Capítulo 5

 Stephen havia se remexido, irrequieto, quando viu Serena debruçar-se sobre o teclado do seu companheiro de trabalho, favorecendo aos espectadores atentos com uma boa parcela de seus atributos posteriores, arredondados e convidativos, mas quando ela se sentou e começou a cantarolar A-ha com tanta suavidade, aí sim sentiu sua imaginação de fato voar. Fantasiou fazer amor com aquela sereia à beira mar, quando o entardecer e as gaivotas enfeitavam o céu, e o calor era suficiente para deixá-los ainda mais dispostos para um sexo criativo e desinibido.

O olhar dela subitamente vindo pairar sobre ele foi um prêmio à parte. Teve vontade de levantar e ir ao seu encontro, tirar-lhe do palco e levá-la imediatamente ao seu apartamento para se amarem a noite inteira. Que mulher tentadora! My God!

Pelo que conhecia de cantores de boate — e aquele bar parecia uma — Serena estava desacelerando o público para fazer uma pausa ou encerrar seu trabalho por hoje, então ele manteve-se mais atento ainda aos seus movimentos, preparando-se para partir para o ataque a qualquer momento. Duvidava que ela simplesmente se levantasse e saísse dali, deixando o público no vazio. Por certo ainda haveria pelo menos mais uma música, que os clientes pediriam, como praticado no mundo todo.

****

— Pessoal, agora vocês já sabem, hora da cantora molhar a garganta e os meninos aqui atrás abordarem as damas aí fora! Lúcio, Diogo, Lipe, Gui, a banda Paraíso, aproximem-se! Palmas para a banda, pessoal! — Serena fez um movimento abrangente, mostrando os rapazes bonitos e sorridentes da banda, que se curvaram reverentemente assim que as moças do bar começaram a gritar e bater palmas, num ritual já familiar aos frequentadores. 

Serena esperou os gritinhos histéricos e divertidos se acalmarem um pouco e se levantou do banquinho:

— Quinze minutos, pessoal!

Contrariando as expectativas de Stephen, a cantora deixou o palco rapidamente, sem bis, e desapareceu por uma porta atrás dos instrumentos.    

****

Stephen saltou da cadeira, praguejando. Correu para o balcão do bar, onde duas moças atendiam, uma fazendo malabarismos com garrafas para os clientes, e outra, mais perto do local em que ele se debruçara, recolhendo copos. As tatuagens da segunda, coloridas e femininas, destacavam-se nos braços de pele clara e combinavam com seus cabelos vermelhos espetados.

— Boa noite.

— Uau! — a mulher ruiva, que recolhia os copos, abriu um sorriso — Boa noite. Sou Luíza, sua bartender hoje.

— Stephen, seu cliente hoje. — Ele abriu um sorriso.

Luíza inclinou um pouco sobre o balcão, perscrutando-o.

— Muito bem, onde estão os outros?

— Outros? — Stephen piscou.

— Sim, querido. Os outros anjos. Você é um deles, né? E costumam andar em bando, que eu sei. Tenho certeza que deixou o céu há pouco, e ouviremos as trombetas de seus companheiros em breve.

Stephen deu uma risada suave e agradável, bem a seu estilo.

Ela apontou-lhe o dedo enquanto escutava a risada:

— Ah! Estou ouvindo o som celestial, estou! — Ela riu, e piscou um olho, encerrando o flerte brincalhão: — Bem, vamos lá, o que vai beber?

— O que Serena bebe? Vou beber com ela.

Luíza empertigou-se, e encarou-o, séria:

— Serena não é acompanhante de solteiros. É uma cantora, senhor estrangeiro.

Stephen detectou rispidez. Não preconceito ou ciúme, mas proteção. Apressou-se em responder:

— Sei. Mas também deve sentir sede, certo?

— Ela não se senta com clientes, muito menos bebe com eles. Só com amigos. Não se deixe enganar pela dancinha sexy, nem pela voz sedutora, ela não é umazinha dessas que estão disponíveis para qualquer coisa. Com ela a parada é séria — respondeu, friamente.

Esse tratamento pouco amigável podia mesmo inibir um homem, pensou Stephen, contendo um sorriso irônico. E o que exatamente queria dizer “parada”? Nunca entendia bem esta gíria carioca que se aplicava para quase tudo. Procurou ser simpático:

— Calma, Luíza, sou do time dos bonzinhos. Porque não posso oferecer uma bebida à cantora?

Ela inclinou o rosto, e um foco de luz refletiu o brilho no piercing em seu nariz.

— Ah, não, meu caro, essa sua carinha de anjo quase me enganou, mas não vou ajudá-lo com isso. Que tal escolher algo para você beber e voltar à sua mesa? Certamente haverá muitas outras moças disponíveis pelo salão, ansiando por companhia masculina esta noite. — Deu-lhe um sorriso frio, bem diferente do tratamento caloroso de minutos atrás.

Stephen suspirou. Ah, mulheres unidas eram um grande problema!

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