Tempo atual:Laura Martins:— Ei! Vai ficar me fazendo de cachorro? — Sua voz interrompe meus desvaneios, acompanhada de cutucões na minha bochecha.Fico momentaneamente atordoada, tento processar as suas palavras, mas eu não consegui entender.— O que... o que você disse? — Questiono, a minha confusão transparece na minha voz. Eu me pedir completamente com as lembranças do primeiro dia em que o vi.Ele me lança um olhar impaciente.— Para onde devo te levar? — Ele repete, com uma leve irritação na voz, me vejo obrigada a me recompor.— Ah, sim — respondo, tentando parecer mais segura do que realmente estou. — Bairro Valéria.— Valéria? Sério? — Seus olhos desviam da estrada para mim por um breve momento, suas sobrancelhas se arqueiam em descrença, mas logo retornam para a rua. — Por que você foi morar logo no bairro mais perigoso de Salvador?— Depois que se acostuma, nem é tão ruim — tento dar uma responder de forma despreocupada.Para a minha sorte, ele nã
Laura Martins: — Laura, o que aconteceu no restaurante? O meu filho chegou aqui transtornado! — a mulher começa. Lá vamos nós, penso me preparando para receber o esporro. — O nosso acordo era para você deixá-lo feliz e não ainda mais infeliz! — A voz da mulher ressoar familiar por trás da linha. De onde a conheço... de onde... já sei! É ela! A senhora elegante e gentil de terninho. Cristiane, é esse o nome dela, por que eu não me lembrei assim que vi o ogro? Será que foi o choque por ter sido justo ele? — Está aí? — Cristiane, a mãe do ogro, chama impaciente. — Si-sim! Estou sim — respondo, tentando suar calma, mesmo com o coração disparado. — Então por que não me respondeu? — Questiona. — Eu estava tentando me lembrar de onde conhecia a sua voz — explico e mordo o lábio com vergonha da minha lerdeza. — Você não lembrava que era eu? — Consigo sentir a surpresa em sua voz. — Desculpe — peço envergonhada, provavelmente o nome dela estava no contrato, mas eu só li a parte dos bene
Laura Martins:— Você! — exclamamos juntos, ambos claramente atônitos e, no meu caso, desesperada.Meu coração dispara em meu peito, ecoando um alarme surdo que parece preencher todo o espaço da sala de reuniões. Minhas mãos tremem tanto que mal consigo segurar a bandeja. Diante de mim, com os olhos azuis mais gélidos, que parece até congelar o ar entre nós, que eu já encontrei, está o ogro... não, o CEO da empresa onde trabalho, o mesmo homem em que a mãe me “alugou” para amar. Céus!Seu olhar sobre mim é uma mistura de surpresa e irritação, tão intensa que nesse momento, eu quero desaparecer.A única coisa que consigo fazer é encará-lo com uma expressão que eu só posso imaginar como uma mistura de choque e horror.Sinto os olhares curiosos de todos sobre nós, olho em volta e subitamente me sinto muito pequena. Sinto o peso de cada olhar, julgando, questionando. Procuro por uma rota de fuga, mas a realidade da situação me golpeia com força. Não tem como eu correr.— O que está fazend
Fernando Duarte:Não consigo me concentrar nos desenhos dos designs das novas joias apresentadas nos slides. Na minha mente só vem Laura, especificamente o dia em que nós encontramos pela primeira vez: Sete meses atrás:— Senhor, vim busca-lo — Ana informa por trás da porta.Ajeito o paletó, levanto da poltrona e seguro a maleta com alguns papeis dentro. Saio do quarto e Ana segue atrás de mim, de frente a porta de saída de casa, meus pés travam. Depois de dois anos, sendo perseguido pelas vozes, atormentado pelo passado, torturado pelas lembranças e me sentindo culpado, essa é a quinta vez que saio dessa casa; com o passar do tempo, até a luz do dia começou a me incomodar, ficar no escuro fazia as vozes se calarem.Mas a minha mãe, me tirou de dentro de casa. Ela e a minha irmã, agora sei que foi tudo armado pelas duas, no começo fiquei com raiva, mas agora me controlo melhor.Não quero sair! A minha mente e o meu corpo gritam, aperto com força a alça da maleta,
Laura Martins:— Logo você ficará boa — Oliver diz terminando de enfaixar a minha mão, e fecha o kit de primeiros socorros.— Obrigada — agradeço. — Como eu nunca te vi antes? — Questiono curiosa. Oliver, apesar de ter uma beleza quase feminina, é bonito. Seria impossível não reparar nele.— Oliver, está aqui? — A voz de Mike ressoa, antes que Oliver possa me responder. — Oliver, por que você chegou... — ele para de falar ao me ver, então olha para Oliver que está ao meu lado e para mim novamente, repete o movimento mais uma vez e só então repara na minha mão. — O que aconteceu?Mike se aproxima preocupado, pega na minha mão e observa o curativo feito por Oliver.— Está doendo? — Indaga preocupado.— Não, Oliver passou uma pomada de assadura e fez um curativo para a pomada não sair.— O que aconteceu para queimar sua mão assim?— Na sala de reunião, uma mulher do nada fingiu que eu prendi a xícara de café e derrubou ele na minha mãe, depois começou a gritar como eu ousava derruba café
Laura Martins:— Não sabia que era o senhor — respondo, canalizando a tranquilidade de um monge em meditação, embora por dentro estivesse mais para um desenho animado em pânico. — Creio que esclareci isso no restaurante, lembra? Quando você decidiu gritar comigo na frente de todas aquelas pessoas — acrescento, lançando-lhe um olhar significativo.Fernando me encara com uma frieza calculada, seus lábios formam uma linha reta, mas eu percebo uma ligeira hesitação em seus malabarismos com a caneta.— Como conheceu a minha mãe? — Ele dispara a pergunta, e eu quase engasgo com a surpresa.Droga!— Por que acha que eu conheço a sua mãe? — Retruco, tentando soar tão inocente possível, quanto uma criança flagrada fazendo travessuras, enquanto desesperadamente tento ganhar tempo para tecer uma resposta plausível.Fernando para de brincar com a caneta, seu olhar foca intensamente em meu rosto, quase me perfurando e analisando, tentando encontrar a verdade em minhas feições. Falho miseravelmente
Fernando Duarte:— Então, em breve receberei um convite de casamento, é isso? — brinco, enquanto observo Pietro passar as mãos por seus cabelos com uma expressão de quem preferia estar em qualquer outro lugar.Não posso dizer que sei como ele se sente, há três anos, eu estava na mesma situação que ele, em um casamento arranjado, mas tinha apenas uma diferença, eu queria aquele casamento. Pior erro da minha vida.— Melhor eu aproveitar, serão os meus últimos dias solteiro — ele diz, esboçando um sorriso que mais parecia uma careta de dor contida.Eu e Pietro nos tornamos amigos na faculdade, porém enquanto eu fazia o curso de administração, ele fazia medicina, foi um acaso nos tornamos amigos. Apesar de ele ser quatro anos mais novo do que, ele entrou bem cedo na faculdade, agora ele já tem dois anos sendo o melhor cardiologista do hospital de sua família. — Pelo menos ela é bonita — comento, tentando deixar a situação um pouco menos sufocante para ele. — E aí, acha que vai consegui
Laura Martins:— A mamãe vai me matar! — Profiro observando a travessa de vidro espatifada na pia.— Laura!? — A voz de Luciano ressoa por trás de mim, viro-me para ele com os olhos cheios de lágrimas. — O que aconteceu? Por que gritou? — Ele indaga preocupado. Meu lábio treme.— A travessa... que..quebrou — gaguejo com a voz aflita. — Não foi de proposito — apresso em me defender. — Eu só coloquei em cima da pia, e aí ela estourou — explico em prantos.Meu irmão se aproxima de mim, com os polegares ele enxuga as minhas lágrimas.— Tão bobinha, o que você estava fazendo com a travessa?— Eu queria fazer um bolo para você, com mousse, por isso usei a travessa — explico. — Queria te acordar e cantar os parabéns, mas só fiz gritar e a agora a mamãe vai me bater — falo e começo a chorar ainda mais, Luciano me abraça e alisa as minhas costas, aos poucos vou me acalmando.— Vá para o quarto e tome banho, não conte nada para a mãe, deixa que o seu mano resolve, tá bem?Balanço a cabeça que s