⊶ 06 ⊷

It won't be easy, you'll think it strange (Não será fácil, você achará estranho)

When I try to explain how I feel (Enquanto eu tento explicar como sinto)

That I still need your love after all that I've done... (Que ainda preciso do seu amor depois de tudo que fiz)

Os dois professores de música se olharam surpreendidos e espiaram no outro corredor. Um garoto de estrutura média estava ali, segurando um celular no ouvido, úmidos olhos azuis observando a luz do sol no jardim aberto, e aquela voz — aquela impossível voz! — vinha dele.

Ele estava cantando uma música de Evita no telefone.

I had to let it happen, I had to change… (Tive que deixar acontecer, tive que mudar...)

Couldn't stay all my life down at heel… (Não podia continuar toda a minha vida debaixo do salto)

Looking out of the window, staying out of the sun… (Olhando para fora da janela, permanecendo longe do sol)

Stella permaneceu olhando, fascinada, vagamente perguntando-se se essa era uma daquelas aparições sobre as quais Duarte Hazel vivia comentando. Gael abaixou os olhos para o arquivo do aluno nas suas mãos, e então de volta para o garoto. Imediatamente, ele começou a sorrir e virou no corredor.

— Você é Klaus Henke?

Klaus quase pulou um metro no ar, abruptamente parando no meio de um verso, virando-se para a profunda voz que repentinamente chamava seu nome. Um professor estava ali, sorrindo bondosamente de um jeito imponente.

— Klaus? — chamou Marlene no celular, preocupada. — O que aconteceu?

Afobado, Klaus gaguejou para o professor:

— Sim... Eu sou... Eu sou Klaus Henke.

— Klaus, com quem você está falando? — demandou a voz de Rute no telefone.

O professor levantou as mãos como se para mostrar para Klaus que estava tudo bem. Cada movimento dele era quieto e calculado. Ele disse claramente, para o benefício dos que estavam escutando:

— Sr. Henke, acho que essa música ficaria ainda melhor com algum acompanhamento musical. Você se uniria e mim e a sra. Martini no Saguão, para que ela possa tocar o piano para você? — Ele indicou o celular. — Tenho certeza que quem quer que esteja te ouvindo apreciaria ainda mais assim.

Klaus manteve-se com os olhos arregalados, aturdido por essa completamente inesperada reação. Ele olhou para o celular e então de volta para o professor sorridente. Parada um pouco mais longe estava uma senhora vestida elegantemente — aquela saia tinha que ser uma Valentino, disse a parte do seu cérebro separada para moda — e ela também estava sorrindo.

— Diga sim, Klaus — ajudou Brenda prestativamente, provavelmente sem ter ideia do que estava acontecendo.

Klaus engoliu em seco e assentiu.

— Cla-Claro. Gente... me deem um segundo...

— Ah, cara, mal posso esperar para ver a cara dele quando ele ver! — exclamou Dimitri enquanto ele e os outros Hall’s Babbler corriam corredor abaixo, em direção ao Saguão. — Tem que ser um recorde, até para vocês.

— Não há nada que os garotos de Bourbon não consigam fazer para um de seus membros. — Wen sorriu, correndo ao lado dele. — Bom, para um de seus futuros membros. Mas que o crédito esteja com quem merece... — Ele olhou para os gêmeos. — Eu não tinha ideia que a gente tinha tudo aqui em Bourbon.

— Não eram exatamente nossos. — Eliel sorriu. — Pode ter sido do ano passado...

— Ou do anterior... — considerou Elói.

— Ou pode ser tudo antiguidades. — Elói deu de ombros.

— Mas dizem que há charme em antiguidades!

— Definitivamente.

— Se Duarte ouvir que vocês dois pegaram coisas do estoque "assombrado" no ático, ele vai mutilar e exorcizar vocês dois — replicou Brayan — e eu nem quero imaginar em que ordem ele faria.

— Ei, olhem. — Dimitri fez os outros garotos pararem, apontando para o final do corredor. — O que está acontecendo?

Havia uma pequena multidão de Hall’s Babbler na entrada do Saguão, sem exatamente entrar. Eles estavam todos apertando-se nas portas ligeiramente abertas, ouvindo intensamente e não fazendo nenhum som. Eles mal notaram quando os outros Hall’s Babbler se aproximaram.

— O que está acontecendo? — perguntou Brayan quando eles chegaram, e, em união, todos os garotos ouvindo sibilaram ou ergueram suas mãos para ele no gesto universal de "Cale a boca!".

— O que foi? — sussurrou Wen, olhando para eles incredulamente.

— Shh... — disse Elói, erguendo-se para olhar.

— Escutem... — Eliel, sendo consideravelmente alto, conseguia se erguer mais alto para olhar.

So I chose freedom... (Então eu escolhi liberdade...)

Running around, trying everything new (Correndo por aí, tentando tudo novo)

But nothing impressed me at all… (Mas nada chegou a me impressionar...)

I never expected it to… (Eu nunca esperei por isso...)

Música vinha do saguão, o som de acompanhamento musical para uma música que eles nunca tinham imaginado que seria tocada em uma sala de um coral só de garotos, já que nenhum deles conseguiria cantá-la. E ainda assim, conforme a música continuava, uma voz ergueu-se dentro da sala, preenchendo-a com notas elevadas e ecoando porta afora, fazendo todos permanecerem transfixados.

Don't cry for me Argentina… (Não chore por mim, Argentina...)

The truth is I never left you (A verdade é que eu nunca a deixei)

All through my wild days, my mad existence (Pelos meus dias selvagens, minha insana existência)

I kept my promise… (Eu mantive minha promessa...)

Don't keep your distance… (Não se mantenha distante...)

— Quem diabos é esse? — sibilou Wen, arregalando os olhos.

— Não sabemos — murmurou um dos outros Hall’s Babbler. — Quando chegamos aqui, Hideki e Martini já estavam lá dentro com ele.

— Tem um cara ali dentro? — perguntou Dimitri, horrorizado.

— Hmm... — Elói, na ponta dos pés, concordou de onde ele estava espiando dentro da sala. — Sim, eu consigo ver o blazer.

They are illusions… (São ilusões...)

They are not the solutions they promised to be (Não são as soluções que prometeram ser)

The answer was here all the time (A resposta estava aqui o tempo todo)

I love you and hope you love me (Eu te amo e espero que você me ame)

Don't cry for me Argentina… (Não chore por mim, Argentina...)

Conforme a música e a voz impressionavam ainda mais, Brayan ergueu-se em repentina realização, os olhos arregalando-se e caminhando para longe da porta como se tivesse sido atingido.

— Peraí, eu acho... é aquele...?

— Gente! Gente! — sibilou Eliel, pulando para cima e para baixo na ponta dos pés, descontrolado com animação. — É Alice! Alice está cantando ali!

— Eu pensei que você tinha dito que era um cara? Quem diabos é Alice? — demandou outro Warbler.

— Não, não Alice — exclamou Brayan, abrindo caminho entre os outros para conseguir olhar melhor. — Klaus! É Klaus Henke cantando ali.

— Nem vem! O novato? — Os garotos se apertaram ainda mais contra a porta, seu peso abrindo-a um pouco mais.

Gael, de onde permanecia do lado de dentro, assistia completamente divertido à porta abrir-se cada vez mais conforme os garotos a empurravam. Quando a cabeça de Dimitri apareceu dentro da sala, ele se inclinou em direção a multidão e disse calmamente:

— Vocês garotos gostariam de entrar?

Os Hall’s Babbler olharam surpresos para o diretor de coral, que sorria abertamente para eles. Embaraçado, o grupo se ajeitou, arrumando os blazers e fingindo compostura. Eles cuidadosamente abriram a porta, entrando e se espalhando pela sala.

No fundo da sala, Stella tocava o piano, quase incapaz de parar de sorrir enquanto Klaus, suas costas viradas para os garotos, continuava a cantar. Ele parecia feliz por receber o óbvio louvor silencioso dela, e estava cantando com tudo que tinha, obtuso aos olhos que o assistiam. Sobre o piano estava seu iPhone.

Quando a música lentamente acabou, uma explosão de aplauso alegre veio do iPhone.

— É isso aí, Klaus! Isso! Esse é o nosso garoto! — Gritos e assovios acompanhavam os aplausos do coral de Meliano.

Klaus riu em alívio e pura felicidade, algo que ele não tinha sentido em muito tempo. Era como se um grande peso tivesse sido tirado do seu peito. Ele pegou o seu celular e sorriu para ele.

— … obrigado, gente. E não se preocupem, eu me viro daqui.

Uma mistura de alegria e confusão agora saía do celular.

— Você foi incrível! Foi... Droga, gente, Samir está vindo! Droga! Rápido, escondam! Klaus, você foi ótimo! Pablo, saí daí! Corram! A gente te ama, Klaus! Te vemos nas Seccionais! Tchau! Tchau, Klaus!

— Tchau — riu-se Klaus, desligando. Ao fazê-lo, ele soltou um grande suspiro de alívio.

E o inteiro Saguão dos Hall’s Babbler explodiu em aplausos e vivas.

Klaus virou-se com enormes olhos para ver os Hall’s Babbler sorrindo e aplaudindo para ele.

— Isso aí! — gritou Dimitri, sorrindo. — Foi incrível!

— Eu não acredito que era você! — disse Wen, aplaudindo enquanto sacudia a cabeça em descrença. Os gêmeos estavam aplaudindo também, os atrasados que só tinham conseguido escutar o final da música batendo palmas atrás deles.

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