Apaixonada Pelo Hacker
Apaixonada Pelo Hacker
Por: Bruna Calil
01 - Início

BIANCA NARRANDO

— Vocês viram que o Robin Hood atacou de novo? Ele derrubou o site da prefeitura e deixou o símbolo dele lá. Parece que umas dívidas de hipoteca foram pagas, ele ferrou com o prefeito essa madrugada. — Ouvi uma garota comentando com a outra. Eu nem sei o que dizer, esse tal de Robin Hood tem tirado meu sono.

Eu fui uma das beneficiadas pelos roubos do hacker Robin Hood. Ele quitou minha faculdade, e eu torço para que um dia eu consiga encontrá-lo e agradecer. Cheguei na faculdade San Andreas como intercambista, mas meus pais foram à falência e eu quase fui embora. Só que ele pagou minha faculdade, e eu ainda estou aqui por isso. Temos desconfiança de que o Robin Hood seja aluno da San Andreas porque muitos alunos pobres tiveram suas mensalidades pagas integralmente.

Tenho vinte e três anos. Vinte e três longos anos de vida que foram uma grande porcaria. Sinto que não fiz nada importante, sinto como se eu não me encaixasse nessa faculdade de gente tão inteligente. Eu entrei aqui no intuito de aprender a programar jogos infantis e pedagógicos, para trabalhar com ressocialização de crianças, e eu tenho me dado bem nisso, mas parece tão... Superficial mesmo assim. Eu queria poder fazer a diferença, como o Robin tem feito.

— Olha lá, o Bill Hammer. Nem parece preocupado que o município do pai foi roubada essa noite. — Marcela girou os olhos. Ela é intercambista brasileira como eu, e minha amiga.

Nós trabalhamos juntas nos jogos, mas o visual dela não se parece em nada com o meu. Ela é morena, de cabelo escuro e longo, olhos levemente puxados e castanhos... Tem muitas tatuagens e uma beleza completamente diferente de todas que já vi. Essa garota poderia dominar o mundo só com a aparência, mas escolheu ser programadora de jogos. Vai entender.

— Ele é um ridículo. Aposto que vai marcar uma festinha particular já que toda sexta é a mesma coisa. — Desdenhei.

— Se ele marcar e pagar tudo, eu vou. Você devia ir também. — Marcela deu risada. Eu também.

— Você é doida, Marcela. Completamente.

— A gente tem que viver a vida, e se o filho do prefeito tá pagando álcool para a galera, por que não?

Entramos na sala de aula cheia de computadores. Eu sentei no meu, Marcela no dela e começamos a assistir a aula. Marcela parecia mais preocupada com seu próprio I*******m do que com a aula, ela é assim. E meu pano tá pronto para passar para ela.

Eu não consigo tirar a droga do Robin Hood da mente. Quando tudo aconteceu, eu abri meu aplicativo do banco e apareceu aquela máscara: Olhos em forma de X, um sorriso com dentes a mostra. Eram traços simples, mas que tornavam a máscara muito assustadora e ao mesmo tempo, irônica. Era como se uma criança estivesse buscando vingança através da tecnologia.

Mais tarde, naquele mesmo dia, o prefeito estava fazendo um pronunciamento na TV. Ele estava tentando acalmar a população (principalmente os ricos, que foram os afetados pelos roubos de Robin), e fazer com que se sentissem seguros. A verdade é que esse cara, seja lá quem for, tem ganhado posto de herói aqui em Chicago. E a faculdade de ciência e tecnologia San Andreas inteira o venera.

Toda a faculdade assistia o discurso do prefeito. Estávamos atônitos. Nós sabíamos que Robin Hood poderia aparecer e causar durante o discurso, e a verdade é que torcíamos para isso.

E foi exatamente o que aconteceu.

A máscara apareceu, seguida de uma frase que Robin sempre usa: "Dê poder aos bons e os maus entrarão em guerra". A faculdade foi à loucura. Parecia que o time favorito havia feito um gol.

Eu confesso que estou obcecada tanto pelo Robin Hood, o hacker que tem feito o caos no nosso município, quanto pelo personagem. Tenho tentado entender de onde vem essa inspiração e se algo poderia me levar ao homem por trás da máscara com olhos de X. Perdi as contas de quantas versões do livro Robin Hood eu li. Versões de Alexandre Dumas com diferença de anos, remodelagens, versões de autores desconhecidos...

E aquela frase, aquela m*****a frase, me fez lembrar de uma versão específica que eu aluguei na biblioteca daqui mesmo há um tempo atrás. Será que o Robin realmente estuda aqui?

Corri pela faculdade em meio ao caos e euforia daquele pronunciamento patético do prefeito com a aparição de Robin, e fui em direção à biblioteca. Eu precisava ter certeza de que essa frase estava nesse livro específico. Me lembro de ter lido em algum lugar que muitas partes são reescritas ao longo dos anos, e essa frase não estava em mais nenhuma das versões.

Corri para a sessão de livros onde Robin Hood estava. Era um livro mal visto e com a capa rasgada. Os alunos tem alugado bastante versões da história, mas não essa, por causa das páginas amareladas e o cheiro de mofo.

Eu abri o livro e essa frase estava grifada a lápis. Te peguei, Robin Hood. Olhei para os lados, tirei uma caneta e um pedacinho de papel da bolsa e decidi agir. O bilhete dizia o seguinte: "Obrigada por pagar minha faculdade."

Não assinei. Nem ao menos, aguarde uma resposta. Eu só colocou o ingresso ali e foi na direção da porta da biblioteca, como o coração na garganta. Por alguma razão, tenho certeza de que Robin está mais consciente do que eu jamais imaginei.

Quando cruzei para o portão, trombei como filho do prefeito, Bill. Ele tem um rosto muito grande, musculoso, tem um braço misterioso, mas ao mesmo tempo se expõe demais. É ou quase ou típico de prefeito, se no fosse tatuagens nos braços e mãos. Ele é cuidadoso, alegre e fofinho, e é uma pessoa que adora uma festa na sexta à noite nos cremes do papai... Uma bem chata, na minha opinião.

- Com licença, Bia. — Passou por mim com um smile no rosto.

— Eu não era nada. - Eu digo. Nunca vi aquele rosto na biblioteca...

Resolvi segui-lo. Foi na direção do corredor onde estavam os livros de Robin Hood. Talvez ele fosse teimoso tanto quanto eu, mas eu me preocupava em achar uma passagem e fazer uma bobagem. Então, caminhei discretamente pelo corredor e me vi mexendo em outro livro, chamado "Tristão e Isolde". É uma história épica também e honestamente, eu não enfrento ou gênero, não descasca a cara que temos. "Não jogue um livro com sua capa, Bianca!" Eu repeti para mim mesmo, mentalmente.

— Não sabia que gostava de ler. — Matéria Puxei. Eu só queria proteger o livro de Robin Hood no meu bilhete.

— Ah, meu prazer. Este livro é interessante, alias. Ha leu? — Ele questionou, me mostrando a capa.

— Ha li. Eu adoro o conto de Tristão e Isolda. É muito triste... Mais de uma vez quando gosto de rir. — Ele riu, e passou a mão no proprio scuro e bem arrumado cabelo.

— Eu já li todas as versões que encontrei. Esse é o último. — Ele falou. — Estou pensando em roubar a biblioteca.

— Ah, então você é um ladrão como o seu país? - Eu pulei.

— Uma fruta não cai longe do pé. Você sabe como ele é. — Ele riu mais uma vez. Ou que eu sou um idiota, eu sou fofo. Mandíbula perfeita, grandes olhos castanhos, um sorriso cativante.

Depois de uma conversa amigável, ele disse. Fingi que estava vendendo livros na mesma prateleira que ele e só estava grávida quando ele estava grávida também. 

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