Carina estava cansada de todos os dias levantar cedo para ir para o trabalho. O que ganhava naquele escritório dava apenas para pagar sua faculdade de administração e nada mais. O que compensava era todos os dias almoçar com a vista para o Central Park, lugar de seu mais profundo desejo.

Enquanto esquentava sua marmita fria no micro-ondas ela percebeu que suas colegas de andar estavam indo para o restaurante. Ela apenas virou de costas, pegou sua vasilha ainda quente, se acomodou na sua mesa. Por alguns minutos apenas apreciou a vista. " Ainda quero morar aqui. Ainda vou morar aqui ! " ela comeu sem vontade, apenas sonhando acordada em sete a próxima dona dos luxuosos apartamentos que davam para o parque Verde e cheio de vida.

Central Park é o lugar mais cobiçado de New York e se Carina quisesse realmente ter um apartamento ali, ela no mínimo deveria virar milionária. Seu salário mal dava para ela fazer as coisas que precisava para sobreviver.

Após terminar seu almoço ela percebeu suas colegas voltando, mas nem se incomodou em levantar. Apesar de trabalhar por pelo menos dois anos, ainda se sentia uma estranha no meio daquelas pessoas. Ela nunca conseguia fazer amizade rápido demais. A única pessoa em que decidiu se aproximou acabou se tornando o seu namorado, mas um trágico acidente o tirou da vida dela pouco mais de 3 meses de relacionamento.

Após o terrível incidente ela se fechou em seu mundo, onde usava sua imaginação para imaginar ser uma mulher rica e feliz, morando em seu lugar dos sonhos, com um carro novo e viajando o mundo.

Sua hora de voltar ao trabalho tinha voltado quando ela se pegou pensando um pouco no passado. Estava com saudades da mãe, desde que ela abandonou Carina e Bella, sua irmã mais nova. Raramente conseguia falar com ela. As vezes dava sorte dela ligar para o orfanato, mas isso acontecia mais em datas comemorativas, como aniversários e quando ainda era mais nova nos dias festivos como dia das crianças e Natal. "Por onde será que você anda, dona Silvia? Gostaria tanto de perdoar o seu abandono, mas isso parece difícil para mim até hoje. " Carina se assustou e despertou dos seus pensamentos quando escutou uma voz chamando, era o chefe do seu departamento.

"Me desculpe! Prometo que vou ligar agora mesmo o sistema. " Ela empurrou sua vasilha para o lado. Aquele dia tinha passado dos limites para voltar ao trabalho.

"Espero que você esteja bem. Mas se acalme. Não está tão atrasada. Preciso que venha comigo até a minha sala, por favor." O homem alto deu as costas para Carina.

Ela apenas assentiu e já se levantou rapidamente para acompanhar o homem. "É um milagre ele não ter reclamado da minha demora. "Ela falou baixinho, mas não o suficiente para sua voz passar despercebido do chefe, que a olhou imediatamente.

Carina corou quando ele a olhou, seu olhar era sério, parecia ter algo a falar. "Espero que seja demitida hoje. Meu Deus! Eu tenho tantas dívidas. Não só eu, mas a Bella também. "Dessa vez ela usou a voz da sua mente, não daria para correr o risco de pensar em voz alta novamente.

Ao entrar na sala, Carina sentiu um calafrio correr a espinha. Não gostava de situações assim, quando a atenção estava direcionada a ela. Ela sentou com cuidado na poltrona. Enquanto o homem olhava alguma coisa em seu computador.

Ela estava agitada. Mas começou a reparar em sua volta. Era uma sala muito masculina, com poucas decorações. Parecia ser um homem prático. Carina mudou o seu foco para o rosto do chefe, nunca tinha reparado tão de perto. "Olhando bem, ele não é um homem nada feio, apenas, um pouco desleixado " Ela pensou enquanto escutou a voz dele no fundo a chamando.

"Carina, quero ir direto ao assunto. Você sabe que acima de mim temos o dono da empresa. Ele quer marcar uma reunião com você. Apenas com você. Quando soube eu me preocupei. Você fez algo de errado? Se fez, preciso que me fale antes mesmo de conversar com esse homem. Ou eu posso perder meu emprego também.

Carina pareceu tão surpresa quanto o chefe. Seu coração começou a disparar. Antes de responder ela tentou analisar para si mesmo se realmente realmente tinha feito nada de errado, além de se querer ver coisas que não deveria no computador do homem à sua frente. Mas ela não tinha culpa, apenas foi levar uns papéis na mesa quando viu uma planilha em que tinha uma quantia extraordinário de dinheiro divididos em semanas. "Não é possível que essa pequena empresa pode fazer todo esse dinheiro em tão pouco tempo. "Ela se lembra que pensou exatamente isso quando viu aquilo.

"Não me lembro de ter feito nada de errado, senhor. Absolutamente nada. Nem de rodas de fofocas eu participo". Ela decidiu manter em silêncio o que tinha visto, pois ela sabia que o dono da empresa era um homem poderoso. Mas algo dentro dela sabia que eram dados de dinheiro ilícito.

"Se você está falando. Eu te conheço muito pouco, você é sempre muito quieta na sua mesa. Mas de qualquer forma ele quer falar com você amanhã. Venha um pouco mais apresentável por favor."

Carina se sentiu um pouco constrangida, ela sabia que realmente precisava comprar algumas roupas. Ela andava por aí com trapos. "Não posso negar que ele foi rude. Mas talvez esteja certo. Não posso apresentar para o dono da empresa desse jeito". Ela apenas assentiu e saiu da sala.

Depois disso não conseguiu mais se concentrar no trabalho. Não conseguia imaginar o porquê um homem poderoso gostaria de marcar reunião com ela. E apenas ela.

Ela respirou fundo e começou a guardar suas coisas. Estava já se esquecendo que teria que se encontrar com Bella para comprar alguns livros. Romance era sua paixão, como um vício, um dos seus sonhos era um dia se apaixonar de verdade. Casar por amor. Diferente de sua mãe, que sempre apanhava do seu pai. Carina não conseguia imaginar que um dia sua mãe pudesse ter amado um homem como aquele.

Ao entrar no ônibus seus pensamentos voltou novamente para sua mãe. "Talvez seja por isso que ela nos deixou. Não aguentava mais sofrer". Por um momento Carina sentiu compaixão por ela. Porque ela também não aguentava ver a mãe tão triste todos os dias. "Espero que ela esteja bem".