Tristemente "meu desmaio" foi tão convincente que Giana e Derek insistiram que eu deveria ir descansar no meu apartamento. Que não levariam a mal e me agradeciam por ter feito o esforço de acompanhá-los o máximo que pude nesse dia tão especial. É assim que agora estou de mãos dadas com minha sobrinha sonolenta pelo corredor do prédio onde moramos.Gostaria de dizer que estamos sozinhas as duas a poucos minutos de chegar ao nosso doce lar, mas Mateo insistiu em nos acompanhar até a porta. Ele não tocou no assunto do casamento ou do anel, eu também não, nem quero.— Mãe... estou com sono... quero dormir... — diz Amy esfregando seus olhinhos.Parece uma nuvem com seu vestido branco pomposo. Está adorável. Ignoro o "mãe" desta vez, só desta vez. Como eu poderia repreendê-la parecendo tão fofa?— Já vamos chegar. Mais alguns passos, e vamos dormir — informo — Aquela é nossa porta. Chegamos.Acelero meu passo para alcançar nossa porta, abro com minha chave e faço Amy entrar no apartamento. E
— Não dei a chave para você. Foi para um dos seus funcionários para que me ajudasse com um problema nos encanamentos — lembro perfeitamente o destino daquela chave extra. A única. Aquela que nunca me foi devolvida.— É quase a mesma coisa — ele dá de ombros e se levanta — Quer um café ou uma bebida energética? Não sei o que seria melhor para o seu estômago depois de um desmaio como esse.Ele diz isso com grande sarcasmo enquanto se dirige à minha cozinha. Eu sou a que não sabe o que é pior, que ele tenha tido uma chave da minha casa todo esse tempo ou que esteja servindo café na minha cozinha. Quer dizer, ele estava preparando café para a minha chegada. Ele coloca as duas xícaras na mesinha da cozinha. Senta-se com muita calma. Eu não.— Quem diabos você pensa que é para me servir café na minha própria casa? — argumento furiosa — Você não tem o direito de entrar na minha propriedade sem a minha autorização. Não podia tocar a campainha como uma pessoa decente?— Se eu tocasse, você me d
Meu carro parou de funcionar uma noite da maneira mais perigosa possível. Estava voltando para casa do trabalho, tinha sido um dia particularmente difícil em que tive que ficar até tarde. Em uma curva o carro desligou, e por pura sorte, o caminhão e a caminhonete que vinham atrás de mim não me tiraram da pista.O que eu acreditava ter sido um infeliz acidente, Luciano está me afirmando que não foi. Que foi provocado e que, novamente, o perigo estava atrás de mim.— Ninguém vai cuidar melhor de você do que eu? — engulo com dor — Quem tem cuidado de mim afinal?— Você não precisa saber. Agora sim, serei eu o encarregado da sua proteção — informa.— Não preciso da sua proteção. Não agora, quando você me abandonou talvez sim — recrimino.Parece que o que digo o machuca. Embora aquela expressão de dor desapareça rápido, muito rápido.— Seu carro diz outra coisa. Também não entendo qual é sua rejeição por mim. Fiz o melhor que pude por você.Tenho que sorrir com raiva diante de sua fala desc
Tal pensamento me deixa furiosa de repente. Por que diabos eu tinha que pensar naquele desaparecido?— Você está brava com as batatas, mamãe? — pergunta inocentemente Amy ao meu lado.Ela está sentada em um banquinho alto com seu avental de cozinha, há pedaços de cebola e cenoura pelo balcão porque ela está experimentando o que é ter pulso firme. Quem não deveria estar fazendo isso sou eu; percebo com seu comentário que espirrei batata quente na minha camisa ao amassá-las com raiva. Me limpo, sorrio esquecendo do meu ex-marido.— Não estou. Por que eu estaria? Terminou a salada? Deixa eu ver.Amy me mostra orgulhosa, então peço para ela trazer os limões para fazer a limonada. Ela vai empolgada, não sei por quê, mas ela gosta de espremer limões. Minha campainha toca.Estranhando, vou até a porta, confirmo quem está pelo olho mágico... é Amanda. Não esperava por ela hoje. Abro. Nisso ela me dá um grande sorriso.— Como você está, Marianne? — ela me cumprimenta.Amanda mudou muito desde a
Como sua vida pode desmoronar tantas vezes seguidas? É a pergunta que repito sem parar na minha cabeça. Sabia que Amanda viria buscar sua filha algum dia, mas esperava que esse dia não coincidisse com meu possível rompimento com Mateo, o aparecimento de Luciano e minha integridade em risco por causa dos Kosnikov.— O que você acha? Concorda que eu a leve comigo? — questiona Amanda nervosa.Limpo minha garganta, mantenho minha cabeça erguida. Devo agir no melhor interesse de Amy. Ela é o mais importante nesta situação.— Ela é sua filha, Amanda. Além das autorizações temporárias que você me assina, não tenho nada que me prenda a ela. Você é a mãe dela, ela deve estar com você, mas... você pensou nos sacrifícios que terá que fazer para tê-la ao seu lado?Amanda concorda com força, se prepara para me dar uma grande explicação.— Pensei em tudo. Estou procurando um apartamento perto do jardim de infância da Amy. Dois quartos. O pessoal da agência sabe que sou mãe solteira, não têm problema
— Posso acreditar, é uma coisa absurda — comento sorridente.Percebo que nenhum dos dois me dá passagem para o apartamento. Estão bloqueando a porta.— Preciso do meu tablet. Esqueci no seu escritório — minto já que estamos de mentirosos esta noite.— É? Não o vi, nem... — menciona Mateo confuso.Interrompo sua confusão enquanto abro espaço para entrar no apartamento. Bancando a boba e a desentendida, entro.— Tenho certeza de que deixei aqui. Preciso procurar por conta própria...Entro no apartamento sem que Mateo possa me impedir, meu caminho até o escritório dele não revela nada estranho. Tudo em ordem. A única coisa que não está é a irritação de Mateo ao se fechar comigo em seu escritório. Finjo que procuro o tablet que nunca deixei aqui.— Precisava usar a desculpa do tablet para entrar no meu apartamento? Limpam diariamente este escritório, não me falaram de nenhum tablet que não seja meu, Marianne — o escuto às minhas costas.— E você precisava colocar uma mulher no seu apartame
Narrado por Luciano BrownFiz o que devia fazer. É o que repito constantemente para não recair em arrependimentos inúteis. Não escolhi um caminho fácil, poderia ter escolhido, mas não o fiz. Assim era a vida, você sacrificava, apostava e podia ganhar ou perder. Que eu estivesse disposto a perder tudo e de repente mudasse de opinião por causa de Marianne, não estava nos planos. Agir espontaneamente acabou estragando tudo há quatro longos anos.Nunca deveria ter me fixado em Marianne, nunca deveria ter me casado com ela, nunca deveria tê-la amado, nunca deveria tê-la colocado em tal risco. Agora estou pagando as consequências disso. A noite está chuvosa, as ruas molhadas e os vidros do meu carro embaçados.Mesmo assim, posso vê-la, Marianne do outro lado da rua descendo de um táxi. Está usando roupa de escritório, e curiosamente as gotas pararam de cair enquanto ela entra no edifício de Mateo. Hoje é quinta-feira, o primeiro dia em que ela se encontrará com ele desde a briga pela propost
— Canibalização de empresas. Acontece o tempo todo — comenta como se fosse evidente.— Não é muita coincidência que eles também colaborassem conosco?Antes do escândalo da Belmonte Raízes, os Nichols tinham informação privilegiada sobre a SMB que foi fornecida por nossas agências. Foi uma troca de favores. Essa foi a razão pela qual para fechar o acordo da New Century, Mateo solicitou remover a cláusula de associação com a SMB.— Sobre os negócios dos superiores, nem você nem eu temos assunto nisso...— Mas se meu ressentimento fosse mais que ressentimento, fosse a verdade, não te interessaria expor tais associações? Não seria benéfico para você? Você tem grandes ambições, Julia, e também está cansada de receber ordens de corruptos sem um pingo de moral.Julia não me responde, escuto sua respiração agitada, sei que a convenci. Se há algo que sei sobre ela é que não costuma se contentar com a injustiça.— Vou aprofundar nos acordos que tiveram. Não será fácil. Vou precisar da sua ajuda.