Capítulo 6
Ruby Lucchese Olho meio estática, talvez em choque ao ouvir esse nome depois de tantos anos, mas procuro me recompor. Quantos homens com o nome de Igor devem existir no mundo, não é mesmo? — Certo, pode deixar que averigue tudo. Claro, com todos os homens nos seus postos. Irei descer às 19:00 pontualmente. — Bom, vamos terminar os últimos detalhes e iremos descer já, mas preciso perguntar, Ruby, você tem realmente certeza disso? — Eu entendo sua preocupação, Safira, mas é necessário. Fomos criadas sabendo do nosso mundo e de tudo que gira nele, e eu sei me cuidar. Se ele não for um bom marido, o máximo que vai acontecer é eu me tornar viúva em algum tempo e ganharmos as terras da Rússia... Minhas irmãs riram alto, e Ônix nos olhou, tentando entender a graça, mas desistiu. Beijei todos eles, nos abraçamos, e cada um foi terminar o que precisava para o jantar de noivado... O meu jantar de noivado. Era quase 19:00 quando dei uma última olhada no espelho. Meus cabelos levemente ondulados caíam em camadas, presos apenas por um prendedor prateado, que é muito mais que só um prendedor de cabelo. Meu vestido justo revelava todas as minhas curvas, e a maquiagem destacava o verde dos meus olhos, que parecia arder ainda mais hoje. Deve ser pela mistura de sentimentos, causando ódio dentro de mim. Sinto o próprio fogo do inferno me consumir... Ao abrir a porta, me deparo com Jack já me esperando para descer. — Está pronta, senhorita? — Sim, vamos para o meu novo inferno... Jack avisou no rádio, e pude ouvir meu nome sendo falado. Quando cheguei no alto da escada, vi minhas irmãs, Magno e mais alguns homens da alta cúpula. Muitos homens que não eram meus. Mas quem era o tal Nicolai? Não faço ideia, pelo menos não ainda. Desci as escadas calma e graciosamente, deixando todos os olhares caírem sobre mim, quando vi apenas um de costas, sem me dar atenção. Aquilo me incomodou, mas segui com a pose de superioridade. Magno veio ao meu encontro, me parabenizando pelo noivado, mas meus olhos ainda estavam no único homem que não me deu atenção. Foi quando ele se virou, vindo em minha direção. Ele estava no celular e se aproximou com cautela. — Senhorita, é um prazer lhe conhecer. Meu nome é Igor Balabanov, sou o braço direito do senhor Petrov. Ele se atrasou um pouco, mas já está chegando. Peço perdão, mas é nossa primeira vez no seu país. Nossos homens devem ter pegado o caminho errado... Sinto que nem ele acredita no que está falando. Algo está acontecendo. — Imagine, sem problemas. Não irei fugir... Falei sorrindo e fiz sinal para Jack se aproximar. Falei ao seu ouvido: — Descubra o porquê do atraso! — Agora mesmo, senhorita! Ele e mais alguns homens saem sem levantar suspeitas, mantendo o clima de descontração na sala. Vou cumprimentando a todos que estão ali, sem demonstrar toda a ansiedade que está dentro do meu peito. Minhas irmãs fazem o mesmo. Achei melhor não deixar Ônix descer. Tem muito desconhecido, e mal posso confiar nos conhecidos. Passo a mão levemente nos cabelos, arrumo alguns fios e fixo melhor minha adaga, que é o prendedor de cabelo. Olho ao redor, vasculhando cada centímetro, procurando por algo que não esteja no contexto, mas aparentemente tudo certo, como deveria ser... Apesar do noivo não estar aqui ainda. — Ruby, o que houve? Por que o russo não chegou ainda? — Não sei, Jade. O braço direito dele me disse que ele está a caminho, mas achei estranho o atraso. Mandei Jack averiguar. — Entendi. Você percebeu que Magno não tira os olhos de você? — Sim, eu ando prestando muita atenção nele. Tem muita coisa que não está fazendo sentido... Safira se aproxima de mim e também questiona a demora do "noivo", achando estranho a desculpa dada pelo braço direito dele. Atrasado, mas com muita elegância, meu mais novo comprador chegou. Masato Yoshida. — Que bom que conseguiu vir! — Um convite da senhorita é quase uma ordem para mim! Ele beija minhas mãos e sorri. O sorriso dele parecia mortal... — Fique à vontade, iremos servir o jantar em breve. Fiz questão de convidá-lo. Se ele tivesse um problema mais grave com a Rússia, não viria, e eu poderia estar me metendo em apuros vendendo armas para ele. Mas se ele está aqui, esse não é o caso... Já estava perto das 20:00. Eu estava pronta para cancelar o jantar quando vi movimentação nos portões. Vários homens adentraram, fazendo um cordão para alguém passar. O motorista do carro deu a volta, abrindo a porta de trás. Após alguns segundos, alguém desceu. Disfarcei o olhar. Era claro que se tratava de Nicolai Petrov. Horas atrasado, mas era ele. Minhas irmãs mais uma vez vieram até mim. Outro homem desceu do carro. De costas para a porta, esperei ele se aproximar. Minhas irmãs olhavam, mas em total silêncio. Pelos seus olhares, algo as surpreendeu. Será ainda mais velho do que imaginávamos? Assim que ouvi meu nome ser chamado, me virei para ele, tentando me manter em pé, pois não estava sentindo minhas pernas. Como isso é possível? — Eu peço perdão pelo atraso, mas tivemos um problema no trajeto... Ele passa as mãos no terno, olhando para baixo. Quando, enfim, seus olhos cruzaram os meus, vi que ele também não sabia que era eu... Sem falar meu nome, ele apenas sorriu. O sorriso que por muito tempo fez meu coração disparar hoje me fez paralisar. — Joana, avise seu pai para ficarem atentos. Eu e meu futuro noivo vamos ao escritório conversar! Minhas irmãs olharam sem entender nada, mas antes que questionassem, me virei. Eu sabia que ele estava me seguindo e, pelo som dos passos, sozinho... Assim que entrei, esperei o clique da porta e virei para ele novamente, tentando não me alterar. — Que porra é essa? — Bom, "Rachel", acho que não sou apenas eu que tenho que dar explicações, afinal, certo? Ando de um lado para o outro. Isso só pode ser uma piada do destino! — Então você é uma das joias da máfia? A mulher que eu tanto procurei? Aquela que eu cogitei abandonar a máfia por ela? É quase tão perigosa quanto eu... Ele fala, destilando ódio em suas palavras. — Eu não tô acreditando nisso... — Bom, muito menos eu. Mas agora... vai fugir de novo?Capítulo 7Nicolai PetrovAcabamos de desembarcar na Itália para o meu noivado com uma total desconhecida. Tudo pelo que lutei por anos vai acontecer...Meu pai morreu há três anos, e eu nem sabia desse contrato. Sabia que ele queria dominar a Itália, mas um contrato de casamento?Não tenho ninguém. Há muito tempo eu não tenho ninguém. Mas já amei, sim, e a menção de casar por um contrato nunca me agradou. Eu quase fui deserdado há alguns anos, quando cogitei casar com alguém de fora do nosso meio, mas, quando voltei para contar quem eu realmente era, ela simplesmente tinha sumido. E, mesmo com todo o poder e dinheiro que eu tinha, não consegui encontrá-la. Ela simplesmente virou pó...Mas isso é passado, e realmente a Rússia precisa dessa aliança. Não posso pensar apenas no que eu quero agora. Precisamos desse casamento...Mas, para um pai dar sua filha em contrato, tenho até medo do que me espera. Sei que são três irmãs e que são chamadas de As Joias da Máfia, mas não tenho muito ma
Capítulo 8Ruby LuccheseQuando ele me deixou sozinha como se fosse nada, eu terminei de enlouquecer, joguei tudo que estava em cima da mesa do escritório, minha fúria tomou conta de mim!Eu me apaixonei por um idiota mentiroso, e ainda vou ter que me casar com ele!Mas isso, esse sentimento, ficou no passado, ele vai se arrepender desse acordo mortalmente...Tento me acalmar, ele nunca vai me ver abalada!Safira entra no escritório e olha tudo jogado e percebo em seu olhar que ela vai fazer uma loucura sem entender o que houve.— Safira, não, entre aqui e feche a porta!— Foi ele que fez isso? O que houve? Eu mato ele, se ele te tocar, ele é um troglodita?— Não, não foi ele, fui eu, prometo que te conto tudo, mas preciso voltar pra sala antes que questionem minha demora. Assim que o jantar acabar, eu te conto, não faça nada, está bem? E não conte a Jade, depois explicarei para vocês duas.Ela me olha esperando algum lampejo de mentira, mas ela me conhece tão bem que sabe que não est
Capítulo 9Ruby LuccheseAssim que expliquei a elas sobre minhas aventuras na faculdade e sobre ter me apaixonado, elas ficaram surtando. Mas quando contei que o dono do bar era, na verdade, Nicolai, começaram a rir. Riram por tanto tempo que faltou o ar. Eu só olhava para elas, sem entender a graça.— Qual a graça, afinal?— É muito engraçado! No fim, você teve sorte. Vai casar com alguém que ama... ou já amou.— Ele mentiu para mim. Fez isso para pegar mulheres sem compromisso...— E você, "Rachel", não mentiu também?Olhei para elas, incrédula. Como podiam falar assim comigo?— Vocês estão ao lado de quem, afinal?— Do seu, claro. Mas mentir por mentir, os dois mentiram, Ruby.Jade falou sem pensar muito.— Eu apenas não podia revelar minha identidade, mas ele, como homem da máfia, não tinha tantos problemas como eu e...— E mais nada! Você nem sabe. As máfias têm suas leis internas, diferentes. Acho que vocês deviam conversar antes de entrar em uma guerra interna, como aparentemen
Capítulo 10Safira LuccheseQuase morri quando Ruby falou que fiquei olhando o braço direito do seu futuro marido. Eu olhei, mas não achei que ficou tão na cara assim...Juan... Bom, ele me olha, parece querer algo, mas ele é filhinho do pai dele demais. Jamais fará algo que o Jack não aceite, e se envolver comigo com certeza é algo que Jack não aceitaria. Então, ficará só nos meus sonhos. E que sonhos...Chega a esquentar meu corpo só de lembrar dos sonhos que já tive com ele...Vou até o quarto do Ônix, que já dorme tranquilamente, e fico olhando para ele por um bom tempo. Acabo adormecendo ao seu lado. Acordo assustada, mas, ao olhar no relógio, vejo que passou pouco mais de uma hora.— Um chá... É isso que preciso.Desci até a cozinha, que estava toda escura. Acendi apenas uma luz fraca para achar o que precisava. Deixei a chaleira elétrica esquentando e fui buscar pelo chá. O que eu queria estava na prateleira mais alta. Peguei um banquinho e subi. Quando segurei a caixinha, a lu
Capítulo 1 Ruby LuccheseEra por volta das quatro da manhã quando meu celular pessoal tocou insistentemente. Algo estava errado, eu podia sentir. Assim que atendi, ouvi uma voz conhecida:— Tire suas irmãs e seu irmão da casa, minha jóia. Estão...A ligação caiu. Enquanto as palavras do meu pai ecoavam na minha mente, acordei Safira, Jade e Ônix. Peguei todas as armas que pude e seguimos pela saída de emergência, túneis que meu bisavô mandou construir há muitos anos. Pegamos todas as armas que poderíamos carregar e saímos apressados.Na metade do caminho, escutamos tiros. Minhas irmãs queriam voltar, mas precisávamos colocar Ônix no quarto seguro antes de qualquer coisa.— Ruby, o que o papai falou, afinal? — perguntou Ônix.— Apenas corra, Ônix. Depois conversamos, está bem?Minhas irmãs nem perguntam, sabem que algo muito errado está acontecendo. Já estão acostumadas. Agora, Ônix talvez precise de mais noção da nossa realidade...Assim que o coloquei no quarto seguro, liguei as câm
Capítulo 2Safira LucchesePeguei algumas coisas de Ônix, coloquei na mala e pedi para que Emília, a babá dele, o acompanhasse, além dos homens para sua proteção. Não confio em colocar outra pessoa ao lado dele nesse momento. Em poucos minutos, o carro blindado saiu com ele e Emília, seguido pelos carros do nosso esquadrão tático. Juan, filho de Jack, que era o braço direito do nosso pai, era o general dos nossos homens. Ele estava bastante machucado. Eleanor, sua mãe e nossa governanta, estava cuidando dele na cozinha quando entrei. Nossos olhares se cruzaram, e tenho certeza de que fiquei vermelha. Odeio o poder que ele exala e que me deixa assim...— Minha menina, precisa de algo da cozinha? — perguntou Eleanor.— Não, Eleanor. Vim ver como vocês estão. E as outras meninas?— Por sorte, elas estavam de folga hoje, Safira. Eu estava na nossa casa, como fica do outro lado da propriedade, assim que escutei os tiros, me escondi com a Joana...— Ainda bem... Juan, alguma notícia sobre m
Capítulo 3Jade LuccheseSe eu disser que amo essa vida, não estaria sendo 100% sincera. Diferente das minhas irmãs, não sou apaixonada por essa adrenalina de tortura e violência. Mas, se mexerem com a nossa família, a única certeza é a morte. Cresci aprendendo isso e não tenho problema algum em me defender. Não sou uma menina mimada como as que conheci na faculdade, mesmo tendo sempre tudo que quis.Sou extremamente apegada à minha mãe e, nesses últimos dias, sinto que estou me destruindo. Confesso que minha vontade é sair matando qualquer inimigo, antigo ou novo, por pouca coisa ou algo grande. Só quero algo que arranque essa dor de ter perdido nossos pais. Isso tem me consumido, e eu me afundo cada vez mais nos meus antidepressivos.Ao chegar à reunião hoje, confesso que estava completamente aérea, dopada de remédios. Enfrentar a realidade de não ter mais nossos pais está acabando comigo. Após a leitura do testamento, nada fora do normal, mas, nos acordos, até minha mente, que esta
Capítulo 4 Ruby Lucchese Entrei em casa e subi direto para o quarto dos meus pais, onde estou ficando até o final da reforma. Poderíamos ir para outra casa, das inúmeras que temos, ou até para um hotel, mas mesmo depois da invasão, não há lugar mais seguro que a Lá Belle e a casa onde Ônix está. Ainda assim, não quero que ele veja o que estamos fazendo. Então, é melhor que ele fique lá e nós aqui. Peguei meu notebook e comecei a buscar qualquer informação que me levasse à família Petrov, mas, obviamente, não havia nada. Assim como não haveria se alguém buscasse por nós... Que infernoooo! Meu pai não podia ter feito isso! Andei de um lado para o outro pelo quarto, tentando assimilar essa obrigação. Claro, era minha obrigação. Jamais deixaria minhas irmãs passarem por isso. Tinha que ser eu. Fui até a adega e peguei uma garrafa de vinho. Não havia muito o que fazer além de esperar amanhecer e já informar ao Magno minha decisão. Nossos contratos são assinados com sangue, e não deix