Capítulo 2
- Há algum problema?

Ricardo levantou as pálpebras, observando-a.

Viviane entreabriu os lábios vermelhos, indecisa sobre o que dizer. Preocupada que Ricardo pudesse interpretar errado, optou por falar:

- Nada de errado, vamos.

Mais cedo ou mais tarde, teria que enfrentar isso.

A meio caminho, Viviane recebeu uma chamada de Gustavo.

Ao ver o brilho intermitente na tela, sua expressão congelou, como se estivesse vendo a si mesma nos últimos oito anos.

Sempre foi ela a tomar a iniciativa de ligar para Gustavo, perguntando como ele estava.

Mas Gustavo nunca a ligou uma única vez.

Mesmo quando ela esteve hospitalizada para uma cirurgia, não recebeu nenhuma palavra de preocupação.

Agora, por causa de Débora, ele podia ligar repetidamente.

Algumas pessoas simplesmente não eram nem comparáveis.

- Você não vai atender? - Ricardo, que estava fechando os olhos no banco do passageiro, virou a cabeça para olhar pela janela.

Viviane olhou para o perfil impecável do homem. Embora não pudesse ver sua expressão, de alguma forma sentiu que ele estava impaciente.

Depois de hesitar, pressionou o botão para atender.

Antes que pudesse falar, a voz irritada de Gustavo veio do outro lado:

- Viviane! Venha imediatamente para o hospital! Você tem ideia de quantos especialistas estão esperando por você? Sabe o quanto Débora está sofrendo? Como pode ser tão egoísta? Eu já concordei em casar com você, o que mais você quer?!

Um sorriso amargo se espalhou pelos lábios de Viviane.

Embora soubesse que Gustavo não a amava, ela nunca imaginou o quão desprezível era em sua mente.

Nesse caso...

- O que mais eu quero, você não sabe? - O olhar de Viviane tornou-se gélido. - Quero o seu amor. Você pode me dar isso?

- Sem vergonha! - Gustavo respondeu com sarcasmo. - Nunca na minha vida vou me apaixonar por uma mulher como você! Viviane, venha agora e ainda terá a chance de se tornar a jovem Sra. Barros. Se demorar, você não terá nada!

Viviane levantou a cabeça, lágrimas amargas fluindo. Seu coração também começou a doer:

- Eu já me casei.

Ao dizer isso, desligou o telefone.

Foi a primeira vez que ela desligou primeiro, e descobriu que a sensação de não precisar esperar de forma submissa era maravilhosamente libertadora.

Do outro lado da linha, Gustavo estremeceu antes de soltar uma risada de desprezo.

Casar?

Como se Viviane, que havia feito de tudo para se casar com ele, pudesse se casar com outra pessoa.

Essa mulher estava se tornando cada vez mais astuta, até mesmo pensando em usar um casamento falso como alavanca em uma negociação.

Que assustador!

...

Depois de desligar o telefone, um ar opressivo tomou conta do interior do carro.

Ricardo, que estava olhando pela janela o tempo todo, levantou seus dedos finos com irritação e pressionou suas têmporas.

O volume da ligação era alto o suficiente para ele ouvir tudo claramente, sem esforço.

Além disso, a voz do homem na ligação soava vagamente familiar.

Ele parecia ter ouvido aquela voz em algum lugar antes.

- Não é à toa que você não gosta de homens. - A voz profunda e rica em timbre ecoou dentro do carro.

Sentindo-se compreendida de repente, lágrimas que Viviane tentava conter rolaram pelas suas bochechas como pérolas cortadas.

- Todos os homens são canalhas!

Ricardo não contestou, apenas olhou para Viviane com um olhar gélido.

Ela tremia violentamente, segurando o volante com força, veias proeminentes nas costas de suas mãos pálidas, a raiva atingindo seu pico.

Mas seus olhos aquosos mostravam uma resiliência inabalável, como uma fênix renascida das cinzas, destemida e determinada a romper as correntes e voar alto.

Ele sentiu algo se mexendo em seu peito. Impulsivamente, ele disse:

- Me deixe dirigir.

Viviane ficou momentaneamente paralisada.

Ricardo não tinha coragem de encarar seus olhos límpidos, então desviou o olhar e disse:

- Não quero morrer na estrada.

Viviane não disse nada.

Eles trocaram de lugar e dirigiram para a casa de Viviane em completo silêncio.

Chegando à entrada da casa, Viviane finalmente conseguiu se recompor.

Ela se olhou no espelho retrovisor.

Seus olhos ainda estavam vermelhos e inchados por chorar, seus lábios, agora descoloridos, pareciam pálidos e desprovidos de vida. Sua pele já clara tornava-a semelhante a uma boneca de porcelana quebrada, pronta para se despedaçar ao menor toque.

Ela retocou sua maquiagem e, depois de garantir que estava tudo bem, virou-se para Ricardo.

- Pronto.

Os olhos de Ricardo hesitaram por um momento.

Viviane, agora maquiada, parecia uma nova pessoa. Seus olhos brilhavam como se estivessem envoltos em névoa, cheios de uma fragilidade e um charme indescritíveis, enquanto seus lábios vermelhos eram irresistíveis. Era impossível desviar os olhos dela.

- O que houve? Há algo errado? – Perguntou Viviane, se aproximando ansiosamente do espelho retrovisor.

Ricardo desviou o olhar, um sorriso ambíguo apareceu em seus lábios:

- Nunca imaginei que a Srta. Viviane pudesse ser tão bonita.

O elogio soou diferente, vindo de sua boca.

Viviane não quis discutir e olhou para a mansão ao longe, nervosamente segurando a bainha de suas roupas.

Respirando fundo para reunir coragem, ela disse:

- Vamos.

Ricardo a observava de trás, os passos de Viviane eram como se ela estivesse indo para um pódio. Levantando as sobrancelhas, ele seguiu atrás dela com bastante interesse.

- Pai, mãe, estou de volta!

Viviane abriu a porta e olhou para a sala de estar.

Ao ver sua filha, Hugo Ribeiro levantou seus óculos de leitura, surpreso e contente:

- Viviane, como você voltou?

Desde que Viviane atingiu a maioridade, ela se mudou para o centro da cidade para facilitar os cuidados com Gustavo.

Olhando para as têmporas grisalhas de Hugo, os olhos de Viviane se encheram de lágrimas.

Todos esses anos, ela focou todo o seu tempo e energia em Gustavo, negligenciando o envelhecimento de seus pais.

Felizmente, ela finalmente percebeu quem realmente merecia sua atenção.

- Pai...

- Quem é esse?

A atenção de Hugo imediatamente se voltou para Ricardo atrás de Viviane.

Com uma intuição aguçada, ele sentiu que o homem à sua frente não era simples.

Viviane hesitou:

- Ele é o meu...

- Ah, minha filha, você voltou! - Acompanhada por uma exclamação alegre, uma figura em vermelho desceu correndo as escadas até a frente de Viviane. - Gustavo me ligou agora pouco, disse que vocês vão se casar. É verdade?

Viviane ficou chocada:

- O quê?!

Gustavo realmente tomou a liberdade de decidir sobre o casamento!

Hugo, alheio ao estado de espírito de sua filha, confirmou com sua esposa, animado:

- É verdade então? Gustavo finalmente concordou em casar com Viviane?

Eles esperaram por este dia por mais de uma década!

Vendo o quão felizes seus pais estão, Viviane mordeu fortemente o lábio inferior.

Que desgraça!

Gustavo calculou que ela nunca desobedeceria seus pais, querendo usar isso contra ela!

Para atingir seus objetivos, ele realmente não tinha limites!

Justo quando Viviane sentiu que estava prestes a sufocar, um par de mãos quentes se apoiaram em seus ombros.

Uma voz magnética e preguiçosa veio de cima:

- Pai, mãe, olá. Sou o marido da Viviane. É um prazer conhecê-los, conto com a benevolência de vocês.
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