Ximena Valverde
Minha mãe e suas ideias, por mim eu preferia ir em lojas de alugueis de roupa, encontrar o vestido do meu gosto. Ela e suas crenças de que a roupa que eu alugasse poderia ter estigmas ruins de outras pessoas e meu casamento desandar. O bom de fazer com uma costureira, é que tudo saiu como eu queria, até os tecidos pude escolher. Estava na última prova, ao me olhar no espelho, me vi linda. Meu casamento seria um sonho. Daqui a dois dias seria a mulher mais feliz do mundo, ia casar com o homem da minha vida. — Filha, tá parecendo uma princesa! — minha mãe falou com lágrimas nos olhos. — Mãe, para de chorar e pega um pouquinho desse café pra mim. — apontei para a garrafa em cima do bufê na sala de costura. Sem demora, minha mãe pegou o copinho descartável e pôs a dose do líquido fumegante para mim. A costureira, que voltava de outro cômodo, tentou prevenir um acidente, mas o efeito foi o contrário. — Não faça isso, não dê café a ela usando o vestido branco! — Ela gritou. Naquele momento, tudo ficou em câmera lenta, a minha mãe tentou pegar o copo de volta e, ao mesmo tempo, eu tentei devolver, assim, nossas mãos se esbarraram. Eu vi o líquido explodir para fora do recipiente e respingar na lateral do meu vestido. Minha mãe e eu nos olhamos apreensivas e, claramente, não sabíamos o que fazer. A costureira e a minha mãe começaram a pirar, ao invés de solução, elas rodavam e não saíam do lugar, mas ouvi que eu precisava de uma lavanderia urgente, pois se a mancha secasse, até na lavanderia ficaria amarelado. Sabia que estava próximo a tinturaria duquesa, deixaria elas discutindo o que fazer e iria atrás de resolver o meu problema. Sem pensar duas vezes, passei a mão na minha bolsa e desci o vestida de noiva, não utilizei o elevador, pois ele demoraria, desci quatro lances de escadas em disparada. Cheguei na rua e corri acelerada rumo à lavanderia, todos olhavam uma doida correndo na rua usando um vestido de noiva e segurando as saias dele. Quando cheguei, não pude acreditar, as portas da loja ainda estavam fechadas. Soltei as barras do vestido e, em um ato de desespero, usei minhas mãos para bater na porta de metal. Me virei para trás, tentando encontrar alguma ajuda, foi quando avistei por trás de mim um homem do outro lado da calçada, vestido de traje formal como um executivo, parado à frente de um enorme veículo. — Senhor, bom dia! Sabe que horas vai abrir a lavanderia? — isso era tudo o que eu queria saber. Ao invés de me responder, ele ficou parado, olhando para mim. Ok, eu estava vestida de noiva, correndo pelo meio da rua, mas a maneira que ele me olhava parecia que eu estava nua. — Oi, está tudo bem? O senhor me ouviu? — fiz uma careta estranha para ele. Finalmente, parecia que ele saiu do transe. — Oi, desculpa. O comércio só abre às nove, faltam cinco minutos. — finalmente me respondeu. — Verdade. — Foi naquele momento que me dei conta de que todo o comércio à minha volta ainda estava começando a abrir. — Estou desesperada, meu vestido de noiva está manchado de café e me caso depois de amanhã. O homem de terno ainda me olhava estranho, me assustei quando ele pegou minha mão e saiu andando, sem dizer uma palavra sequer. — Ei, o que é isso? — reclamei. — A loja abriu. — se limitou a responder. — Ah, certo. — pensei comigo mesma que era melhor ele ter falado, do que pegar na minha mão, e tratei de soltar da mão dele, indo direto para a tinturaria. Nós estávamos no estabelecimento quase juntos, mas ele estava aguardando primeiro. — Bom dia, senhor Albeniz! A atendente falou toda derretida, ignorando minha presença. — Bom dia, atenda a moça primeiro. O caso dela é mais urgente. — Obrigada. — agradeci. Mostrei a mancha para a atendente, e ela me falou o óbvio, que eu, em meu desespero, não tinha me tocado. Eu deveria ter tirado o vestido. — Tem algo para me emprestar, um roupão? — Infelizmente, não, senhora… — seus lábios formaram uma linha fina. O que mais me importava era salvar meu vestido. Se iria ficar de roupa íntima, dane-se! Foi quando o homem de olhar intenso tirou seu paletó e me estendeu, me livrando de ficar em uma situação constrangedora. — Obrigada. — lhe sorri. Vesti o paletó e, como se estivesse trocando de roupa em um reality show de gosto duvidoso, tirei o vestido e entreguei à mulher com urgência, que entrou com a peça em uma porta nos fundos da loja. Provavelmente para pedir urgência ao funcionário responsável pela lavagem. Ela voltou toda derretida novamente e se dirigiu ao homem ao meu lado: — Vou pegar seu terno, senhor. Liguei para minha mãe, informando onde eu estava, pedi que ela trouxesse a minha roupa. Como estava perto, logo chegou. Ao me ver vestida com imenso paletó, não precisou muito, deduziu de onde veio. — Que par de olhos lindos… — minha mãe sussurrou no meu ouvido. — Que isso, dona Clara… — a repreendi, tentando manter o tom baixo para o homem não perceber. — Não venha me dizer que não reparou nos olhos e em todo o resto. — Não, mãe, não reparei, só tenho olhos para o Carlos e você só deveria ter para o meu pai. — a todo momento, eu olhava de soslaio para conferir se o homem ouvia nossa conversa. — Sou casada, filha, não cega. E vai, troca logo de roupa para devolver o paletó do moço. Enquanto eu trocava de roupa novamente, ele foi para o carro colocar o terno que acabou de retirar da tinturaria. Já trajada com meu vestido azul de alcinhas, peguei o paletó, pus no braço e fui ao encontro dele, no outro lado da rua. — Aqui. — estendi a peça para ele. — Obrigada, você foi muito bacana em me ceder a vez e o blazer, mais alguns minutos e eu poderia perder o meu vestido e desandar meu casamento. Eu falei, falei e ele apenas pegou o blazer e ficou me olhando daquele mesmo jeito, até que uma frase saiu de sua boca: — Tanto esforço para nada! — Suspirou. — O quê? O que você disse? — perguntei de cenho franzido. Com a expressão séria, como se fosse um tipo de vidente bonachão, ele discorreu: — Não casa, você não vai ser feliz. — fiquei boquiaberta com suas palavras. — É mesmo? Viu aí na sua bolsa de cristal portátil? — Não. É porque você acabou de encontrar o verdadeiro amor da sua vida. — Que cantada mais barata! — Não é cantada, é um fato. — retrucou, convicto. — Então, o “amor da minha vida” chegou muito atrasado, pois eu me caso muito feliz e realizada, depois de amanhã. Me virei para sair e ele segurou no meu braço. — Me fala seu nome e me dá seu número? — Solta o meu braço, por favor — ele imediatamente atendeu meu pedido. — Não vou te dar meu número. E meu nome é… “Não Te Interessa” Garcia. Dessa maneira, me virei e saí em disparada dali, irritada por tamanho desaforo de um homem que nunca vi na vida.Alejandro Albeniz O que estava se passando comigo? Acabei de praticamente jogar praga no casamento da mulher mais linda que eu já vi na minha vida. A sorte é que ela não me levou a sério, eu mesmo não estava me entendendo. Fiquei entorpecido pela eletricidade passando por todo o meu corpo, fazendo o meu coração disparar. Ele batia tão rápido, que parecia que daria um salto do meu peito. Sempre quando ficava louco por uma mulher, era uma outra parte do meu corpo que latejava, nunca o peito. Quando a vi seguir com a mãe, tive vontade de ir atrás dela, de falar novamente para ela não se casar. Como se ela devesse se casar comigo, como tivesse sido feita para mim. Eu com certeza não estava bem e olha que pelo café da manhã foi apenas um suco de laranja, não foi um hi-fi. Pensando no estresse desnecessário que o senhor Albeniz tentou me causar essa manhã, seria até aceitável eu batizar o suco, mas não fiz. Meu corpo estava sóbrio, mas minha mente ficou inebriada de um sentimento
Carlos AlcarazEra o dia mais importante da minha vida. Iria me casar com a mulher que sempre amei. A mais linda, decidida, cheirosa, gostosa… Ximena e eu seríamos muito felizes. Terminava de me arrumar, quando ouvi batidas na porta. Permiti que minha mãe entrasse, sabia que era ela.— Nossa, como é lindo meu filho! — ela babou sua cria. — Tem vaga no carro para você.— Estava pensando em ir de moto, mãe.— E sujar essa farda branca? Nem pensar! — Ela bradou.— Está certo. — assenti.Vestir a farda de gala do bombeiro para me casar, foi ideia da minha noiva. Eu já usava tanto farda, que confesso que gostaria de colocar algo diferente, mas os desejos de Ximena para mim eram ordens.Quando saí do quarto, as mulheres da minha vida me abraçaram; minha mãe, avó, irmã e prima.— Chegou a hora que vamos nos livrar de você — minha irmã disse sorrindo, me fazendo rir.E todos pareciam muito felizes, menos Betina, minha prima. Ela criou algumas expectativas da épocas em que éramos pré-adolesce
Alejandro Albeniz Eu levantei tonto, só pensava que o bombeiro tinha que estar ali ainda segurando, mas como, se daqui, eu não conseguia suportar o calor das chamas? E já ouvia os gritos das outras pessoas, dizendo que ele caiu. Vi uma moto parada e só podia ser dele, tinha uma caixa de jóia em cima, coloquei no bolso do que restou da minha calça, subi no veículo, desci o viaduto e fui até o incêndio da aeronave.Não havia nada que eu pudesse fazer, o copo sem vida do cara que salvou a minha vida estava ali ao lado da aeronave destruída e se incendiando. Peguei aquela caixinha do bolso e abri, um par de alianças, numa tinha escrito Ximena e, na outra, Carlos.— Não é possível, o cara ia se casar! — falei comigo mesmo, sentido pesar. Fui até a moto e olhei que o GPS integrado estava direcionado a uma igreja, era meu dever. Eu tinha ao menos que avisar o que aconteceu com aquele homem que salvou minha vida.Estava bem perto, em três minutos cheguei até a basílica, subi a rampa lateral
Alejandro Albeniz Queria mesmo era estar apoiando os familiares de Carlo Alcaraz, o rapaz praticamente deu a vida por mim. O mínimo que eu poderia fazer em agradecimento era trazer um pouco de conforto para sua família. No entanto, meu pai, desesperado, me prendeu nesse maldito hospital. Tomografia, ressonância… todos os exames que a medicina pudesse proporcionar, ele me obrigaria a fazer, para ter certeza de que eu estava bem. Tentei me desvencilhar, dificilmente deixava o senhor Albeniz me pôr um cabresto, no entanto, a pressão dele foi nas alturas quando, por um momento, acreditou que eu era o homem que morreu no acidente. Meu velho ainda estava com a pressão alta e por isso acataria seus pedidos. Mesmo com os protetores de ouvidos, o barulho da ressonância ainda era irritante, dei graças a Deus quando finalmente me tiraram daquele tubo apertado. Do lado de fora da sala radioativa, Mercês me aguardava. Eu vestia um roupão desses que amarrava na parte de trás e deixava nosso tras
Alejandro Albeniz Catalina só falava desse noivado que aconteceria daqui a cinco dias, eu tinha me esquecido desse detalhe da minha vida. Tentei argumentar com ela que não era o momento, que até a minha posse na empresa eu adiei, mas ela não quis saber. Quando saí do hospital, só havia um pensamento dentro da minha cabeça e tinha nome e sobrenome.Ximena Valverde.Entrei em casa e quase saí no mesmo pé. Foi só um tempo para eu tomar um banho e tirar as roupas com cheiro de hospital. Passei pela sala de casa e estavam todos reunidos, menos o Beto e esse era o único Albeniz que gostaria de ver para saber como foi com a família do Carlos. E justamente ele era o único que não estava em casa. Passei apenas dando um até mais tarde, meu pai tentou me impedir, falando algo que nem dei atenção. Catalina andou comigo até a garagem e tentou entrar no carro, mas assim que entrei, travei as portas .Não queria Catalina e sua insensibilidade no meio da conversa que teria com Ximena. Precisava expl
Ximena Valverde Sete dias, já eram sete infinitos dias sem o amor da minha vida. A missa celebrada na basílica onde a gente iria se casar parecia que aumentou ainda mais a minha dor. Eu até entendia motivo pelo qual a minha sogra escolheu justamente essa igreja. O intuito era fazer uma homenagem, saudação, mas para mim foi ainda mais pungente, me lembrou de muitos fatos dolorosos. E trouxe à tona sentimentos que estavam até um pouco controlados, como a minha raiva por Alejandro Albeniz. A imagem dele entrando na igreja, dizendo que Carlos morreu, perdurava na minha mente.Agradeci quando a missa acabou e finalmente pude voltar para casa e me enterrar com a minha dor.Ouvia a todo momento meus pais cochichando pelos cantos, algumas das vezes nem me interessava no assunto. Não devia, não queria ficar o tempo todo me martirizando com essa história. A ausência de Carlos já acabava comigo, me fazia querer morrer e, de certa forma, me matava um pouco a cada dia. Em meio a muitas conversas,
Ximena Valverde Rico de beleza, rico de dinheiro, mas pobre, muito pobre de caráter. Noivando hoje e teve a cara de pau para dizer que eu não saía da mente dele.Hipócrita!— Aonde você foi? Onde estava uma hora dessas, Ximena? Sua mãe e eu estávamos preocupados. — coloquei os pés em casa e fui metralhada pelas perguntas do meu pai.Poderia mentir, mas não adiantaria, segunda-feira quando ele chegasse no trabalho, as notícias cairiam como uma bomba em sua cabeça, sobre a filha do funcionário que invadiu a festa de noivado do patrão, isso se não tivesse uma manchete no jornal de domingo.— Ouvi o senhor e a mãe cochichando na cozinha, fiquei desnorteada em saber que aquela gente estava dando uma festa. Era um absurdo. Eu não podia aceitar isso.— E o que fez? — meu pai me perguntou, já sabendo que a resposta não iria agradá-lo.— Fui até a propriedade da família Albeniz.— Ximena! Você o que? — Papai quase gritou.— O que o senhor ouviu. E já que comecei, vou terminar. Armei o maior b
Alejandro Albeniz Cinza, do meu ponto de vista, essa era a cor mais elegante para um terno. No dia da primeira tentativa de posse da presidência, eu estava com um terno black e foi desastroso, dessa vez, faria diferente. Ainda tinha muitas coisas desse maldito acidente para resolver, contudo, tinha que esperar a AESA liberar o relatório e os destroços. Esse acidente também impactou nos vôos fretados e esse seria o primeiro desafio da minha gestão, fazer com que a Granafly fosse sinônimo de conforto e segurança para o cliente externo.Também não estava de acordo com a maneira da gestão de pessoal; o estilo “faça o que eu te pago para fazer”. O mundo mudou e o senhor Antônio Albeniz não entendeu isso muito bem. Quando eu não consegui tomar posse, tínhamos preparado um grande coquetel a ser celebrado em uma pequena pista de pouso desativada, assim caberia todo o nosso pessoal. Dessa vez, pedi que chamassem apenas os supervisores, os gestores e os assessores, infelizmente, eu queria al