Guilherme narrando :— Respeitar? Você engravida minha filha e depois tá agarrado com outra como se fosse normal? Acha que é o quê, moleque?— Não, eu acho que sou um homem que não vive mais com a sua filha, que terminou com ela antes mesmo dessa gravidez surgir — falei firme, mantendo a postura. — E que, inclusive, tem direito de refazer a vida.— Acha mesmo que vai fugir dessa responsabilidade? Porque tá se iludindo com uma assistentezinha metida a primeira-dama de empresa?Meu sangue ferveu, mas respirei fundo. Eu não ia perder a cabeça. Ele queria isso. Queria o meu descontrole pra usar contra mim.— Eu nunca disse que não assumiria responsabilidade nenhuma. Mas eu também não sou otário. E essa gravidez… ainda tá mal contada.Ele me encarou com um misto de surpresa e indignação.— Você tá dizendo que minha filha tá mentindo?— Tô dizendo que os fatos não batem. Que o tempo não bate. E que, sim, vou fazer um exame de DNA antes de assumir qualquer coisa.Ele riu com desprezo.— Você
Camila narrando :Depois que saí da sala do Guilherme, fui direto pra copa. Peguei um café preto e me encostei no balcão, tentando acalmar meu coração. O gosto forte e amargo desceu pela garganta, mas nem aquilo me tirava da cabeça o que tinha acabado de acontecer.O pai da Jamile entrando daquele jeito na nossa sala, gritando comigo, me olhando como se eu fosse culpada de tudo. E o Eduardo… ali, calado, como se assistisse a um teatro barato.Suspirei fundo e decidi sair. Fui até a porta lateral da empresa e caminhei em direção ao lado de fora. O ar fresco bateu no meu rosto, e por um instante, respirei aliviada.Mas foi só olhar pro outro lado da rua que meu alívio sumiu.Lá estava o Eduardo… discutindo com ninguém menos que a Jamile. Eles gesticulavam, falavam alto, pareciam nervosos. Me escondi um pouco, tentando não chamar atenção, e atravessei a rua devagar, curiosa e desconfiada.Fui chegando mais perto, mas antes que eu conseguisse ouvir alguma coisa, Eduardo bufou, virou as co
Guilherme narrando :Eu tava sentado na minha sala, tentando focar em um contrato importante quando a cabeça começou a pesar de novo. Aquele encontro com o pai da Jamile ainda tava me remoendo por dentro, e a preocupação com a Camila não me dava sossego.Peguei o celular e liguei pra ela. Uma vez. Duas. Três.Nada.Ela não atendeu.Minha mão já começou a suar. Camila nunca deixava de atender assim, ainda mais depois de uma situação tensa como aquela.Foi aí que a secretária bateu na porta com pressa e entrou logo em seguida, com a voz aflita:— Senhor Guilherme… desculpa interromper, mas… eu acho que é melhor o senhor ir lá fora. Sua noiva tá discutindo com a Jamile. Tá do outro lado da rua!Meu coração disparou.— O quê?!Levantei da cadeira num pulo, o sangue gelando na hora.— Ela tá sozinha? — perguntei, já indo em direção à porta.— Tá… Estão só as duas.Saí correndo. Atravessei a empresa como um furacão, nem vi quem tava no caminho. Abri a porta principal e corri, o coração mar
Camila narrandoEntrei na empresa com o coração disparado, mas não era medo. Era raiva. Uma raiva que queimava por dentro, fervia no estômago e subia até a garganta. A vontade que eu tinha era de gritar, de chorar, de esmurrar a parede. Mas eu não fiz nada disso.Fui direto pra sala do Guilherme. A porta ainda tava do jeito que a gente tinha deixado, e o ar lá dentro parecia mais pesado do que antes. Me joguei na cadeira, respirei fundo e coloquei as mãos no rosto por alguns segundos, tentando absorver tudo que tinha acabado de acontecer.A Jamile… ela se jogou. Armou. Fez cena como se eu tivesse agredido ela. E ainda teve a coragem de gritar no meio da rua dizendo que eu queria fazer ela perder o filho. Aquilo me corroía.— Que mulher baixa… — murmurei pra mim mesma. — Baixa, suja, mentirosa.Bati a palma da mão na mesa, de frustração. Eu nunca tinha sentido tanta vontade de sair da minha própria pele como agora.Ouvi passos rápidos no corredor e, antes que eu pensasse em me recompor
Camila narrandoA tarde seguiu arrastada, como se o tempo tivesse colocado os pés no freio. Eu tentei me concentrar, voltei pro computador, revisei relatórios, respondi e-mails… mas a cabeça não ajudava.Guilherme também ficou mais calado que o normal, mexendo em papéis, atendendo ligações, mas dava pra ver que ele tava longe dali.A sala parecia carregada. A gente tava junto, mas envoltos em um silêncio denso, tenso. Como se cada um estivesse engolindo o que sentia só pra não piorar as coisas.Quando o relógio marcou o fim do expediente, comecei a guardar minhas coisas. Guilherme também se levantou, ajeitou o paletó, pegou a chave do carro e esperou por mim na porta da sala.Descemos lado a lado, em silêncio. E quando chegamos até o carro, ele abriu a porta pra mim, como sempre fazia, e eu entrei.No momento em que ele entrou do outro lado e ligou o motor, o silêncio foi quebrado.— Tá tudo bem com você? — ele perguntou, olhando rápido pra mim antes de dar partida.Respirei fundo e o
Camila narrando:Entrei na sala com o coração apertado, a alma carregada de dúvidas, de mágoas que ficaram guardadas por anos. Mas quando vi ele ali, tão frágil, tão diferente daquele homem duro que eu conhecia, meu corpo travou por um instante.Me aproximei devagar, e ele virou o rosto pra mim com esforço.— Camila… — ele murmurou, os olhos marejados. — Eu sabia que ia morrer. Mas eu precisava te ver antes.Fiquei de pé ao lado da cama, tentando manter a compostura. Meus olhos já estavam úmidos, mas eu não queria chorar. Ainda não.— E o que o senhor queria falar comigo? — perguntei, a voz embargada.Ele respirou fundo, com dificuldade, e segurou minha mão com fraqueza.— Preciso… preciso te pedir perdão… por tudo que eu te fiz. Por ter te separado do Guilherme, por ter te expulsado de casa… — ele falava com esforço, a voz falhando a cada palavra. — Eu tava cego de raiva… cego de orgulho.Meu peito se apertou, uma lágrima escorreu sem permissão.— Mas por que…? Por que o senhor sempr
Camila narrando :Eu me sentei no banco frio do corredor, o corpo ainda trêmulo, o rosto molhado pelas lágrimas que pareciam não ter fim. Guilherme estava ao meu lado, a mão dele segurando a minha como se aquilo pudesse evitar que eu desmoronasse por completo.Meu coração ainda tava tentando aceitar que ele tinha se ido… e minha cabeça girava com a revelação que ele deixou antes de partir.— Camila, olha pra mim, — Guilherme falou baixinho, se agachando na minha frente. — Você precisa respirar, amor. Respira fundo. Eu tô aqui. A gente vai passar por isso juntos. Não tenta carregar tudo sozinha.Balancei a cabeça, chorando mais.— Ele morreu, Guilherme… e ainda deixou um segredo desses. Eu nem sei mais quem eu sou…Antes que ele respondesse, o médico apareceu na porta da emergência, com os ombros pesados e o olhar compreensivo.— Camila Sanches?Assenti com dificuldade, me levantando devagar, com Guilherme ainda ao meu lado.— Sinto muito pela sua perda. Precisamos que a senhora assine
Guilherme narrando :Enquanto eu caminhava pelos corredores do hospital, cada passo parecia mais pesado que o outro. Minha cabeça ainda tava girando com tudo o que tinha acontecido, mas eu não podia parar. Camila tava lá fora, devastada, e era minha responsabilidade proteger ela… fazer o que ela não conseguia agora.Entrei na sala administrativa, assinei papéis, preenchi documentos, dei meus dados pra liberação do corpo e agendei o enterro do jeito que ela pediu, direto, sem velório. Respeitei cada palavra dela, porque eu sabia que por mais que ela estivesse destruída, ela ainda tinha forças pra decidir como queria se despedir.— Tudo resolvido, senhor Guilherme — disse a moça da recepção, me entregando a última folha. — O enterro será amanhã de manhã, conforme solicitado.— Obrigado.Guardei os papéis na pasta e saí da sala. Andei pelo corredor até a recepção e, assim que virei o corredor, vi Camila sentada num canto, falando no telefone. O rosto vermelho, os olhos inchados, a expres