Promessa II

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  O NASCIMENTO DA FÊMEA MANCHADA DE SANGUE

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O vento frio chicoteou a janela, os baques causados pelos granizos nas madeiras maciças acabaram assustando a genuína lunam que se encolheu por instinto para defender a sua barriga grande, cheia com o filhote mais forte de toda a sua raça. O herdeiro.

— Parece que alguém enfureceu os deuses — sussurrou em pensamentos e lambeu a barriga, afim de mostrar ao filhote que estão fora de perigo.

Suas acaricias com a barriga foram interrompidas pelo som da pesada porta arranhando o chão.

— Venha, Kathe, trouxe o jantar — o genuíno adentrou o quarto com um grande pedaço de carne de carneiro ainda com sangue fresco na boca.

Kathe logo saio da cama e foi ao encontro de seu companheiro, sua boca salivou ao inalar o delicioso cheiro que emanava ardido da carne e o filhote em seu interior se remexeu.

— Sua barriga está muito grande, com certeza vai nascer um filhote que se tornará ainda mais forte do que eu e qualquer outro que já veio a existir — o genuíno orgulhoso falou enquanto observava sua fêmea se deliciando com o banquete por ele trazido.

Nada mais prazeroso para um macho, do que ver a sua fêmea feliz e bem alimentanda carregando a sua prole.

Já fazem dez luas que o casal está a espera de seu filhote, a genuína lunam só pode emprenhar uma única vez na vida, sendo a barriga de apenas um único filhote, um filhote macho, nada além. Mas a deusa estava mais do que disposta a mudar as coisas, e com certeza, nessa noite de grande tempestade, uma outra surpresa aguardava a raça dos licantropos. 

Ao terminar de abocanhar o último pedaço de carne a sua frente, as dores tomaram seu corpo, o uivo anúnciou as contrações em seu ventre. O genuíno alfa sentiu seu coração bater mais rápido e a ajudou a volta para a cama, depois uivou alto para que todos soubesse que seu herdeiro finalmente estava vindo ao mundo.

A chuva do lado de fora ficava cada vez mais forte, dentro da grande toca dos genuínos os grunhidos de dor assustavam a todos. A respiração descompassada da grande loba, sua cabeça baixa, o sangue saindo por sua fenda, tudo intenso demais para Kathe. O genuíno sentia tudo, toda a angústia que sua fêmea estava sentindo, parte da dor. Ele andava de um lado para o outro, de repente a sua toca (quarto) parece ter ficado pequena demais para aquele grande lobo negro de olhos vermelhos.

No instinto de tentar aliviar nem que fosse um pouco a dor de sua fêmea, ele pulou na cama, da sua companheira recebeu um rosnado de reprovação, mas não se intimidou, e se aproximando com passadas confiantes, começou a lamber a fenda por onde passaria o seu filhote. A grande loba relaxou um pouco, seu macho a estava tranquilizando, mas mesmo assim seu coração não se acalmava, seu corpo peludo tremia, estava difícil demais para que ela tivesse força se quer para permanecer de olhos abertos.

Uma hora, em exatas uma hora, o genuínos alfa tinha seus olhos arregalados. 

"Como isso é possível!?" — se perguntava ao observar os filhotes sujos de sangue em sua cama.

O genuíno se aproximou para avaliar mais de perto. Eram dois filhotes. Encostando seu grande focinho no filhote completamente negro, notou que o mesmo estava morto, seu pequenino corpo peludo ficando cada vez mais gelado. Engolindo em seco, encostou seu focinho no outro filhote, este não era negro, era branco, com várias manchas vermelhas em sua pelagem. Com cuidado, virou o filhote de barriga para cima, e o baque do susto o fez anda alguns passos para trás quase caindo da cama. Aquilo não podia está acontecendo. Não deveria está acontecendo. Criando coragem, voltou a olhar o filhote morto, o virando de barriga para cima, sua masculinidade ficou a vista. 

Um trovão cortou o céu e iluminou todo o quarto deixando o genuíno ainda mais horripilante. Rosnou em fúria. Logo a genuína entendeu o que aconteceu, apesar de está fraca, sem forças até para levantar a cabeça, ela entendeu o que havia acontecido. E ela amaldiçoou a sua cria. Não apenas ela, mas todos assim que soubessem do ocorrido, amaldiçoariam a assassina também.

Rosnando o genuíno deixou a toca, voltou a sua forma humana e sem se importar com sua nudez foi para a sala de reuniões. Seu peito subia e descia rapidamente, estava se controlando ao máximo para não quebrar tudo ao seu redor, suas mãos fechadas em punhos.

— Mande vim a mim o beta — gritou para o ômega que trocava a água velha das jarras por água fresca.

Sem dizer uma palavra, apenas com uma silenciosa reverência, ele fez o que lhes foi ordenado. Em menos de cinco minutos, o beta genuíno apareceu na sala de reuniões.

— Genuíno — curvou a cabeça em demonstração de respeito ao entrar na sala e tomar para si uma das cadeiras.

— Ela... ela matou o meu herdeiro, Lacios! — esmurrou a mesa e o som estridente preencheu toda a sala — E agora!? Minha companheira nunca mais vai emprenhar! Maldita seja! — com raiva jogou a cadeira na parede que acabou espatifando.

— Eu não entendendo Kratos, se o filhote morreu, o ventre da genuína não deveria ser capaz de gerar outro filhote? — Lacios, o genuíno beta usou a lógica da reprodução licantropa na falha tentativa de acalmar os ânimos do seu genuíno alfa.

— Sim — Kratos respondeu com o rosto vermelho — Se não tivessem nascido dois, e se um deles não se mantesse vivo! 

Se controlou ao máximo para não grita, como não tinha seu herdeiro para proteger, ele não se viu na obrigação de permanece em sua forma lupina. 

— Dois... — repetiu as palavras ainda perplexo pelo o que acabará de ouvir — Dois... 

— Está surdo inferno! Não fique repetindo o que eu falo! — gritou Kratos já com a paciência abaixo de menos cem.

— Perdão — Lacios falou e mais uma vez pós seu cérebro para funcionar — O filhote que sobreviveu...

— É uma maldita fêmea! — Kratos respondeu sem esperar que Lacios fizesse a pergunta.

— Não pode ser possível — seus olhos arregalarem. O vento assobiou forte do lado de fora e mais um trovão cortou o céu.

— Tudo é culpada daquela maldita! 

— De quem?

— Da deusa, aquela desgraçada! — Kratos andava de um lado para o outro.

— Pensei que ela não passasse de uma lenda...

— Não, ela é real!

Kratos se lembrava exatamente do dia em que a deusa prometeu que encerraria a linhagem dos licantropos. E isso o estava deixando ainda mais enfurecidos.

Kratos tem seus pensamentos interrompidos com o som de alguém batendo a porta, pelo cheiro ele já sabe que é um ômega.

— É melhor ser algo muito importante ômega desgraçado, se não já pode ir se preparando para ter sua cabeça estraçalhada! — gritou para seu irmão ômega assim que abriu a porta.

— Chegaram notícias da alcatéia Nascente.

— E pra que diabos eu quero saber dessa....

— A velut luna foi morta por traição, um filhote humano saio de dentro de seu ser, e uma luna cimex se rebelou contra todos para defender a velut e a criança. As duas foram mortas, mas ninguém encontrou o paradeiro da criança.

— Quando isso aconteceu? — Lacios perguntou.

— A cerca de três horas, o alfa agora está ardendo em febre por conta da morte da companheira.

— Mas um problema — Kratos respirou fundo.

Se o alfa vier a falecer sem ter um herdeiro, o genuíno tem por obrigação garantir a ascenção de algum beta como o novo alfa através das disputas. 

— Mande nossos melhores curandeiros para lá. Não quero ter que tomar as rédeas de mais uma alcatéia.

Ao terminar sua ordem, Kratos se sentou exausto em uma cadeira acolchoada.

— Agora pode ir — ordenou e fechou os olhos com força.

— Genuíno — Lacios chama a atenção de Kratos —  já que não tem um herdeiro de sangue, melhor organizar um torneio entre os alfas para acasalar com a sua filhote. Assim, a linhagem não perecerá — Lacios pensou rápido. 

— Você está certo, já que nasceu uma fêmea que não deveria existir, com certeza ela não tem nenhum destinado. Deve conseguir emprenhar de qualquer um — o genuíno sorriu — Selecionarei os mais fortes para se enfrentarem e assim ganharem o direito de me conceder um herdeiro! 

Para o genuíno aquele era o plano perfeito, a deusa não iria triunfar, uma pena que a criação nunca será maior que o criador. Kratos apenas não entendeu isso. Ainda.

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