05

- Laura! - chamo minha secretária, que não demora a aparecer.

- Sim, senhor...?

- Quem preparou o café? - interrompo levantando-me da cadeira.

- Fui eu, senhor - ela responde nervosamente.

- E o que eu te disse sobre não adoçar o meu café? Parece que não ficou claro para você - olho para ela seriamente.

- D-desculpe, senhor - ela murmura envergonhada. - Vou lhe trazer outro.

Me levanto sabendo que se esperar mais um segundo aqui, as coisas podem acabar mal.

- Vou sair, cuide para que isso esteja limpo antes de eu voltar - exijo, colocando meu casaco preto.

- Sim, senhor - saio do escritório, pronto para ir para casa.

Não tenho tempo a perder com meus funcionários, às vezes nem mesmo entendo por que eles ainda têm emprego se não fazem bem o seu trabalho. Mas, se eu me desse ao trabalho de observar quem se destaca mais nisso, devo dizer que o único que se sobressai é Ralph, o garoto ruivo que está há pouco tempo no restaurante, os outros não são competentes. Como herdeiro dos restaurantes Vogel, negócio que meu avô materno deixou aos meus cuidados, tenho uma grande responsabilidade, pois devo manter seu legado em alta. Decidi estudar gastronomia, me tornando um dos melhores chefs em uma idade tão jovem. Meu amor pela culinária foi crescendo enquanto vivia com meu avô, de fato foi graças a ele que hoje sou o homem que sou, não sei o que seria de mim se não tivesse fugido de casa para morar com ele.

Relembrar aquele momento desperta emoções que prefiro reprimir e não trazer à tona. Então me forço a não pensar nisso. Ligo para Alex, meu sócio e também meu melhor amigo.

- Você conseguiu conversar com o Harry? - pergunto enquanto entro no carro, um Audi branco que comprei recentemente.

- Sim, ele me disse que vai pensar na nossa proposta, diz que é um pouco precipitado sair da empresa do pai dele - Alex menciona. - Ele prometeu nos dar uma resposta depois da viagem dele para a França.

- Bem, então não teremos outra escolha a não ser esperar - digo, não muito convencido. Paciência não é uma das minhas virtudes.

- Ele é o único que pode nos ajudar - ele me lembra.

- Sim, eu sei.

Ultimamente, tivemos muitas perdas no negócio, então nos vimos obrigados a procurar um acionista que pudesse comprar as ações do antigo sócio do restaurante. E conseguimos Gianluca, um empresário que administra a empresa do seu tio.

- Ei, te ligo depois, estou a caminho - ele avisa, desligando antes que eu possa dizer que estarei no café que vende os melhores cafés da cidade.

Horas depois, enquanto revisava um monte de documentos em cima da mesa, recebo uma ligação da última pessoa com quem quero falar na minha vida: meu pai.

- O que você quer?

- É óbvio que hoje não é o seu dia - ele diz, me fazendo bufar.

- Não era até você ligar - respondo de forma abrupta. - Tenho muitas coisas para fazer, então vá direto ao ponto.

Ouço ele suspirar do outro lado da linha.

- Ok, só liguei para te convidar para um jantar em família. Eu sei que você odeia esse tipo de reunião, mas gostaria que você aparecesse...

- Você realmente acha que vou perder meu tempo indo até aí? - falo, sentindo vontade de rir. - Você sabe qual é a minha resposta, então não se dê ao trabalho de me ligar de novo.

- Filho, eu quero te ver - sua voz soa aflita, mas a verdade é que não me importo nem um pouco. - Seu irmão...

- Ele não é meu irmão - resmungo irritado. - Nem sei por que você tenta parecer que tem uma família perfeita quando não é assim. Finja que eu não existo, é o que tenho feito com todos vocês.

Acabo a ligação e, impulsionado pelo meu impulso, lanço o copo de vinho que deixei pela metade. Este se estilhaça, os vidros se espalham pelo chão. Mas a verdade é o que menos me interessa naquele momento, no entanto, tento controlar minhas emoções ao lembrar onde estou. Embora a maioria dos funcionários me conheça e saiba como é o meu caráter, não quero lhes dar mais motivos para aquele horrível apelido que me deram. Procuro a cartela que sempre levo comigo e pego um comprimido pequeno que levo à boca, engolindo-o imediatamente. Fecho os olhos enquanto tento manter a calma em meio ao caos que está acontecendo na minha cabeça neste momento. Represso aquelas sensações que cortam o ar, me recuso a permitir que tomem conta da minha mente, então decido sair do escritório para respirar um pouco de ar.

Felizmente, o restaurante não está muito cheio, o que me permite chegar rapidamente à saída sem ser interceptado por algum cliente ou funcionário. Estar cercado por tantas pessoas quando estou tendo um episódio de ansiedade aumenta meus sintomas, me sinto exposto e vulnerável. Apenas imaginar que os outros me julgam ou criticam, verem o quão frágil posso ficar nesse estado, é algo que me causa desconforto. Já do lado de fora, respiro profundamente e solto todo o ar, contando até três, repito o exercício mais cinco vezes e me concentro em olhar algum objeto na rua movimentada.

Tento agir de maneira tranquila para não chamar a atenção, seria muito vergonhoso se os outros perceberem como eu estou. No entanto, quando estou prestes a virar e voltar para a cafeteria, sinto um corpo médio bater no meu peito, fazendo com que ambos percamos o equilíbrio e caiamos no asfalto.

- Ai, minha cabeça - ouço uma voz feminina.

Levanto-me do chão e então vejo, é uma jovem de cabelos castanhos claros com mechas roxas na franja. Ela está vestida de forma bastante estranha, parece não saber nada sobre moda e suas roupas largas e escuras a denunciam assim. Ela usa óculos com armações grossas que cobrem grande parte de seu rosto nu, sem um traço de maquiagem nele. A primeira impressão que tenho é que ela pertence ao grupo estranho de garotos que costumam visitar a cafeteria com frequência.

Como eles se chamavam mesmo? Tento lembrar o nome. Enfim, sacudo a poeira que grudou em minhas roupas e dirijo o olhar para a jovem.

- Você deveria prestar atenção por onde anda - falo, quebrando o silêncio que se instalou entre nós.

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