ClaireJean-Luc tentou se aproximar mais uma vez, mas eu levantei a mão, impedindo-o.— Você foi injusto, Jean-Luc — sussurrei, sentindo a dor atravessar minha voz. As portas do elevador se abriram e eu saí às pressas, entrando no quarto.— Claire... eu...— Você me envolveu nisso sem me dizer nada — berrei, interrompendo-o. — Você me jogou no meio disso tudo e esperava que eu simplesmente aceitasse sem perguntar? Qual era a porra do seu plano? Minha vida foi colocada em risco!Jean-Luc tentou falar, mas eu já havia me virado. Caminhei até minha mala e comecei a abrir o zíper, pegando minhas roupas e jogando-as de volta dentro dela.— Claire, não faz isso. Me escuta. Eu tive motivos...— Me leva para casa. — Minha voz soou firme, mas eu sabia que ele podia ouvir o peso da decepção nela. — Agora!***A viagem de volta para França foi feita em um silêncio ensurdecedor. Jean-Luc não ousou emitir um ruído. Mas seus olhos sobre mim diziam muito. Estava aflito, magoado, triste e decepcionad
ClaireO silêncio da manhã envolvia a casa como um véu delicado. Jean-Luc havia saído há pouco para buscar algo para comermos, deixando-me sozinha no escritório, ainda impregnada com os ecos da noite anterior. Minha mente ainda girava, confusa, tomada por uma tempestade de sentimentos conflitantes. O desejo bruto e desesperado que havíamos compartilhado ainda queimava sob minha pele, mas junto dele, algo mais sombrio começava a se formar. Algo que eu não conseguia nomear completamente.Eu me levantei do sofá, minha respiração um pouco descompassada, estava tomada por um ansiedade que não passava. Com passos cautelosos, vestindo apenas sua camisa, comecei a andar pelo escritório. O cheiro dele estava impregnado em toda parte. Devia passar muito tempo do seu dia aqui. Meus olhos percorreram o ambiente até pousarem na grande mesa de carvalho escuro. Respirei fundo antes de puxar a primeira gaveta. Meu estômago se revirou ao encontrar uma pasta de couro envelhecido com meu nome escrito em
ClaireUm soluço escapou dos meus lábios. O medo e a raiva colidiam dentro de mim, transformando-se em algo sufocante. Meu peito subia e descia em respirações ofegantes.— Eu não sou algo que você pode possuir — minha voz falhou. — Isso não é amor, Jean-Luc. Isso é uma doença.Ele piscou algumas vezes, como se estivesse tentando processar minhas palavras, balançando a cabeça em negação. O silêncio que se seguiu foi denso, doloroso.As lágrimas escorriam pelo meu rosto enquanto eu tentava encontrar uma saída, enquanto tentava entender no que eu havia me metido. E, pela primeira vez desde que o conheci, tive certeza absoluta de que precisava fugir dele. Mas Jean-Luc estava ali, parado diante de mim, os olhos fixos nos meus, cheios de uma intensidade que me deixava atordoada.— Não faça isso. Não me deixe. Eu esperei pelo momento certo para me aproximar de você. Não sou louco. Só cuidei para que as coisas fossem boas e acontecem na maneira correta — Sua voz era um sussurro rouco, quase r
ClaireEu encarei meu reflexo no espelho, o rosto pálido e os olhos arregalados, ainda brilhando da torrente de emoções que Jean-Luc havia me feito sentir. Meu coração parecia uma criatura selvagem, batendo contra minhas costelas, sem rumo, sem lógica.Meus dedos deslizaram pela superfície fria da pia, tentando ancorar-me na realidade. Amar Jean-Luc era como ser tragada por um vendaval. Era intenso, visceral, uma força incontrolável que me puxava para dentro do abismo. E ainda assim, mesmo sabendo de tudo, mesmo sabendo o quão errado tudo começou, o quão perigoso ele era, eu o desejava. Deus, como eu o desejava.— O que há de errado comigo? — murmurei para o espelho.Eu queria acreditar que conseguiria me afastar. Que encontraria forças para me reconstruir longe dele. Mas a verdade se infiltrava em meu peito como um veneno. Eu o amava. Amava o homem que me vigiou por dois anos, que escondeu segredos aterradores de mim, que possuía uma vida da qual eu jamais deveria fazer parte. Era es
ClaireQuando abri a porta e vi Jean-Luc parado ali, algo dentro de mim se retorceu. Seus olhos me prenderam de imediato, e o peso do que havíamos vivido, das descobertas e das mentiras, pairava entre nós como uma tempestade prestes a desabar.Eu devia mandá-lo embora. Devia fechar aquela porta e fingir que ele nunca tinha existido. Mas não tinha essa opção quando ele me colocou na mira de uma russa sedenta de vingança.Sem dizer nada, me afastei para que ele entrasse. Ele hesitou por um segundo antes de cruzar a soleira, e eu fechei a porta atrás dele. O silêncio pesava tanto quanto minha própria respiração.Ele parou no meio da sala, as mãos nos bolsos do casaco, como se quisesse se segurar para não me tocar. Seus olhos percorriam meu rosto, como se buscassem alguma permissão para falar.— Como você está? — ele perguntou, baixo, quase num sussurro.Ri, sem humor.— Está mesmo me perguntando isso? — Minha voz saiu afiada, carregada de ironia e irritação.Jean-Luc suspirou, desviando
ClaireParis, 2018. A noite caía suavemente sobre a Cidade das Luzes, derramando sombras longas pelas ruas estreitas e antigas. Eu sentia o frio úmido penetrando minha pele, mas meu coração ardia com uma inquietude que nenhuma estação poderia acalmar. Caminhava apressada pelo Boulevard Saint-Germain, com meus pensamentos dispersos como as folhas de outono aos meus pés. A galeria onde eu costumava buscar inspiração estava a poucos metros de distância, e eu ansiava pelo refúgio silencioso que as pinturas ofereciam. Eu precisava escapar das memórias que me assombravam, das incertezas que pendiam sobre meu futuro como uma espada invisível. As ruas de Paris, embora familiares, pareciam mais solitárias naquela noite. Entrei na galeria, e o cheiro familiar de tinta e madeira velha me acolheu imediatamente. Passei pelas obras conhecidas, cada pincelada contando uma história, mas naquela noite, uma sensação de antecipação rastejava pela minha mente. Meus olhos começaram a percorrer ao redor.
ClaireOs dias que se seguiram foram marcados por uma inquietante sensação de expectativa. Cada pensamento meu era tomado por Jean-Luc Moreau, seu sorriso enigmático e os olhos que pareciam sondar minha alma enquanto falávamos de arte. Eu tentava afastá-lo de minha mente; era ridículo pensar tanto em alguém que conheci por menos de meia hora, mas ele insistia em ocupar meus pensamentos como uma obra inesquecível. Naquela tarde de céu nublado, eu estava em um pequeno café no Marais, tentando concentrar-me em um livro que mal conseguia ler. Minhas mãos tremiam de modo quase imperceptível ao passar as páginas. Meu coração estava acelerado como se o amontoado de palavras no papel estivesse prestes a me levar a embarcar em uma aventura desconhecida. Então, ele apareceu. O sino acima da porta anunciou a chegada de alguém junto a um leve arrepio nos meus braços. Imediatamente olhei para a entrada a tempo de ver Jean-Luc atravessar pela porta com uma elegância natural. Seus passos determina
ClaireSuas palavras foram o suficiente para selar nosso destino naquele fim de tarde até o cair da noite. O café se esvaziou ao nosso redor, mas nós permanecemos ali, presos em um jogo de olhares e palavras que pareciam desafiar as leis do tempo e do espaço enquanto falávamos sobre arte e um pouquinho de nada sobre mim e meus estudos. Por um segundo, senti que estava falando muito e rápido demais. Estava começando a parecer exagerada. Então, eu me calei, suspirei fundo e tomei um gole do meu café que já estava gelado. Prova de que eu havia falado demais! — Claire, posso lhe fazer uma pergunta? — perguntou Jean-Luc após um momento de silêncio carregado. — Claro — respondi, sentindo meu coração bater mais rápido. Ele estudou meu rosto por um instante, como se estivesse buscando algo nas linhas sutis de minha expressão. — Por que Paris? Por que deixar sua família e vir para cá estudar arte? A pergunta de Jean-Luc era direta e simples, mas carregava um peso que eu não esperava. Eu r