O salão principal do palacete havia sido preparado para o evento.
As velas nas arandelas no teto estavam todas acesas e vasos de flores perfumavam o local. Criados postavam-se nos cantos, com ares orgulhosos por receber tão ilustre convidado; um menestrel dedilhava o alaúde, preenchendo o ambiente com a música suave.O vizir e três assistentes que o acompanhavam sentavam-se diante da mesa, sobre a qual o banquete fora servido. Carnes temperadas com especiarias caras - noz moscada, açafrão e coentro - pratos de tâmaras e arroz, beringelas e pães, entre outros, em uma demonstração de abundância e da riqueza da casa.
Al-Hasan, o vizir, era um homem de cerca de trinta anos, a barba negra bem aparada enfeitando o rosto de traços finos e olhos escuros. Discretamente
Na manhã seguinte, ainda irritado pelo fiasco da noite anterior, Yasi caminhava pelos jardins, resmungando.Qualquer um poderia notar a troca de olhares entre Aaron e Layla, e o jeito que ele pulara para defendê-la durante a briga denunciara que o cavaleiro estava mesmo apaixonado. Havia convidado Aaron a permanecer ali na esperança de que ele encontrasse outro meio de vida que não fosse matar os muçulmanos, mas começava a arrepender-se de sua boa ação.E após muito caminhar e pensar, decidiu que não desistiria tão facilmente de acabar com aquele início de romance. Ele torceu os lábios em um sorriso ardiloso; um plano começava a se formar em sua mente.Aaron estava na biblioteca. Com o sorriso nos lábios, dirigiu-se para lá.
Layla não conseguia mais evitar Aaron. Desde que Yasi o liberara, o cavaleiro parecia estar em todos os lugares - no jardim, na biblioteca e nas refeições que faziam juntos.E o que mais a irritava era o fato de que ele parecia ter-se esquecido dos beijos trocados entre eles e a tratava com uma cortesia educada, porém distante. O que era o certo a fazer, pois aqueles beijos haviam sido um completo engano. Ainda assim, a indiferença dele a aborrecia. Principalmente quando Aaron sorria de maneira sedutora para as criadas, traidoras que haviam deixado de considerá-lo um inimigo e tinham começado a idolatrá-lo.
Em pé na biblioteca da casa, Aaron examinava os livros na estante, enquanto o médico, sentado em uma poltrona próxima, terminava de tomar o suco de maçã trazido por um criado. O frescor da sala e o silêncio contrastavam com o forte calor e o barulho das ruas movimentadas, pelas quais haviam andado durante a manhã.– Cansou-se? – Ibn Russud por fim quebrou o silêncio.Aaron negou.– Ainda não conseguiria lutar, mas consigo caminhar perfeitamente.
O perfume das flores do final de verão os alcançava e uma brisa fresca fazia as folhagens do jardim farfalharem com um barulho suave.O olhar de Layla deteve-se em Aaron, absorvendo cada detalhe. Por que o maldito tentador tinha que ser tão bonito?, perguntou-se mais uma vez, escondendo um suspiro.O sol atravessava os galhos e iluminava parte do rosto dele, mesclando-se às sombras das folhagens acima. Ela amava aqueles traços e as chamas que ardiam nos olhos azuis. Desejava seus braços a envolvê-la novamente, os lábios deles juntos, sussurrando palavras de amor. Era com isso que sonhava por dias e noites sem fim. Contudo, parte dela tinha medo, alertando-a das consequências. Inúmeras lendas corriam pela região sobre casais que se apaixonavam, e todas terminavam em tragédia.– Sabe por que Layla é
Mais um conforto impensável em meu castelo… Aaron suspirou de prazer ao entrar na banheira de água corrente e morna, fornecida pelos aquedutos da cidade. Sobre o piso de mármore ao lado, criados deixavam potes com sabão e toalhas limpas. Ele pegou um deles e cheirou o conteúdo. Almíscar e mel... Sorriu ao pensar como seus companheiros do exército ririam se o vissem agora. Banhos diários e perfumados não combinavam com sua fama de guerreiro. Porém, decidira não mais voltar ao exército. Tudo o que importava agora era Layla.
– Layla! – Aaron sussurrou o nome, ajoelhado ao lado da cama, no quarto iluminado pela luz do luar que atravessava a janela por onde havia entrado.Abrindo os olhos assustada, ela voltou-se na direção dele.–Aaron! Como têm coragem de entrar em meu quarto?– Precisava lhe falar… E a janela estava aberta.Ela sentou-se e fuzilou-o com o olhar.– Achei que estava distraindo-se com uma daquelas…Erguendo-se do chão, Aaron sentou-se na beirada da cama.– Estava na sala de banhos quando seu irmão entrou – interrompeu-a. – E depois Hiram trouxe as jovens!– E você não protestou? – Ela cruzou os braços e ergueu o queixo com um ar irritado.
No movimentado mercado do centro da cidade, as bancas enfileiravam-se mostrando uma quantidade enorme de livros expostos em seus balcões.Mais uma vez, Aaron acompanhara Layla enquanto ela seguia o médico e sua filha durante a manhã, e agora ambos passeavam pela cidade.– A universidade de Córdoba atrai estudantes de vários reinos – Layla explicava – inclusive cristãos – pontuou. –Além dos estudantes, filósofos, advogados, médicos e sábios de todos os tipos moram aqui. Por causa disto, o comércio de livros prospera.Ela parou diante de uma banca e cumprimentou o vendedor. Um homem de turbante branco e rosto enrugado.– Salaam Aleikum, Sidi Zayn. &n