“Manuela”Eu me despedi do Rick e do PH meio que no automático. Minha cabeça estava em, algum lugar em outra cidade. Entrei no carro, a Lisa me pediu para dirigir, já que ela tinha bebido, e eu precisei fazer um esforço enorme para me concentrar no trânsito, felizmente já era tarde e as ruas estavam vazias.- Agora que estamos em casa e eu não corro o risco de morrer em um acidente porque você estava distraída, me conta, Manu, o que está pegando? – Lisa perguntou assim que entramos no apartamento.- Seu irmão foi ver a ex! – Falei emburrada.- Ih! A ex, foi? – Lisa olhou pra mim como quem não soubesse o que dizer. – O que você acha de colocarmos os pijamas e nos sentarmos aqui na sala pra conversar um pouco?- Por quê você não vem dormir no meu quarto hoje? – Sugeri, pois poderíamos conversar até cair no sono.- Porque eu sei o que você e o meu irmão fazem naquela cama. Hum-hum! De jeito nenhum. É aqui no sofá ou no meu quarto. – Lisa me fez rir.- Está bem, eu vou me trocar e vou par
“Manuela”Eu estava almoçando quando recebi uma mensagem do Flávio dizendo que havia acabado de chegar e iria direto para a delegacia. Respondi apenas com um tudo bem.- Ele poderia pelo menos ter me ligado! – Respirei fundo e desisti de terminar o almoço, eu tinha perdido a fome.Eu estava almoçando sozinha, pois a Lisa e o Rick tiveram uma reunião fora da empresa. Aliás, eu fiquei sozinha a manhã inteira, pois o Rick passou lá em casa e pegou a Lisa para ir para a tal reunião.O resto do dia passou e nem sinal do Flávio. A Lisa ligou para o escritório e disse que o Alessandro mandou que ela e o Rick fossem encontrá-lo na casa dele, pois trabalhariam de lá pelo resto da tarde, ou seja, eu estava completamente sozinha o dia inteiro. Quer dizer, quase sozinha, pois a Margaridinha, funcionária da copa da presidência da empresa, vez ou outra passava pela minha mesa e conversava um pouco comigo. Mais eu tive muito tempo pra criar as caraminholas da minha cabeça.Quando o meu expediente te
“Manuela”Me afastei um pouco, dando espaço para que ela falasse com a filha, e me sentei na cadeira no canto do consultório. Ela fez uma ligação que não foi atendida, fez a segunda e não foi atendida, seus olhos estavam marejados e tristes, então ela fez a terceira ligação.- Oi, querido! Sim, me desculpe, mas eu precisava vir. Não é por isso que liguei. Eu fui atropelada por uma bicicleta... não, estou bem, mas uma moça muito linda me ajudou e insistiu que eu viesse ao hospital, pois eu estava tonta. Sim, de novo. Não, eu estou bem, o médico sugeriu que pode ser uma labirintite. Mas vou fazer alguns exames e o médico pediu para avisar a um familiar. Não, eles não me atenderam, mas meu anjo da guarda está aqui e disse que não vai me deixar sozinha. – Ela sorriu pra mim com gratidão. – Você pode vir? Claro, eu espero você me ligar. No hospital do Molina. Sim eu digo a ela. Outro. – Ela desligou o telefone e suspirou. – Meus filhos não me atenderam, falei com o meu esposo, mas ele está
“Flávio”Eu mandei uma mensagem para a minha baixinha assim que cheguei em Porto Paraíso, mas ela me respondeu de forma lacônica, deveria estar muito chateada comigo, pois geralmente suas mensagens eram muito carinhosas. Eu precisava ligar pra ela, mas já tinha uma mensagem do Bonfim me avisando que a delegacia estava lotada hoje, com muito trabalho, e ele estava se enrolando. Eu havia combinado com ele logo cedo que chegaria até o horário do almoço e ele disse que não tinha pressa, caso a coisa apertasse ele me avisaria, e foi o que fez.Deixei para ligar para a baixinha depois que visse a situação na delegacia e fui direto para lá. Realmente estava caótico! Entre diligências, relatórios e flagrantes, a tarde passou voando. Por volta das cinco da tarde tive um tempinho e tentei falar com a baixinha, mas a ligação caiu direto na caixa postal. Achei estranho, ela era muito atenta ao celular e depois de tudo o que ela passou, o fato de que ela não atendia ao celular me deixou preocupado
“Manuela”A medida que o Flávio caminhava em minha direção eu fui ficando mais nervosa, eu sabia que ele estava nervoso e preocupado, mas ele entrou naquele hospital parecendo um touro bravo, parou em minha frente com as mãos no quadril e estreitou os olhos para mim.Eu não sei se foi o nervosismo ou o que foi que me deu, mas eu tive uma vontade incontrolável de rir e, uma vez que havia começado a rir, não conseguia parar. Eu ri até perder o fôlego e ficar com dor na barriga. O Rick começou a me abanar com a mão, pois eu fiquei sem fôlego, como se isso resolvesse, e a Lisandra estava com a mão na boca tentando disfarçar sua própria vontade de rir. Quanto ao Flávio, ele me olhava como se eu estivesse maluca.Depois de me controlar um pouco, enquanto enxugava as lágrimas de tanto rir do meu rosto com uma mão, com a outra estiquei o meu celular para o Flávio, que o pegou, examinou e bufou.- Sem bateria, baixinha? Sério? Tem idéia do quanto eu fiquei preocupado? – Ele me repreendeu.- Nã
“Flávio”Mas o que estava acontecendo? De repente a minha mãe estava tratando a Manu como se fosse a própria filha. Eu estava achando tudo muito estranho. Não dava para acreditar que de uma hora pra outra, sem motivo ou razão aparente, estava tudo bem, não depois do estardalhaço que eles fizeram. Eles me atormentaram por meses, me fizeram ficar indo e vindo de Campanário por meses, se agarraram com unhas e dentes a tentar me convencer a voltar com a Sabrina, meu pai chegou ao absurdo de procurar a Rita, tudo isso para agora simplesmente minha mãe agir como se nada tivesse acontecido. Não dava para acreditar.Quando as enfermeiras apareceram com uma cadeira de rodas para levar a minha mãe para outro andar eu ainda estava muito surpreso com toda a situação. Foi somente quando a minha mãe se sentou na cadeira que percebi as escoriações nos joelhos e nos braços dela e o seu vestido sujo e rasgado. Ela realmente havia sido atropelada, pois minha mãe jamais estaria desalinhada em público se
“Manuela”Eu não poderia permitir que a família do Flávio ficasse em um hotel, por mais luxuoso que fosse, seria um hotel, era impessoal e sem sentido, já que o filho deles morava em um apartamento e poderia recebê-los. Além do mais, o Flávio foi tão gentil com a minha família, fez questão de recebê-los quando estiveram aqui, então, se podíamos receber a minha família, poderíamos receber a família dele também.E também eu tinha outro interesse, queria ver como eles se comportavam juntos e queria resolver de uma vez por todas as diferenças que haviam entre nós, queria ouvir o lado deles da história e queria que fosse possível que eles se reconciliassem e eu sabia que o Flávio me enrolaria se eles fossem para um hotel. Mas eu também precisava da Lisandra, pois eu já havia percebido que ela era a única que falava francamente com o pai sem que eles brigassem. Então eu reuniria essa família no nosso apartamento, claro, precisaria fazer alguns ajustes, mas isso era fácil.- Bom, eu me despe
“Flávio”Eu ainda não tinha entendido porque a Manuela resolveu levar a minha família toda para o nosso apartamento. Para piorar muito, ela cedeu o nosso quarto para os meus pais e eu ainda teria que dividir um quarto com o Raul e ficar sem ela essa noite. Eu já não estava de bom humor, mas tudo bem, eu poderia fazer isso pela baixinha, já que ela queria fazer isso.Mas a medida que o tempo foi passando e fui vendo os meus pais agindo como se nunca tivessem se imposto contra o meu relacionamento com a Manu, eu fui ficando mais incomodado. Se a Manu queria que eu ouvisse o que eles tinham a dizer, eu faria isso, mas era só isso, não significava que fosse mudar alguma coisa e que eu voltaria a falar com eles depois que saíssem da minha casa.- Flávio! – Manu me olhou como quem quisesse me alertar que não era a hora certa.- Baixinha, eles estão aqui, do jeito que você quis, eu vou ouvi-los, assim como você quer, mas eu não vou esperar até amanhã. – Eu não deixei margem para discussão.-