo ?

- Fique quieta, não devia ter me seguido, você colocou a sua vida e a minha em perigo, garota estúpida, se não morrermos essa noite, fique longe de mim.

- Você acha que o lobo virá até aqui.

- Por algum motivo ele não veio ainda, mas se vier eu não vou me arriscar por você.

- Eu não estou pedindo a sua ajuda, eu vou embora.

- Vá em frente!

- Droga, não consigo levantar.

- Tome isso, um bastão é melhor do que nada, eu vou lá fora.

- Mas e se o lobo te atacar ?

- Eu sei me defender, tenha cuidado...

Eu estava em pânico, ferida, sozinha, em algum lugar que não tinha noção de onde era, uma cabana no meio do nada, somente com um bastão para me defender...

Os uivos pararam, a dor na perna estava mais suportável e começou a amanhecer, com a claridade na cabana eu comecei a ver o interior dela melhor, vários arranhões nas paredes, parecendo ser de algum animal, haviam correntes também, e algo que se parecia com sangue, então me desesperei novamente...

- Venha, vamos voltar...

- Simon, que lugar é esse, aquilo é sangue ? Essa cabana é sua ?

- Você faz perguntas demais, e perguntas que não podem ser respondidas, fique fora do meu mundo, vou te levar de volta para o internato e finja que essa noite nunca aconteceu...

- Onde você estava esse tempo que me deixou na cabana, não teve medo de acabar morto? Ou será que sou eu quem deveria temer agora ?

- O que está insinuando, que sou algum assassino ? Poupe o seu tempo garota, você não sabe de nada sobre mim. Você invadiu um lugar que era meu refúgio daquela escola m*****a, acredite, ninguém está ali por vontade própria.

- Acredite, eu nunca mais irei te seguir, nem vou querer que me carregue assim, nunca mais, não me interessa se é um mocinho ou assassino, ficarei longe ao máximo.

- Está desapontada, achou que porque não deixei você apanhar, se me seguisse ganharia uma noite romântica? Eu estou vendo esse olhar de decepção, mas não se importe tanto, nunca vou me interessar por garota nenhuma desse inferno.

- Você é um completo idiota e convencido se acha que vim atrás de você por querer algo romântico, eu nem te conheço idiota, a propósito eu já odeio você, garoto idiota.

- Já que me odeia vou te deixar aqui nessa linda cachoeira, daqui você se vira pra andar, sou eu quem está te carregando já que se meteu onde não era chamada, boa sorte.

- Vá, não preciso da sua ajuda.

A cada passo minha perna doía, vi Simon passando pela ponte na cachoeira, deveria ser o caminho de volta, minha perna estava doendo tanto, respirei e comecei a andar, espantei meu medo, não olhei para baixo já que não sabia nadar, fui ficando aterrorizada, até que minha perna falhou, em um segundo depois eu já tinha me desequilibrado e estava na água, comecei a me afogar, e quando estava desistindo de tentar ficar submersa e comecei a afundar senti alguém me pegando...

- Garota idiota, está tentando se matar?

- Eu caí, não sei nadar.

Eu estava apavorada, só estávamos nós dois ali, no meio da cachoeira, eu estava nos braços de Simon, respirações ofegantes, ele olhou nos meus olhos e eu olhei nos olhos dele, de repente eu esqueci de tudo e simplesmente o beijei, ficamos ali parados no tempo, nos beijando, eu senti um turbilhão de emoções dentro de mim.

- Agora é melhor eu te levar de volta, você precisa cuidar dessa ferida, se não voltarmos vão dar por falta de nós e haverá consequências.

- Sim, eu sei...

Dias se passaram e Simon simplesmente desapareceu, disseram que pegou uma virose e estava se curando, mas não sei se acredito nisso, eu não parava de pensar naquele beijo, não parava de pensar nele, que droga, eu mal o conheço e já me apaixonei, o que deu em mim ...

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