Capítulo 3

Sebastian Mardowhisky

A minha vida nunca foi fácil, na realidade, a vida de ninguém é.  Mas para mim, foi difícil desde muito cedo.

Meus problemas começaram muito cedo, fiquei órfão, passei fome e morei na rua, nenhum familiar nunca quis ficar comigo, então eu não tinha ninguém para cuidar de mim, era apenas um menino com fome e precisando de carinho.

Entre meus dias de solidão e medo dormindo nas ruas de New York, me faziam lembrar dos dias felizes que eu tive com meus pais, éramos uma família muito unida, eles me amavam muito e faziam o que podiam para cuidar de mim até um dia em que estávamos passando na rua e fomos abordados por alguns homens, que quando pegaram no braço do meu pai, logo lhe mostraram algo que estava na sua cintura, na época eu não conseguia entender, mas hoje eu sei que era um revólver. Lembro como se fosse ontem, meu pai reagiu e então começou a agressividade, minha mãe desesperada mandou que eu fugisse, e me empurrou para escapar, mas quando corri e olhei para trás, vi o exato momento em que os dois homens atiraram nos meus pais e fugiram, deixando para tras os dois ensanguentados, sufocando com seus próprios sangues,  minha mãe tremia, e lágrimas saiam de seus olhos, já meu pai, não se mexia mais, e sentindo uma dor insana no peito, comecei a chorar.

Deixando meus pais para trás, fui levado junto com uma assistente social para a casa de uma tia, irmã do meu pai.

Ela me espancava constantemente, era uma mulher com vício em bebidas, falida e não tinha mais ninguém e quando as coisas não funcionavam para ela, o que era quase todos os dias, ela descontava sua ira em mim então em pouco tempo, acabei fugindo de casa. Ela dizia que meu pai era tão inútil, que morreu e acabou  me deixando para trás e assim atrapalhar a vida das outras pessoas, e o pior, é que eu ainda tinha a esperança de que ela gostasse de mim algum dia, mas não foi o que aconteceu e então eu preferi morar na rua, eu não tinha nada além de uma pequena mochila com um casaco, uma calça e uma bermuda que já estava bem velha, pois minha tia não comprava roupas novas para mim e na tentativa de receber um pouco de atenção ao invés de apanhar, eu preferia não pedir nada, até que o dia do meu aniversário de 11 anos chegou, e eu fui até um parque aberto, onde eu estava quase com frequência, era um parque natural, havia um lago com peixes dourados e nesse exato dia, havia muitas famílias felizes, era tudo o que eu não tinha…

—  Sebastian?  —   Sai dos meus pensamentos ao me deparar com Michael bem a minha frente, tentando chamar minha atenção.

—  Desculpe, não vi você chegar.  —  Eu murmurei e me movi tentando dissipar aquela nuvem negra que se instalou em mim a segundos atrás.

 —  Dia ruim?  —  Michael perguntou puxando a cadeira e se acomodou na cadeira esticando as pernas e afrouxando a gravata.

 —  Não, só lembranças ruins. Mas o dia de trabalho foi ótimo então, tudo está bem.  —  

Murmurei tentando engolir aquele bolo na garganta, mas meu tom de voz saiu mais sério que o esperado e franzindo a testa, Michael enfiou sua mão no bolso, pausou por alguns segundos como se estivesse pensando em algo e então murmura.

 —  Estava pensando em fazer uma festa de comemoração ao nosso aniversário juntos, o que me diz?  —  

Fiz um gesto com a cabeça em confirmação e olhei para meu amigo que voltou a dizer.

—  Vamos sair hoje? Yven estava afim de ir para a balada. Minha sogra vai ficar com o Chris. —  

Não posso negar, o que estou sentindo dentro de mim, dói, e muito, mas não posso deixar uma mulher que me rejeitou levar toda minha vida com ela, então decidi que a partir de hoje, voltarei a ser o Sebastian Mardowisky de antes.

Em resposta a pergunta  mais uma vez confirmei com um gesto e me levantei da cadeira e disse a ele.

—  Vou em casa tomar um banho e comer alguma coisa, às 21h passarei em sua casa.  —  

Michael esboçou um sorriso e levantou já confirmando e disse. 

—  Então, vejo você mais tarde  —   e saiu andando rumo a saída, quando eu murmuro.

—  Acha que eu devo seguir a minha vida?  —  Ele parou de andar quando chegou na porta e virando-se para mim, vi em seu rosto uma expressão que eu conhecia bem, e ele respondeu.

—  Não sei o que aconteceu entre vocês naquela noite, Sebastian. Mas acho que deve ir com calma, acredito que a história de vocês ainda não terminou.  —  

Eu confirmei com a cabeça e ele assentiu e saiu andando, e eu me virei de costas para observar a vista que se desenrolava abaixo dos meus pés.

Uma noite de sexta-feira, pessoas apressadas atravessam a faixa para pedestres, do outro lado encontro um casal se amassando próximo a uma praça, e minha atenção ficou toda lá, mas minha mente vagou até a noite em que jantei com Amanda.

Amanda estava um pouco mais agitada que o normal, e sabia que era eu que causava sua inquietação.  Acabamos de sair do restaurante e  estávamos em frente a sua casa quando ela fez menção de descer do carro e só depois se despedir e então eu peguei sua mão e senti algo eletrizante através do nosso toque, imediatamente entrelacei nossos dedos e ela me olhou, seus olhos brilharam, ela engoliu em seco e seus lábios se entreabriram em um convite, no qual eu ansiava por aceitar, eu desejava tanto essa mulher, que meu corpo se arrepiava por simplesmente estar tão próximo dela e então ela passou a língua pelos lábios e eu não resisti e a beijei.

Um beijo tímido começou a se transformar em esfomeado, passei minha mão por seus ombros e então posicionei minha mão entre seus cabelos e os puxei, Amanda gemeu baixinho entre o beijo, seu gemido me impulsionou a querer mais e então a puxei contra mim, mas fomos impedidos pelo pouco espaço e então lembrei que estávamos no carro e ela então murmura sem olhar nos meus olhos.

 —  Você gostaria de…  —  Ela pausou e mordeu o lábio demonstrando que estava com um pouco de receio, eu acariciei sua bochecha incentivando-a a continuar e ela prosseguiu.

 —  Você quer entrar?  — 

Dessa vez ela olhou nos meus olhos e vi ali um pouco de receio misturado com desejo e sorrindo murmurei me aproximando do seu pescoço.

—  Achei que nunca me convidaria, Baby  —  Tirei meu cinto de segurança e desci do carro e observei Amanda se recuperar das sensações que tivemos a poucos segundos atrás, e quando abri a porta do carro, ela agradeceu a caminhou a minha frente, sei que ela está confusa com receios e medos, uma parte de mim aceita e entende sua confusão e a outra parte fica confuso e irado por saber que ela ainda sente algo por aquele embuste, que teve a coragem de enganá-la.

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