AIYANAA multidão começou a se dispersar, mas eu não conseguia me mover. O ar ao redor da fogueira parecia espesso demais, como se me envolvesse em fumaça e incerteza. O calor era sufocante. As vozes, mesmo baixas, zuniam nos meus ouvidos.Precisei sair dali.Me afastei em silêncio, contornando as árvores, ignorando os olhares, a presença de Icarus me seguindo como um calor nas costas, a de Maxim... como uma corda puxando meu peito.Quando achei que finalmente teria um momento para respirar, ouvi passos atrás de mim.— Aiyana.A voz dele me alcançou como um sussurro grave. Max.Não me virei de imediato. Meu coração já batia rápido demais, confuso demais. Mas quando me virei… ele estava lá. Ferido, com a expressão marcada por algo entre culpa e hesitação. Os olhos verdes, que tantas vezes me invadiram os sonhos, agora me fitavam como se esperassem perdão.— Eu só queria saber se você está… — ele começou.Mas não terminou.— Max, aí está você!Isabela surgiu do nada, como uma tempestade
AIYANAA floresta sempre soube me acolher quando ninguém mais soube.As folhas, nunca julgam o peso dos meus passos. Os galhos altos não tentam me dobrar. Aqui, posso respirar sem sentir que devo alguma coisa a alguém.Corri sem rumo quando saí da casa. Fugi pela janela como uma adolescente rebelde, tropeçando nas botas mal calçadas e no orgulho ferido. O ar frio grudava no meu rosto como gelo, mas não me importei. Minha respiração saía em nuvens brancas e apressadas enquanto atravessava a neve.Nessa manhã, a neve chegava até quase meus joelhos em alguns pontos, e a floresta parecia um lugar saído de um sonho antigo. Galhos cobertos de branco arqueavam sobre mim como braços curvados, e o silêncio era espesso, cortado apenas pelo som dos meus passos.Quando cheguei ao lago, me sentei numa pedra quase escondida sob uma crost
AIYANAA lua não brilha hoje.E talvez seja por isso que eu esteja à beira de gritar.Percorro o quarto em círculos, como uma loba enjaulada, com os dedos batendo ritmicamente contra a lateral da coxa coberta por couro. O som é abafado, mas não o suficiente para me impedir de ouvir os sussurros que atravessam minha janela."A chama vai corrigir o erro.""A bruxa será desmascarada.""O Alfa vai ter sua verdadeira companheira."Eu cerro os punhos. As palavras queimam como se fossem brasas jogadas sobre minha pele. Não importa o quanto eu negue, grite, prove. Eles já decidiram quem eu sou.
AIYANASeus olhos âmbar estavam cravados em mim.Mas dessa vez… havia algo a mais ali.Algo que tremia na mesma frequência que a minha alma.A clareira parecia conter a respiração. As chamas ainda tremeluziam em verde, incandescentes como se a própria floresta queimasse com elas.Ao nosso redor, os murmúrios começaram. Baixos. Apressados. Crescendo como uma tempestade de vozes que não se continham mais.— Ela não é a parceira do nosso alfa...— Ele é um forasteiro!—
AIYANAAs mãos dela estavam cravadas no braço dele, como garras tentando impedir o inevitável.— Você prometeu, Max! Você me prometeu! — seus olhos estavam cheios de lágrimas, borrando toda a maquiagem que ela usava. — Você disse que ia se casar comigo! Que ia ser eu!Scott se aproximou lentamente, sem dizer nada dessa vez, apenas observando.Eu podia dizer, pela forma que ele olhava para o filho, que estava decepcionado e preocupado.Max continuava imóvel.A mandíbula cerrada, os olhos fixos no chão, como se cada palavra de Isabela lhe causasse vergonha.
AIYANAO céu rugia em cinzas. O cheiro de sangue fresco e fumaça queimava minhas narinas.—Ela estava perto do celeiro! —gritei, correndo ao lado de Icarus. A grama molhada grudava nas solas das minhas botas, a terra marcada pelas patas dos inimigos que invadiram nossa casa.Icarus assentiu com um grunhido e acelerou o passo.Minha avó. A única família de verdade que me restava. Precisávamos encontrá-la.Mas meu coração não obedecia a lógica. Meu corpo corria para um lado, enquanto minha alma ficava presa a outro, a ele.Virei a cabeça.E lá estava ele.<
AIYANAA água do rio corria fria sob meus pés quando finalmente nos ajoelhamos à margem. A floresta ao redor parecia prender o fôlego, como se soubesse que ainda era cedo para baixar a guarda.Com cuidado, sentei minha avó em uma pedra coberta de musgo. Ela arfava baixo, o rosto tenso, mas ainda lúcido. Abaixei-me diante dela e mergulhei um pano na correnteza gelada, limpando o sangue seco ao redor do ferimento no ombro.—Vai arder um pouco, vó. —avisei.Ela assentiu, firme, como sempre foi. Eu me lembrava de quando ela me ensinava a identificar ervas, a ler o céu antes das chuvas, a ouvir o mato antes que a alcateia notasse qualquer coisa. Agora, era a minha vez de cuidar.
AIYANAAlyssa recuou, os olhos vermelhos e a respiração falha. Eu a segurei pelos ombros, confusa com o tremor que percorria seu corpo.—Alyssa...?—Meu pai —ela sussurrou, a voz quebrada, como se cada palavra lhe cortasse por dentro — Ele... ele não conseguiu sair. Ele ficou para trás.As lágrimas escorreram antes mesmo que ela terminasse a frase.Eu a puxei para perto, envolvendo-a em um abraço apertado, enquanto ela chorava contra meu ombro.Max se aproximou então, a voz baixa, mas firme, como se segurasse o mundo inteiro nas costas.—Poucos sobreviveram.