Capítulo 8

Mary

As coisas no escritório iam bem, o casamento de Nanda estava nos dando um trabalho e tanto ainda mais por conta da localização, já que teríamos que planejar aqui e arrumar tudo lá.

Seguia agora para a casa de Henry, eram quase sete da noite e ele havia me perguntado se poderíamos jantar lá. Parei na portaria saindo do Uber esperando a autorização e logo os portões se abriram e entrei.

Sorri para o senhor de cabelos grisalhos que sorriu de volta me levando até o elevador.

- Tenha uma boa noite senhorita Tullin. - Desejou.

- Obrigada José. - Sorri apertando o botão do elevador. Suspirei segurando em minha bolsa e coloquei o cabelo para trás da orelha olhando para os números do elevador.

Assim que o *plim* soou o elevador se abriu no andar da cobertura e Henry apareceu com as mãos nos bolsos da calça social preta que usava e um sorriso convidativo no rosto.

- Pode entrar quando quiser. - Brincou e sorri saindo do elevador. O primeiro cômodo era a sala, um espaço amplo de conceito aberto, trabalhado em tons terrosos, como encontrado na maioria desses condomínios de luxo.

Havia um grande sofá, uma mesinha luxuosa com acabamentos lindos e um vidro que parecia bem resistente no centro. Uma TV enorme e uma lareira embutida na estante de livros que parecem nunca terem sido lidos.

Seguimos andando para o cômodo seguinte que era uma cozinha americana, também com moveis lindos e refinados. Sentei em um dos banquinhos e Henry me esticou uma taça de vinho.

- Achei que não bebesse. - Comentei enquanto bebia um gole.

- Não bebo, mas você sim. - Afirmou reforçando as dobras das mangas da camisa e pegou uma faca e alguns cogumelos.

- Está cozinhando? - Perguntei me esticando para olhar e Henry sorriu de canto. - Pergunta óbvia, eu sei. - Sorri.

- Sim, mas só para registro, sim, estou cozinhando. - Sorriu me esticando um fio de espaguete. Estiquei-me na bancada e o mesmo gargalhou quando o macarrão quase caiu pelo canto da boca.

- Isso foi muito sensual. - Brinquei bebendo mais um gole do vinho.

- Com certeza foi. - Sorriu.

- Então, como foi o dia? – Perguntei tentando puxar assunto.

- Tranquilo na medida do possível e o seu?

- Bem, eu lido com mulheres loucas com hormônios a flor da pele e ansiedade em alta, então... Foi maravilhoso. – Ironizei e o mesmo gargalhou. – Ana ainda inventou de não ir hoje.

- Isso parece péssimo para você. E aqueles seus clientes o seu ex-noivo...

- Está bem eu acho, não falo com ele tudo o que tenho para resolver ligo diretamente para Nanda.

- Como foi pra você toda essa coisa? – Perguntou colocando o macarrão em um refratário de vidro.

- Horrível como se pode imaginar. Primeiro eu fiquei deprimida e então resolvi juntar minhas coisas e me mudar. Ana já morava aqui com o namorado e primeiro vim com a proposta de espairecer, mas acabei ficando de vez. Foram semanas de choro e questionamentos loucos, sempre pensei que a culpa tivesse sido minha, que talvez eu não fosse boa o suficiente. Depois eu mergulhei no trabalho e decidi esquecer tudo isso... Até agora.

- Meu padrasto sempre diz que a pior maneira de lidar com a dor e a indiferença. Talvez doesse muito menos agora se você tivesse encarado antes. – Murmurou e olhei para ele.

- Mas eu encarei.

- Não, você desistiu. Nunca soube dos estágios? Culpa aceitação, devolução dos objetos pessoais do parceiro e ai superação. Você passou da devolução, para a culpa e depois para o comodismo. Você se acomodou na teoria de que foi a culpada e morreu ai.

- Você inventou a maioria dessas coisas. – Acusei.

- Pode ser, mas eu estou certo e você sabe disso. Faz um esforço enorme para demonstrar tranquilidade e estabilidade em vez de realmente ir atrás disso. Você pode até não o amar mesmo, mas ver até onde ele chegou te machuca e te faz perceber que você deixou sua vida amorosa estacionada no mesmo lugar até hoje.

- Achei que esse era um jantar para nos conhecermos. – Desviei o assunto.

- E é. Esse é mais um traço da minha personalidade. Agressivamente invasivo. – Sorriu terminando de distribuir o queijo e colocou o refratário no forno.

- Vou anotar isso na minha listinha. – Sorri.

- Tudo bem pode fazer isso quando chegar a sua casa. Vamos para a mesa? – Perguntou indicando a mesa enquanto levava a salada e dois copos. Desci do banquinho pegando minha bolsa e o copo e sentei na cadeira indicada por ele. - Só um minuto. – Pediu voltando para trás do balcão e se abaixou para olhar o forno.

Suspirei olhando em volta para a cozinha bem decorada até que Henry voltou com o macarrão colocando o refratário no centro da mesa.

- Parece ótimo. – Sorri esticando o guardanapo sobre o meu colo.

- É simples, mas saboroso. – Piscou pegando meu prato. Observei com atenção enquanto ele servia um pouco de salada.

          &&&

Depois do jantar Henry me apresentou sua casa, fizemos um pequeno tour pela sala ampla a cozinha maravilhosa e pela a sala de leitura que ele tinha no cômodo ao lado. Havia um corredor com algumas portas que ele disse ser banheiro, dispensa e lavanderia. Subimos a escada de mármore refinado e Henry me levou até a primeira porta.

- Esse é o meu escritório, pensei em fazer lá embaixo, mas achei esse espaço perfeito. – Comentou atrás de mim.

- É lindo. – Sorri. Seguimos para a próxima porta e admirei o quarto bem decorado.

- Esse é o de hospedes, e aqueles dois também. – Disse apontando para as duas portas lado a lado atrás de nós. – Aqui é uma sala para lazer, eu não tinha mais ideias do que fazer, mas tem um bar para receber convidados, mais alguns livros e às vezes eu vejo filmes aqui também. – Deu de ombros seguindo para o fim do corredor.

- O que são essas portas? – Perguntei apontando para as duas portas uma de frente para a outra.

- Banheiros, dois quartos de hospedes tem banheiros, mas um não e é sempre bom ter um social no segundo andar. – Sorriu abrindo a última porta. – Esse é o meu lugar preferido no apartamento.

- Não tem nada aqui. – Murmurei entrando no espaço amplo e vazio. Havia apenas o piso como no resto da casa e janelas enormes que cobriam toda uma parede.

- É por isso que eu gosto. – Sorriu me puxando para frente das grandes janelas. – Às vezes eu venho aqui me sento no chão e aprecio essa vista. – Sussurrou em meu ouvido. – Tem dias que estou com a cabeça cheia, e não preciso ver nada, além disso.

- É de tirar o folego. – Sussurrei puxando o ar.

- Sim... É sim.

- E onde fica o seu quarto? – Perguntei me virando para ele. – Não que eu queira ver é que...

- Vem. – Sorriu divertido me puxando pela mão e fechou a porta. Voltamos para as escadas e descemos para o térreo. Henry virou no corredor que não havíamos ido antes e seguiu até o final do mesmo abrindo a única porta. – Esse é o meu quarto. - Olhei para ele antes de dar um passo para dentro do quarto e olhei em volta.

Era grande com uma parede de fundo cinza e moveis em madeira escura. A cama da mesma cor com lençóis escuros. Um piso claro semelhante ao restante da casa e um tapete cinza. Grandes janelas cobertas por uma cortina quase branca e duas portas uma que provavelmente seria do banheiro e outra do closet.

- É bem bonito. – Murmurei olhando em volta. Era tudo bem arrumado e alinhado e isso era bem a cara dele.

- Matou a sua curiosidade? – Sorriu.

- Sim, eu matei sim. – Sorri envergonhada.

- Você está vendo bem mais do que qualquer um já viu. – Comentou caminhando até a varanda do quarto e o segui.

- Como assim? Eu posso ser ingênua às vezes, mas não acredito que nunca tenha partilhado essa cama com outro alguém senhor Salt. - Sorri.

- E nunca partilhei. Nenhuma mulher nunca passou do quarto de hospedes. – Afirmou colocando as mãos nos bolsos enquanto contemplávamos a bela vista de Nova Iorque.

- Por quê? – Perguntei instigada pela minha curiosidade.

- Esse é o meu quarto, o meu canto, nenhuma diversão de uma noite mereceria ir tão fundo assim. Todas sempre acabam de uma maneira ruim e por que se lembrar disso na minha cama se eu posso evitar?

- Talvez se você as trouxesse aqui, isso lhe permitisse abrir seu coração para uma delas. – Murmurei e o mesmo me encarou. Seu rosto parcialmente escondido pela falta de luz já que apenas a luz do quarto nos iluminava e a luz do luar fazia o seu máximo para que seu olhar intenso ainda pudesse me desconcertar.

- Não foi à facilidade de se entregar as vontades do coração que te deixaram assim? – Perguntou e desviei o olhar. – Talvez se você não estivesse tão cegamente apaixonada, você pudesse ver que ele não queria aquilo.

- Talvez. – Sussurrei. – Mas agora é tarde demais para pensar nessa possibilidade.

- O amor é um conto de fadas Mary, e ele nem sempre tem um final feliz, às vezes ele tem espinhos e sempre tem alguém para atrapalhá-lo. Ele complica a nossa vida, então o melhor é não senti-lo.

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