Capítulo 2

A noite, não conseguia dormir. Minha mente estava ansiosa com o que estava por vir. Nunca fui boa atriz, muito pelo contrário, era péssima com mentiras. Jamais seria uma boa advogada defendendo bandidos e me assustava com a facilidade que alguns advogados tinham para inventar mentiras num tribunal... Como meu ex namorado. A causa de eu estar no fundo do poço a ponto de aceitar uma ideia maluca da Alison.

Pensar nele, me fez voltar meses atrás, quando eu pensava que tinha pego o caso que consolidaria minha carreira e poderia, finalmente conseguir um cargo superior. O Sr. Colleman foi enfático, eu coordenaria o caso e representaria frente ao tribunal ao lado de seu filho Daniel, o meu ex-namorado. Sr. Colleman não gostava de nos colocar no mesmo caso juntos, mas como era um caso importante Daniel insistiu em participar. Mas tudo começou numa reunião, quando Daniel decidiu passar por cima de mim.

— Alyssa, estive pensando, acho melhor você ficar com a papelada. Eu e Diogo representaremos Rosevelt no tribunal. — disse Daniel, cortando a minha fala quando o eu explicava o caso.

— Seu pai foi bem claro, Dan, eu vou representar. Não acredita em mim? — eu sabia que não, mas queria ouvi-lo dizer.

— Claro que sim, mas esse é um caso para homens, Alyssa. E já que conhece bem o caso, fique com a documentação. — ele sorria calmamente, antigamente aquele sorriso me fazia ceder, mas as coisas haviam mudado há muito tempo. Olhei para Diogo e esse sorria, com uma caneta na boca, se divertindo com a situação.

— Não! Não vou perder essa chance. Além disso, foi uma ordem do seu pai, não sua! — falei firme, mas Daniel manteve a expressão calma, sabendo que sempre conseguia o que queria.

— Você tocou num ponto interessante, meu pai, dono dessa empresa e que contratou você porque é minha namorada. — ele se inclinou para perto de mim. — Não me desafie, Alyssa, posso fazer você desaparecer dessa empresa.

— Tente! O único que está aqui por misericórdia é você, consegui esta vaga por mérito e pode ter certeza que seu pai vai me manter aqui. — alterei o tom de voz e me levantei enquanto falava, Diogo soltou um riso abafado e Daniel se reclinou na cadeira. — Agora se me dão licença, tenho que me preparar para o julgamento amanhã.

Saí da sala de reuniões a passos largos e com os nervos à flor da pele, mas fui parada por Daniel, que segurou meu braço me fazendo parar no meio do escritório. Olhei para ele, com tanto ódio, que era quase palpável. Foram quatro anos sendo chantageada, manipulada e traída. Não podia perder também a carreira que tanto lutei para conquistar. Era hora de dar um basta.

— Com quem pensa que está falando? — perguntou entredentes, tentando evitar chamar atenção.

— Chega Daniel! Chega das suas chantagens e manipulações. Eu cansei de ser seu fantoche! — quase gritei, atraindo a atenção de metade do pessoal do escritório. — Acabou!...

Aquelas palavras saíram como um torpedo e foi um alívio pronunciar elas em voz alta. Havia muito tempo que queria dize-las, mas antes que eu pudesse continuar e terminar de dizer tudo que precisava, ele pegou meu braço e me arrastou para uma parte afastada do escritório. Seu aperto era tão forte que estava me machucando.

— O que eu já te falei sobre fazer escândalos? — a voz alterada e as sobrancelhas arqueadas mostravam que eu consegui deixá-lo bem irritado.

— Não ligo para o que você disse! — antes que eu percebesse, ou pudesse reagir, ele acertou meu rosto com um tapa. A região logo ficou dolorida e começou a arder, coloquei a mão na parte acertada para tentar aliviar a dor.

— Eu vou destruir a sua vida Alyssa! — esbravejou próximo a mim, me encolhi na parede, fechando os olhos com força, temendo outro tapa ou algo pior.

— Se chegar perto de mim outra vez, vou ligar para a polícia — falei sentindo uma lágrima escapar. — e pode ter certeza que quem vai perder vai ser você. Eu cansei de ceder às suas ameaças.

Ele deu uma risada amarga e forçada.

— Duvido que consiga. Quem é você, Alyssa Keen? Nada além de uma pobre coitada! — murmurou se aproximando de mim.

— Já chega! — a voz mais velha e irritada do Sr. Colleman ecoou por meus ouvidos, afastando o zumbido e a presença sufocante de Daniel. — Pensei que eu fosse claro quanto a discussões no escritório!

— Sinto muito por isso, Sr. Colleman, mas Daniel quer eu deixe de representar Rosevelt no tribunal e fique apenas com a papelada. — falei com a voz fraca e a garganta seca, tentando ajustar com as mãos trêmulas o blazer que eu usava. O mais velho se virou para Daniel, com pena no olhar, por um momento pensei que ele fosse me defender e dizer algo sobre as agressões que eu sofri. Sozinha eu não teria voz, com ele seria diferente, mas seu semblante se tornou sério novamente e ele respondeu apenas:

— O caso é de Alyssa e como não sabe se comportar, ficará de fora. Agora voltem aos seus trabalhos! — ele se retirou primeiro, seguido por Daniel, que antes de sair me lançou um olhar feral.

Sozinha no caso Rosevelt, passei a tarde toda trabalhando e terminei em casa, tarde da noite. Cai no sono perto de finalizar a revisão, acordei tendo a sensação de ter ouvido a porta se fechar, mas não havia ninguém. O notebook ainda estava ligado e aproveitei para terminar a revisão antes de finalmente ir dormir.

No dia seguinte, assim que a juíza olhou para o documento, torceu o nariz e olhou para mim. Aquele foi o fim da minha carreira. Tive que ouvir um sermão do Sr. Colleman antes da temida frase "está demitida" sair de seu lábios. Todo o escritório me assistiu pegar minhas coisas e sair. Daniel, me olhava com um sorriso vitorioso e então me lembrei: ele tinha uma cópia da chave do meu apartamento.

As lembranças eram tão dolorosas que meu rosto já estava molhado pelas lágrimas. Não dava para tentar por a culpa em algo, Daniel tinha a chave, mas eu estava tão esgotada que poderia ter deixado aquele erro passar. E o que me restou era cometer um crime para sobreviver, que fase!

Cobri meu rosto com o travesseiro abafando um grito angustiado que se instalava na garganta toda vez que eu me lembrava do que aconteceu. A única coisa que eu podia dizer com certeza que não havia me arrependido, era de ter terminado definitivamente com Daniel. Ele nunca mais me procurou, um alívio, foram quatro anos sendo humilhada, chantageada, manipulada, traída, depreciada... Uma pena que me livrar dele me custou a carreira.

Tudo que eu queria era recomeçar minha vida e a proposta da Alison não era a melhor forma de fazer isso, mas se tornou o único caminho, conhecendo minha irmã, ela jamais me ajudaria sem pedir algo em troca. Até que ela estava sendo justa.

Não sei em que momento aconteceu, mas finalmente dormi. Um sono pesado e turbulento, onde eu parecia estar sendo arrastada por uma correnteza, como se quisesse me avisar que algo estava prestes a mudar.

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