▪︎Capítulo 3▪︎

Dia seguinte....

Suzana

— Amiga, acorda. — Uma mão sacudiu o ombro de Suzana, mas ela não queria despertar. — Suzana, você precisa acordar

— O que foi? — Ela respondeu, sonolenta.

— Seu celular estava tocando lá na sala, e eu atendi. — Priscila parou de falar e suspirou. — Houve um acidente com seus pais e precisamos ir para o hospital.

O coração de Suzana acelerou, e ela acreditou que devia ter entendido errado. Certamente ainda estava dormindo ou sonhando, não podia ter ouvido a amiga falar em acidente.

— Como assim um acidente?

— Se arruma, que no caminho eu te explico, o Pablo está nos esperando para nos levar ao hospital. — Priscila saiu do quarto, deixando Íris sozinha com o coração descontrolado.

Assim que ela se arrumou, encontrou ambos na sala a esperando. Eles saíram em disparada, e Priscila contou que o sargento do corpo de bombeiros ligou avisando que tinha acontecido um acidente com o carro em que seus pais estavam vindo para o Rio. Suzana tentou arrancar mais informações da amiga, mas não conseguiu. Quando chegaram ao hospital, informações divergentes pipocaram de todos os lados. Suzana ficou sabendo que a sobrinha estava bem e em observação, mas as notícias sobre a irmã eram subjetivas. Ninguém dizia nada de concreto e apenas informaram que ela estava em cirurgia. Quando perguntou sobre os seus pais, eles disseram que alguém iria aparecer para falar com ela. O desespero, junto com a falta de informação, a descontrolou, mas com a ajuda dos amigos, Íris tentou se manter equilibrada.

— Calma, amiga, quanto mais nervosa você ficar será pior.

— Preciso saber como meus pais estão, Pri, ninguém me diz nada. — Quando terminou de falar isso, um médico se aproximou e perguntou quem eram os parentes de Antônio e Madalena Guimarães. — Sou filha deles. — A voz de Suzana saiu trêmula

— A senhorita não quer se sentar?

— Não! — Gritou, começando a entrar em desespero com a voz delicada do médico e a maneira que trocou olhares com os seus amigos. — O que aconteceu com os meus pais?

— Bem... O acidente foi grave, senhorita, e nós fizemos de tudo, mas... — Antes que ele terminasse de falar, Suzana se virou e abraçou seu próprio corpo

Era nítido o que estava acontecendo ali.

Os seus pais se foram, eles não estavam mais com ela. Isso não poderia ser verdade, certamente era um pesadelo. Perdeu anos de sua vida ao lado de um cretino e agora seus pais não estariam ao seu lado. Ela não merecia tanta desgraça assim, na verdade, ninguém merecia passar por tanta dor de uma só vez.

— Suzana... — Ela sentiu as mãos do Pablo a segurando. — Estamos aqui com você, não está sozinha. — As palavras dele lhe deram força, e ela fechou os olhos para se controlar.

Perdeu toda a sua referência de vida, mas ao menos ainda tinha verdadeiros amigos ao seu lado. E agora precisaria zelar por eles ainda mais. Se não fosse por eles ao seu lado, estaria sozinha no mundo.

— E a minha irmã? Como ela está?

— Ela também não resistiu, levamos para a sala de cirurgia, mas ela teve uma parada cardíaca irreversível. Lamento, mas só a sua sobrinha sobreviveu, ela está bem e teve apenas alguns arranhões, a cadeirinha a protegeu do impacto.

Agora o mundo de Suzana desabou completamente.

Ela perdeu a casa, o emprego, seu casamento de mentira e agora a sua família.

O que seria dela agora?

Como iria conseguir viver depois de todas essas tragédias?

Suzana começou a pensar que não teria forças para enfrentar tanta dor, não sabia como conseguiria seguir em frente depois de todas essas pancadas da vida.

Sem saber o que falar, ela deixou que os seus amigos a acomodassem em uma cadeira. Não tinha reação para fazer nada, nem lágrimas conseguia derramar. A dor que sentia era imensurável, nunca imaginou que viveria um momento tão duro quanto esse. Não sabia onde havia errado para ter um castigo tão grande de Deus, mas certamente ele estava dando um fardo que ela nunca seria capaz de carregar.

[...]

Suzana nunca imaginou que um dia enterraria a sua família. A dor que sentiu quando viu os corpos das três pessoas que eram seu mundo foi irreal. Não sabia como suportaria viver de agora em diante.

O dia do enterro foi o mais difícil da vida dela, e se não fosse seus amigos a sustentando, ela não teria conseguido sair de casa. A dor dilacerante que rasgava o seu peito só lhe dava forças para chorar. Nenhum pensamento lógico passava pela sua cabeça em meio a tanto desespero. No fundo, Suzana só queria acordar e perceber que teve um pesadelo dos grandes e que sua vida continuava normal.

— Amiga, você precisa comer alguma coisa, não pode ficar em jejum tanto tempo.

— Não tenho fome. – Só em pensar em comida, o seu estômago revirava.

— Mas você vai comer essa sopinha, foi a minha vizinha quem fez. A dona Fátima faz comidas maravilhosas, e você vai gostar. A sua sobrinha comeu tudo o que ela colocou em seu prato, e adorou. Agora ela está dormindo na casa da minha vizinha, você tem que ver o carinho que ela está tratando a Sofia. Está toda feliz em ter a pequena na sua casa.

Essa notícia animou um pouco Suzana, e ela saiu do seu torpor para pegar o prato que a amiga tinha nas mãos.

Graças a Deus Priscila tem essa vizinha tão abençoada, que imediatamente prestou solidariedade quando soube da história dela. Desde o momento que sua sobrinha saiu do hospital, Fátima tomou conta da menina e deixou Suzana livre para tomar todas as providências do enterro da família.

A ajuda dos seus amigos foi fundamental. Eles conseguiram doações com familiares e amigos para ajudar Suzana a pagar o enterro. Depois do roubo que sofreu por parte do ex-marido, ela não tinha condições de arcar com o sepultamento dos pais e da irmã.

Assim que experimentou a sopa, percebeu que realmente estava boa, por isso Sofia comeu bem. Sua pequena sobrinha estava reagindo muito bem ao trauma do acidente. Apesar dos médicos alertarem que ela poderia ficar agitada por um tempo, a pequena estava surpreendendo a todos e se comportando como uma pequena guerreira. Claro que o carinho que recebeu de dona Fátima foi essencial; desde que a tragédia aconteceu, ela cobriu Sofia de carinho.

— Está gostando?

— Claro que sim, realmente está gostosa, Pri. – Se fosse em outro contexto, Suzana apreciaria muito essa refeição

— Eu tenho que ir trabalhar, amiga, mas se precisar de algo, chame a dona Fátima. Ela costuma dormir tarde, vendo séries, pois tem insônia e a televisão é sua companheira.

— Não se preocupe comigo, eu vou ficar bem.

— Eu sei que não vai, amiga, mas admiro a sua coragem. – Priscila sorriu, tentando animar a amiga, mas sabia que a sua tristeza não passaria tão cedo. – Se algo inusitado acontecer, ligue para o Pablo, não posso ficar

com o celular o tempo todo no serviço, mas juro que sempre vou tentar espiar para ver se precisou de mim.

— Fique tranquila, nada irá acontecer, eu vou ficar bem.

— Espero que sim. – Ela sorriu para sua amiga, se despedindo e indo embora

Suzana observou Priscila sair e pensou em todas as mudanças que a vida lhe deu. Há uma semana, tudo era normal, mas agora estava sem dinheiro, sem família e com uma criança para sustentar.

Como iria sobreviver?

Precisava encontrar uma solução para se sustentar e não sobrecarregar seus amigos. Não poderia passar seus dias na cama, chorando por ser uma desafortunada da vida.

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