Capítulo 4
Anne ainda conversava com Sarah, ao telefone, quando a tia disse:

― Eu sei que você ainda está em Luton. Seu passaporte está comigo. ―

Surpresa, a jovem perguntou:

― Como? Meu passaporte está com você? ―

― Sim, não consegui falar com você, então fui para o seu hotel. Como você pôde deixar seus documentos num hotel barato? Não é seguro. Então, fiz o check-out para você. Assim que puder, venha ficar comigo. ―

Mesmo que quisesse, Anne não poderia voltar para o hotel. Afinal, ela não conseguia escapar do aprisionamento de Anthony.

― Tia, eu ainda não vou. Vou ficar na casa de um amigo, por alguns dias. Mas, vou pegar meu passaporte, antes de ir embora ― respondeu Anne.

― Você não vem nos ver, há tantos anos, e agora não quer ficar em nossa casa. Quem é esse seu amigo? ― Sarah perguntou.

― Alguém do ensino médio... ― Anne tentou parecer convincente.

― Eu sei que você teve problemas com Anthony. No entanto, já se passaram muitos anos e você não tem mais nada a ver com ele. Não leve isso muito a sério. ―

Anne deu um sorriso triste, em autoironia. Se eles não tinham nada a ver um com o outro, então por que ele a mantinha presa ali?

― Venha para minha casa, querida. Já se passaram tantos anos e eu tenho tantas coisas para te contar ― disse Sarah.

― Eu irei, em alguns dias. ― Anne desligou e se encostou na cabeceira da cama.

Como a jovem sairia dali sem a permissão de Anthony? Ela sabia que Anthony não pegaria leve se ela ficasse, afinal, o homem tinha convicção de que Anne e Sarah eram responsáveis por arruinar o relacionamento de Ron com sua mãe.

Ao meio-dia, Anne foi convidada para almoçar, na imensa sala de jantar, mas, apesar de estar morrendo de fome, empalideceu ao ver a mesa posta, o cardápio era composto apenas de frutos do mar. Pareciam deliciosos, mas para Anne, eram mortais.

Apreensiva, a jovem buscou algo que pudesse comer. Olhou para uma travessa de legumes e a cheirou, por precaução. Sentiu o odor intenso de frutos do mar exalar da comida e deixou cair a colher, de tão apavorada que ficou. A jovem se levantou e perguntou à criada, com a respiração acelerada, apontando para uma tigela:

― Do que isso é feito? ―

― É caldo de frutos do mar ― respondeu a mulher, com sinceridade.

Anne queria ir embora, no entanto, estava paralisada pelo medo. Naquela mesa não tinha nada que ela pudesse comer, mas, será que na próxima teria? A menos que ela pudesse passar três dias sem se alimentar, como escaparia sem energia?

― Ele quer que eu coma só pão? Tudo bem. ―

Anne voltou a se sentar e comeu o pão e nada mais.

A criada ficou sem palavras enquanto observava Anne comendo o pão, sem esboçar nenhuma emoção em seu rosto.

Durante três dias, Anne sobreviveu apenas comendo pão. E em nenhum momento, nesse período, encontrou sinal de Anthony. Era como se ele a tivesse deixado ali para que morresse, aos poucos.

Ela era como um pássaro preso em uma gaiola, ansiosa e cheia de incertezas.

Quando comia o pão do quarto dia de cativeiro, não aguentou mais. A jovem foi até a sala de estar e questionou Hayden:

― Onde está Anthony? Quero vê-lo. Quando ele vai me deixar sair? ―

― Desculpe. Mas, eu não sei quando o Senhor Marwood volta ― disse Hayden.

― Quanto tempo ele vai me trancar aqui? ― perguntou Anne.

― Não sei ― respondeu Hayden.

― Ahhh! Seu... ― Apesar da frustração, Anne não queria tornar o trabalho do mordomo mais difícil do que era. Afinal, sabia que isso era ideia de Anthony.

Eram cerca de nove horas da noite e Anne não conseguia dormir. Então, a jovem se enrolou no canto da varanda, sentindo falta dos filhos. Desde que os trigêmeos tinham nascido, aquele já era o maior tempo que ela se mantinha longe deles. Com certeza eles sentiriam muita falta dela e até chorariam, à noite.

A jovem sentia saudades e seus olhos lacrimejavam quando ouviu o som de motor, vindo da frente da mansão. Seu coração se apertou, enquanto corria escada abaixo. Então, assim que passou pela porta, viu um carro estacionando, mas, para sua decepção, não era o esperado Rolls Royce preto, mas um Mercedes Benz. E não foi Anthony quem saiu do carro, mas um empresário de óculos e terno que caminhou em direção a Anne.

O homem segurava uma maleta na mão.

― Senhorita Anne Vallois? ― O homem perguntou para ela.

― Você é? ― A jovem perguntou de volta.

― Ah, me desculpe! Deixe-me apresentar-me. Sou o secretário-chefe do Senhor Marwood. Me chamo Oliver Clayton. ―

― Ele pediu para você me deixar sair daqui? ― Anne perguntou, rapidamente.

― Não, apenas vim te levar para encontrar com o Senhor Marwood ― o homem disse, entregando a bolsa e explicando ― aqui está a roupa preparada para você. ―

Quando Anne ouviu o distante tom profissional e olhou para a maleta, se sentiu inquieta:

― Encontrar onde? ―

Anne entrou em um bar. Usava um vestido preto e justo, que deixava seus ombros macios e brilhantes à mostra, junto com sua clavícula lindamente esculpida. Sua figura era sedutora, com belas e longas pernas. Ela exalava uma aura única e ganhou a atenção de muitos homens ao entrar.

Oliver levou Anne para uma sala privativa, no fundo do local, caminhando sem olhar para trás. Quando a porta se abriu, a jovem percebeu que as luzes de dentro eram mais brilhantes que as de fora. No entanto, sentiu como se estivesse entrando em um mundo desconhecido de escuridão.

Anne não estava acostumada com aquele tipo de ambiente, cheio de bebidas alcoólicas, onde homens puxavam mulheres para seus colos e mulheres se agarravam a homens. Mas, em meio àquela perversão, não havia sinal de Anthony.

Algumas pessoas interrompiam as carícias perniciosas ao notar Anne. Os homens não escondiam a admiração pela jovem, embora tivessem outras mulheres em seus braços.

― Ela é a nova prostituta? Nada mal ― comentou um dos homens, conhecido como Pat.

Anne odiava a sensação de ser olhada e desejada como um objeto. Então, perguntou a Oliver:

― Ele não está aqui? ―

― Espere aqui ― o secretário respondeu, antes de sair.

Sem saber o que fazer e como agir, Anne ficou lá, evitando ao máximo ter que se misturar com o ambiente e pensando, em um misto de medo e fúria “Por que Oliver não explicou quem eu era, quando pensaram que eu era outra garota de programa? Por que ele me deixou aqui sozinha, esperando por Anthony?”

Entretanto, Anne estava prestes a descobrir.

Pat tinha um copo de vinho na mão e cambaleava desajeitadamente em direção à jovem, dizendo:

― Sente-se ao meu lado, está bem? Eu serei gentil com você. ―

Anne franziu a testa, se sentindo enojada.

― Por que ela iria se sentar com você? ― Outro homem se adiantou intervindo, se virando para Anne e puxando algo do bolso, disse ― e quanto a isso? Eu pago mil dólares! ―

― Eu pago dois mil. Isso provavelmente está acima do preço de chamada dela! ― Pat disse, sentindo-se generoso.

Com o rosto pálido de medo, a jovem achou que era melhor tentar explicar a situação:

― Vocês se enganaram. Eu não trabalho aqui. ―

― Não? Pare de atuar, o dinheiro é pouco para você? ― Pat zombou ― quem você pensa que é? Eu me pergunto até mesmo se seu corpo é aceitável depois de tirar a roupa! ―

― Por que você não tira nossa dúvida agora? ― o homem ao lado disse, rudemente, incentivando o outro homem.

Pat agarrou o pulso de Anne, rindo maliciosamente:

― Claro! Dessa forma, posso verificar a qualidade primeiro. ―

Puxando o braço com força, Anne disse, com desgosto:

― Me deixa sair! Me solta! ―

Anne usou toda a força no movimento e seu corpo cambaleou para trás quando se libertou.

― Ahhh! ―

A jovem pensou que cairia, mas seu movimento foi interrompido quando as costas bateram em um corpo duro. Então, uma voz masculina rouca e fria sussurrou em seu ouvido:

― Então, você está feliz com o meu arranjo? ―

Anne sentiu a cabeça entorpecer. Era Anthony...

― É hora de você começar a trabalhar, depois de passar alguns dias comendo pão e dormindo em minha casa! ―
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