capítulo 4

— Eles não vieram? — perguntei a enfermeira.

— Ainda não, senhorita Olivia, mas chegarão logo, não se preocupe.

Desde que acordei da cirurgia, meus pais ainda não vieram, além de estar triste, também estou preocupada e curiosa para saber o motivo que Dalila precisava ir ao médico naquele dia, ela parecia muito bem.

A porta do quarto foi aberta e fiquei animada, o médico entrou com a minha ficha na mão.

— Olívia, como se sente? – ele perguntou.

— Bem, eu sinto meus pés, minhas pernas, mas...

— Calma – ele riu. — Eu estou aqui para te dizer, a cirurgia foi um sucesso, a sorte está ao seu lado. Acontece que, você vai precisar de fisioterapia para estimular a sua força nas pernas, você passou um ano deitada, houve muita perda muscular. — ele explicou cauteloso.

— Mas, eu sentir o movimento é um bom sinal? – perguntei devagar.

— Sim, com toda certeza. É um ótimo sinal, eu estou colocando o encaminhamento para o fisioterapeuta na sua ficha, vamos nos esforçar para que tudo ocorra bem e você volte a andar em breve. – ele afirmou entusiasmado.

— Muito obrigada – respondi com esperança.

Nesse momento, somente minha mãe entrou no quarto, o médico disse para ela a mesma coisa que havia me dito, ela agradeceu, não pareceu muito animada ou feliz, mas deu um pequeno sorriso. Depois que o médico saiu da sala, ela se aproximou de mim.

— Cadê o meu pai? – perguntei.

— Ele foi resolver um problema. – ela disse.

Como ela ficou calada, apenas me encarando, eu levantei a sobrancelha, tenho certeza que ela veio conversar e isso tem haver com minha irmã.

— Mãe, o que Dalila tem? – perguntei indo direto ao ponto.

— Ela está um pouco mais sensível que o normal, acabou de descobrir que está grávida, está no começo ainda. – ela disse, pareceu estar observando minhas reações.

— Meu Deus... – respondi totalmente surpresa.

— Olívia, não teremos dinheiro para pagar o tratamento, gastamos muito dinheiro com Dalila no último ano, atualmente seu pai está gastando muito para a festa dela.

— O que? Como assim? – questionei horrorizada.

— Ela está noiva, é isso que íamos te contar, agora que já está bem, eu decidi vir te contar logo, espero que você fique feliz pela sua irmã, Olívia, ela fez muito por você. – ela afirmou.

— Transando com meu ex noivo? – questionei.

— Olívia, não seja assim. Em breve ela virá te visitar...

— Não quero vê-la. – afirmei.

- Desde que você voltou naquela época, você está agindo assim, tentando nos colocar contra sua irmã que sempre te ajudou e gostou de você. – ela disse irritada.

— Eu nunca fiz isso. – falei me defendendo. — Ela dormiu com Martin no dia do meu noivado, eu não devo mais nada a ela.

— Deve sua vida, ela salvou você. – ela apontou o dedo para mim. — Vou deixar você descansando e logo vai cair em si novamente, espero que isso aconteça logo. – ela bufou e virou as costas para mim.

Eu chorei. Chorei por tudo o que eu sei e que meus pais não acreditam, chorei pela situação em si, acabo de descobrir que para o meu tratamento eles não tem dinheiro, mas para celebrar o casamento da minha irmã estão gastando muito.

Ouvi a porta do quarto abrindo novamente, limpei meu rosto para me preparar para discutir mais um pouco, mas fiquei paralisada quando encarei um homem de roupa social preta e um sobretudo cinza.

— Hum... O senhor... Oh, senhor Hoke? – perguntei perplexa.

Eu me lembraria dele em qualquer situação, nunca tivemos muito contato e ele não compareceu no meu noivado, mas seu rosto é único, arrisco a dizer que o senhor Hoke é um homem inesquecível.

— Sim, então você se lembra de mim. – ele respondeu.

— Sim, está um pouco diferente, mas... o que veio fazer aqui? – questionei.

— Visitar você, sei que ficou em coma por pouco mais de um ano, e também... quero oferecer ajuda. — ele se aproximou.

— Ajuda?

— Sim, Olívia, sei tudo sobre as suas condições atuais, vou direto ao ponto, quero pagar todo o seu tratamento, em troca você me ajuda em algo. — ele disse.

Essa provavelmente foi a coisa mais estranha que aconteceu desde que eu acordei, tudo bem que Joshua Hoke não é um total estranho, mas é a última pessoa que eu esperaria ver aqui.

— Como assim? No que eu poderia ajudar o senhor? – questionei confusa.

— Vamos um passo de cada vez. Se você aceitar a minha ajuda, eu te conto sobre o que preciso. – ele disse.

O senhor Hoke sentou no sofá a minha frente, ele continuou me encarando, me senti um animalzinho ali na cama, sob aquele olhar tão atento e intenso dele. Eu pisquei várias vezes e engoli em seco, fui pega de surpresa.

— Senhor, eu... não sei o que dizer, minha vida está...

— Martin está noivo da sua irmã. — ele anunciou totalmente contido, como se aquela informação não fosse nada.

— O que? – arregalei os olhos.

— Isso mesmo que você ouviu, eles estão noivos. – ele cruzou os braços.

Minha cabeça pareceu querer explodir com aquela informação, por isso que minha mãe estava tão cautelosa ao dizer aquelas palavras para mim. Então é isso, Dalila está gravida do meu ex noivo e ainda está noiva dele.

— Sei que você não tem condições de pagar o tratamento, quer dizer, seus pais tem, mas estão com outras prioridades no momento. – ele disse, ele pareceu um pouco provocativo, mas eu estava em outro mundo, ainda absorvendo aquela informação.

— O casamento... – respondi baixinho.

— Então, o que acha da minha proposta? – ele perguntou novamente. — Eu preciso trabalhar, então...

— Me diga pelo menos o motivo de ter vindo. — pedi.

— Ajudar você e obter sua ajuda, você tem muita informação aí — ele apontou para minha cabeça. — E chegou a hora de eu usar. Só preciso curar você e te fazer lembrar.

— Como sabe que esqueci de alguns eventos? — questionei.

— Quando chegar o momento eu te falo, então... — ele olhou para o relógio.

Pensei em todas as possibilidades, se eu ficar, posso não conseguir meu tratamento e eu dependo disso para andar, e eu também não quero estar aqui e testemunhar essa palhaçada que meus pais estão aplaudindo. Então, a decisão não foi tão difícil.

— Aceito, mas eu gostaria...

— Sim, sei o que vai pedir, vou te colocar na casa que tenho na Califórnia, em Los Angeles, você fará tudo por lá. – ele explicou. — Quando receber alta, você irá, a equipe de médicos e fisioterapeutas já está toda preparada para recebê-la. – ele levantou e arrumou o casaco.

— Obrigada, eu agradeço muito. – falei tímida.

— Não me agradeça, Olivia, você é quem vai me ajudar. – ele me respondeu.

Nos dias em que passei internada, não vi meus pais nenhuma outra vez, recebi ligações, mas a presença deles não foi aproveitada. Quando chegou o dia, o senhor Hoke fez tudo. Viajei em um jatinho particular, eu não disse aos meus pais onde estava indo, apenas expliquei que consegui o tratamento e ficaria fora por tempo indeterminado. Durante o vôo, eu observava as nuvens, de repente um sentimento se apossou de mim, um sentimento que eu não sabia bem o que era ainda.

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