Capítulo 02

Theodora

O sábado foi intenso. Kaique revirou meu guarda-roupas e concluiu que eu era a mais insossa das mulheres. Dali ele me arrastou para o shopping e eu provei vestidos que jamais compraria, eram extravagantes e excessivamente caros.

Depois passei a tarde no salão do Miguel onde ele me montou da cabeça aos pés. O habilidoso cabeleireiro era um antigo paquera do meu amigo, Miguel e seu auxiliar pareciam se divertir muito enquanto escolhiam meu penteado e opinavam sobre a maquiagem, como se eu não estivesse ali. Minha opinião não valia nada naquela situação.

— Não quero fazer chapinha, vai estragar meu cabelo! — protestei, mas sem sucesso.

— Não se preocupe, princesa. Eu tô passando uma máscara de pré hidratação, seu cabelo não vai sofrer dano nenhum — disse Miguel, enquanto separava todo o cabelo em mechas. — Aliás, seus cabelos ficariam lindos com umas luzes para iluminar. Pensa nisso e quando puder volte aqui que vou deixar o seu crespo ainda mais poderoso!

E depois de um dia todo de salão, usando unhas postiças imensas que não me permitiam nem usar o banheiro direito, me olhei no espelho.

Eu estava irreconhecível: A maquiagem era chamativa, com muito dourado e cílios bem volumosos para destacar meus olhos. Os cabelos lisos penteados de lado deixaram minha aparência ainda mais sensual. Já o vestido mostrava demais do meu corpo e aquilo me fez ficar com um pé atrás. Era vermelho, longo e além da grande fenda que terminava quase na altura da virilha, tinha as costas totalmente nuas.

— Eu não sei se consigo… Parece que estou numa pele que não me pertence...

— Eu devia ter batido uma foto do antes e depois! — exclamou o cabeleireiro. — Que transformação.

Eu permanecia diante do espelho, tentando me sentir a mulher sexy que minha nova aparência vendia. Kaique chegou na sequência usando um terno cinza de muito bom gosto e assobiou ao me ver.

— Eu sabia que você tinha muito potencial, mas superou as expectativas! — Kaique estava muito satisfeito — Você parece uma modelo.

— Estou com tanta vergonha! — reclamei. — Não posso usar o outro vestido, o branco? Ele é menos… menos isso!

Kaique revirou os olhos como se minhas queixas fossem frescuras..

— Está perfeita assim, aquele outro vestido te faz parecer meiga e hoje preciso que pareça que fui fisgado por uma sedutora. Assim fica mais convincente quando eu disser que você me deixou.

— Tonto!

— Agora vamos, perua. Lembre-se de ser grudenta e lasciva comigo.

Respiro fundo e concordo. Ele me conduziu até o táxi, depois de um trajeto de vinte minutos chegamos ao nosso destino.

A Casa de Eventos é uma construção em estilo colonial com uma linda iluminação amarelada. Toninho, pai de Kaique, se junta a nós e não economiza nos elogios a minha pessoa. Depois de diversos cumprimentos, finalmente avistamos Octávio Servantes, um homem baixinho e careca, de idade avançada.

— Vejo que seu filho veio acompanhado! — disse Octávio, seus olhos pequenos pareciam divertidos.

— Está é Theodora — Toninho falou e eu me aproximei estendendo a mão.

Octávio Servantes beijou meus dedos em sinal de cavalheirismo e eu tentei manter a postura impecável, como se todo dia me tratassem assim. Seu filho Cristian fez o mesmo.

— É um prazer conhecê-los, a festa está linda!

— Minha esposa é a responsável pela decoração. Cadê ela? Bem, não importa. — Olhou para o relógio — Logo teremos o leilão beneficente. Ofélia, minha esposa, é uma excelente pintora e seus quadros serão leiloados hoje, toda a verba vai para a caridade.

— O senhor é realmente muito altruísta — elogiou Kaique, que me mantinha presa pela cintura. — Querida, você quer um drink?

— Sim, por favor. — Quem sabe com um pouco de bebida eu me solte mais.

Kaique saiu em busca de um garçom e eu permaneci com os outros três homens. Logo começaram a falar de negócios e eu me senti deslocada, a hora demorava a passar.

— Olha ali, meu outro filho chegou! — O velho homem apontou para alguém.

Eu me virei e encarei o homem bonito que se aproximava de nós. Meu coração deu um salto quando os olhos dele encontraram os meus, eu não o conhecia, nunca o tinha visto. Mas não sei porque me senti tão agitada, como se estivesse ali esperando por ele.

— Venha cá, Robert. — Octávio abraçou o filho com entusiasmo de um pai amoroso, depois cumprimentou a jovem que vinha de braços dados com ele.

— Não vai me apresentar os seus amigos, pai? — Eu percebi que Robert me olhava de canto, tentando disfarçar a curiosidade.

— Sim, claro. Você se lembra do Toninho que eu falei? Da escola? É este camarada aqui. — Octávio os apresentou — E essa é... — O homem pareceu esquecer meu nome.

— Sou Theodora, é um prazer conhecê-los. — Eu me adiantei, cumprimentei a moça com um aperto de mão e estendi o braço para Robert.

— É um prazer. — Ele correspondeu ao cumprimento e uma onda de calor subiu pelo meu braço apenas com seu toque.

Robert Servantes era um homem de cabelos claros e lisos, a barba por fazer dava a ele um ar matreiro e quebrava um pouco da severidade que seu queixo quadrado firmava. Mesmo estando de terno, ele deixará de lado a usual gravata e mantinha o primeiro botão da camisa aberta.

— Está gostando da festa, Theodora? — Ele dirigiu sua total atenção a mim e eu senti seu olhar sob meus lábios.

— É uma festa realmente encantadora — respondi. — Se todos me derem licença, vou ao toalete — eu disse, fugindo daquele círculo de pessoas.

Quando me distanciei, suspirei aliviada. A verdade é que não estava acostumada com todo aquele ambiente requintado e tinha medo de cometer uma gafe a qualquer momento. O Kaique estava demorando demais com a minha bebida.

Caminhando entre os ambientes do salão cheguei à exposição de quadros de Ofélia Servantes. Eram lindas paisagens que realmente me encantaram, parei diante de uma pintura de uma casa ao pé da montanha e um rio passando pela frente. Ao longe, uma forma humana parecia caminhar por uma trilha.

— Parece que gostou desse — alguém disse e eu fui tomada de susto, me deparei com Robert ao meu lado.

A presença dele era imponente e eu, com um metro e setenta e cinco de altura, me senti pequena.

— S-sim... — gaguejei e lá se foi meu esforço em parecer sofisticada.

— E porquê gostou desse?

— Gostei de todos, só que esse, bem, eu adoraria morar num lugar assim. Me imaginei sendo a pessoa que está na trilha, ela com certeza já explorou bastante essa montanha.

— Interessante — ele disse, com um sorriso divertido. — Você não parece ser o tipo de mulher que gosta de ficar no mato, esturricando no sol.

— E como pensa que sou, Sr. Servantes?

— Você me parece um tipo de mulher bem urbana. Que gosta muito das comodidades que uma cidade grande como São Paulo pode oferecer.

— Não deixa de ser verdade — concordei. — Mas às vezes tenho vontade de sumir. Ir para um lugar longe do ruído dos carros, das loucuras dessa metrópole. Você não?

— Gosto mais de praia. — Ele bebericou o drink que segurava — Sentir a brisa do mar, deixar as ondas baterem no meu corpo, parece que a água salgada me energiza.

Conversar com o filho do Sr. Octávio estava sendo surpreendentemente agradável. Ele não parecia tão arrogante como a maioria dos ricos que eu conheci.

Logo na sequência Kaique se juntou a nós, me abraçou pela cintura e me beijou. Mesmo o beijo sendo rápido, senti a língua dele na minha boca e julguei desnecessário todo aquele teatro.

— Querida, aqui está seu drink.

Eu peguei a taça e olhei para Robert que parecia desconfortável com a demonstração de intimidade de Kaique comigo.

— Desculpe não me apresentar, sou Kaique Medeiros. Vejo que já conheceu minha namorada maravilhosa!

— Sim. — O Robert simpático havia desaparecido e agora eu via um homem indiferente e que não demonstrava o menor interesse em manter conversa com meu amigo — O leilão logo vai começar, vou deixá-los a sós. — E se afastou de nós.

Kaique começou a rir e eu fiz sinal para que ele não desse tanta pinta.

— Há! O Robert parecia estar te devorando só com os olhos!

— Nada a ver

.

— Parecia que você era um pedaço de picanha na frente de um cara esfomeado.

— Que comparação péssima. — Revirei os olhos — Olha ao redor, sou praticamente a única mulher preta de verdade nesse salão. Uma preta num vestido vermelho muito revelador. Então estou com certeza chamando muita atenção, as pessoas não param de olhar para mim, me sinto num circo.

— Pare de bobagem, você está incrível, não tem como pensar diferente. E se esse Robert está de olho em você é bom eu deixar bem claro que nessa noite você já tem dono.

— Quem escuta assim até acredita, Bi.

Virei o conteúdo da minha taça num gole só. Será que meu amigo tinha razão? Será que realmente Robert Servantes estava babando por mim?

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