04

ELENA NARRANDO

Eu estava muito constrangida depois de tudo que aconteceu, mesmo sendo a “vitoriosa”. É horrível ser odiada por todos. Sei que a mãe do Dimitri me odeia tanto quanto ele mesmo me odeia, e eu queria entender o motivo, mas não entendo. Queria ser capaz de lembrar o que fiz... Queria saber qual foi o meu grande feito pra que ele tivesse tanto rancor.

Timmy se aproximou de mim, eu meio que não sabia o que fazer, estava paralisada desde que Dimitri saiu. Massageei minhas têmporas, pensando em ir embora, mas acabei não fazendo isso. Eu fiquei parada, sem entender muito o que estava acontecendo, e quando Timmy estava suficientemente perto, ele disse:

— Vocês vão se separar? — Perguntou, me fazendo engolir seco.

— N-não, não é bem assim, eu não quero conversar sobre isso... Acho que não é adequado. — Eu falei e respirei fundo.

— Não é bem assim? Me explica melhor, gatinha. Porque eu ouvi vocês falando que se separariam em trinta dias, era esse o acordo? Aliás... Vocês fizeram um acordo? — Timmy falou e eu olhei para baixo, tentando esconder minhas bochechas que estavam fervendo.

— Olha só, eu acho que esse é um assunto que você não deve se intrometer, tá? Como eu disse, não é adequado. Você devia, sei lá, conversar com seu irmão sobre isso. — Falei, e ele recuou.

Eu não sabia o que fazer ou falar. É complicado, mas eu estava tentando lidar com isso da maneira menos nociva possível.

— Estou apenas tentando cuidar de você e ser legal, mas você parece querer fugir o tempo todo, Elena... — Timmy disse. Ele levou uma das mãos até meu queixo e me fez olhá-lo. Aquilo me causou um arrepio dos pés a cabeça. — Vocês dois estão escondendo alguma coisa. Mas já que você está aqui, eu quero te perguntar sobre algo que me deixou intrigado... — Timmy disse, tirou a mão do meu queixo e em seguida, tirou uma foto do bolso, me mostrando.

Ele colocou a foto na frente do meu rosto, e eu arregalei os olhos. Essa era a foto que eu guardava comigo... Era uma foto do dia do acidente.

Três anos atrás, aconteceu algo terrível comigo. Eu não gosto de lembrar disso, mas guardei essa foto porque eu estou à procura desse homem da foto desde que recuperei parte da memória. Não, eu não recuperei tudo e não, eu não tenho a memória tão boa depois disso, mas eu me esforço, anoto as coisas, tento viver minha vida do jeito mais normal possível... Pra não me atrapalhar muito com as informações, meu apartamento é cheio de bilhetes espalhados por todo canto, para quando eu acordo com a cabeça ruim saber o que tenho que fazer e o que eu tenho que me lembrar.

— Por que você está com meu recorte? Isso é meu. — Eu afirmei, um pouco brava. Não gosto quando mexem nas minhas coisas. — Você pegou quando eu estava dormindo por aqui? — Perguntei.

Por causa do casamento, um tempo antes, acabei tendo que ficar na mansão dos Russo e trouxe algumas coisas pessoais. Eu guardo essa foto com muito carinho. Essa foto é um recorte de jornal do dia do acidente, onde alguém me salvou. A foto é de um homem de costas e não dá para ver o rosto desse homem, mas há muito tempo atrás, fiquei sabendo que ele era próximo da família dos Russo.

— Por que você tem uma foto minha guardada? — Ele perguntou e eu o olhei com estranheza.

Dele? Foto dele? Então, Timmy é o homem da foto? Não faz o menor sentido, meu Deus!

— Sua? — Questionei, de olhos arregalados. — Sua, Timmy? É sério isso?

— Sim, sou eu nessa foto. Olha, são meus ombros. — Eu o olhei com admiração, mas ao mesmo tempo, com desconfiança.

Por algum motivo, não acreditei que ele era o rapaz da foto. Nunca vi Timmy com uma jaqueta de couro daquela. Eu estou tentando encontrar esse bem feitor há tempos, mas não consigo achá-lo. Ele salvou minha vida no dia que batemos o carro... Nesse dia, tudo mudou. Tudo mesmo. E todas as vezes que eu me lembro desse dia, sinto vontade de chorar.

— Me devolve essa foto, por favor. — Falei, com os olhos lacrimejando.

— Ah, não chora. — Ele disse, e eu fiz questão de limpar meus olhos, para não demonstrar minha fraqueza. — Desculpa, não quis magoar você. — Ele respondeu.

— Você não se lembra de mim? Como não lembra do dia dessa foto, já que a foto é sua? — Questionei.

Depois que acordei do acidente, eu ouvi diversas vezes que sou burra, que sou atrapalhada... Minha carreira como atriz foi por água a baixo também, parece que tudo saiu do lugar na minha cabeça.

— Por que eu lembraria de algo tão... Não importante? Foi algo muito simples, Elena. — Ele disse.

Aquilo doeu no meu coração. Como ele poderia dizer que salvar a vida de alguém é algo simples? Isso me decepcionou pra caramba e me fez olhar para Timmy com outros olhos. Talvez ele seja tão babaca quanto o irmão dele. Antes, eu até achava que ele era um cara legal e apesar de não ter acreditado que a foto era dele, fiquei pensando no motivo dele ter mentido. Ele tem motivo para mentir? Eu não sei, tenho tantas perguntas... Queria que meu cérebro voltasse a funcionar como antes.

Tentei pegar a foto da mão dele, mas ele ergueu a mão para cima. Por ser mais alto que eu, eu comecei a pular para alcançar a foto. Nem me toquei da vergonha que estava passando por causa disso. Me agarrei nele o suficiente para tentar pegá-la, mas ainda assim, não consegui. E então, ficamos ali, ele rindo da minha cara e eu tentando pegar a foto, como uma criança quando o irmão mais velho suspende a bola.

Então, quando finalmente consegui pegar a foto, eu tentei sair de perto mas ele agarrou meu braço. Eu tentava me desvencilhar, mas ele continuou me puxando e rindo.

— Me deixa em paz com minha foto, por favor! — Implorei.

— Você quer que eu autografe pra você? — Ele disse, rindo da minha cara. Aquilo me fez sentir vontade de vomitar.

— Por que você está me humilhando dessa forma? — Gritei. Isso o fez arregalar os olhos.

— Calma, era só uma brincadeira. — Ele disse, um pouco mais sério.

Eu finalmente consegui me desprender dele, e fui pra trás com tudo. Foi por pouco que não caí. Dimitri me segurou pela cintura, impedindo minha queda. Eu fiquei paralisada por alguns instantes, sentindo meu coração muito acelerado. Só o fato dele estar com as mãos ali em minha cintura me tirou a sanidade por alguns instantes.

Quando finalmente me ajeitei e fiquei em pé, meu olhar se encontrou com o olhar de Dimitri, que parecia bravo. Eu respirei fundo e engoli seco. Será que ele viu a cena tétrica de eu tentando escalar o irmao dele pra pegar a foto? Eu não sei, mas parece que ele está bem bravo.

Enquanto Dimitri olhava para Timmy com um olhar fuminante, eu escondi a foto dentro da minha bolsa, e depois olhei de volta para Dimitri.

— E então? — Timmy disse, de forma debochada, tentando quebrar o silêncio do irmão.

Dimitri me agarrou pelo braço e começou a caminhar para longe, me levando com ele. Ele parecia bem bravo.

— Olha, eu não sei o que você estava pensando, mas eu não fiz nada. — Eu disse, de olhos arregalados e assustada com a forma como ele me arrastava para fora da mansão.

Depois que a porta foi fechada, com nós dois já do lado de fora, ele se aproximou de mim o suficiente para me fazer olhá-lo nos olhos cheios de raiva dele. Eu estava com medo, mas permaneci o olhando.

— Nunca mais encoste no meu irmão. Ouviu bem? Nunca mais. — Ele disse e passou a mão no próprio cabelo castanho, que estava preso em um coque.

A princípio, não consegui responder. Mas eu precisava falar alguma coisa. Depois que saí do transe, respondi, finalmente.

— N-não foi de propósito. Ele estava com uma coisa minha e eu estava tentando pegar... Desculpa se isso te fez passar vergonha. — Ele negou com a cabeça.

— Ele roubou sua calcinha na noite do nosso casamento? — Disse, com rancor na voz.

— Não! Eu não fiquei com seu irmão, Dimitri, você entendeu tudo errado! Quer dizer... Você me deixou no meio da estrada, vestida de noiva, ele me socorreu e eu fui encher a cara para descontar minha frustração. Você quer me culpar por eu ter acabado a noite bêbada? Antes disso, se culpe por ter me deixado no meio da rua. — Falei e ele girou os olhos. — Mas eu definitivamente não fiquei com seu irmão, jamais ficaria.

— Eu ia te buscar, mas precisava resolver uma coisa e você não podia estar junto, tá? — Eu neguei com a cabeça, em um protesto silencioso.

— Aí você me deixa sozinha no meio do nada? — Falei, visivelmente magoada. — Isso foi muito errado. Eu nunca fiz nada pra você...

Ele ficou em silêncio, mas me olhou com pena. Finalmente consegui arrancar alguma emoção dele que não fosse raiva. Pena é péssimo, mas é menos pior que raiva, na minha opinião.

— Olha, eu não quero falar sobre isso. Já sei que foi errado e sinto muito pelo que pareceu, mas eu precisei fazer. Enfim, tanto faz. Eu já disse, não encoste mais no meu irmão, tá? Agora vem aqui. — Ele começou a me fazer caminhar de novo, me puxando pelo braço.

— Você pode ser um pouco menos bruto comigo? — Eu pedi, e ele suspirou, afrouxando a mão ao redor do meu braço, mas continuou me arrastando da mesma forma pelo jardim. — Aonde você está me levando?

Eu odeio o fato do Dimitri me tratar tão mal. Odeio o fato do Timmy ter sido um babaca, sendo que era a única pessoa em quem eu confiava. Eu odeio essa família, mas estou presa a eles por no mínimo trinta dias...

Enquanto eu era arrastada, a única coisa que eu pensava, era: Vovô, eu espero que ser casada te cause muita felicidade, e que minha infelicidade valha à pena. É tudo por você.

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